30.6.12

DIFERENÇA





A diferença é a única coisa que vale.
Por ser diferença é solitária e isolada perde sentido; só se vive comunitariamente.
O meu melhor amigo é o mais próximo e o mais distante dos rostos que eu amo.
A diferença é o que une.
Ela é como qualquer abertura. Marcando a diferença entre dois espaços, é o que permite a ligação entre eles.

Daniel Faria, O Livro do Joaquim
edições Quasi, V. Nova de Famalicão, 2007
Foto (C) J. Moedas Duarte

QUEM SEMEIA VENTOS...




http://www.jn.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=2639090

28.6.12

IMAGENS DO MEU OLHAR - Caminhos e veredas






Gosto de entrar pela manhã com uma pequena mochila às costas e experimentar caminhos e veredas pelos arredores de Torres Vedras. Desta vez fui para Nascente, para as encostas que ficam por trás do Bairro Vila Morena. O ponto de referência é o Moinho do Gaio. O guia foi o C.N., amigo de longa data e que por aqui anda muitas vezes.
Em duas horas andei cerca de 8 km, parando para tirar fotografias ou contemplar uma paisagem. E houve tempo para molhar os pés na Fonte dos Coxos, um caudal de água que sobra do lençol freático das Termas dos Cucos e corre para o Sizandro.





Diz-me o meu acompanhante que estas encostas eram todas cultivadas há cerca de 40 anos. Restam vestígios bem visíveis: muros de pedra, caminhos empedrados nas zonas de declive e ruínas de casas agrícolas.





O que se vê ao longe é Matacães. Há neblinas sobre Runa.









Lá está o glorioso Moinho do Gaio, o tal que, há uns anos atrás, um autarca mandou demolir porque "estava em ruínas e ameaçava a segurança pública" - uma das anedotas mais tristemente cómicas da nossa política local. De tal modo que a vereação restante, perante o clamor público, se viu obrigada a mandar construir um novo moinho, aquele que ali está...













O estradão foi descendo em direcção ao Rio Sizandro e à auto-estrada A8. Passámos debaixo dela e encontrámos a linha férrea do Oeste, um pouco antes dos três túneis. Vamos seguir pela vereda que leva às Termas dos Cucos.



Rio Sizandro! Duvido que aqui vivam peixes...





Azenha da Boiaca e represa de alimentação. Mais à frente está a Azenha do Cabaço, que ainda funcionava no início dos anos 80 do séc. XX. Dessa não tenho foto, é uma ruína entre silvas.





Vamos andando... A passarada cantava em volta, cheirava a erva e a carrasco.







Inesperadamente, um antigo forno de cal, coberto de vegetação. Passaria por ele sem o ver se o CN não me avisasse. Impressionante trabalho de pedra. Isto é Património!









Mais umas centenas de metros e chegamos às Termas dos Cucos.






Entre os Cucos e a cidade, o rio Sizandro corre entre margens consolidadas por betão, uma obra de regularização do rio que veio na sequência das catrastóficas cheias de 1983. Ali está a tal Fonte dos Coxos, vista de cima. Para a fotografar de frente eu teria de me meter dentro do rio... Livra!





Agora a vereda é estreita, por entre vegetação densa. Mais duzentos metros e avistamos a estação da CP. Estamos de novo na cidade. Já não me apeteceu tirar mais fotos...



24.6.12

LEITURAS NO PARQUE



Uma iniciativa muito bonita da Biblioteca Municipal de Torres Vedras juntamente com os Livreiros da cidade. Pouca gente? O costume, nesta cidade de distraídos...


Várias "Horas do Conto", com leitura à sombra das árvores do Parque



O cenário em que as cosas se passaram...


Escritor Luís Filipe Cristóvão fala do seu "Afonso e o Livro"

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Escritora Teresa Lopes Vieira

Escritora Tânia Ganho

*


Teolinda Gersão falou da sua obra, com destaque para o livro mais recente,
A Cidade de Ulisses

*


Clara Pinto Correia a propósito da reedição do seu Adeus Princesa 

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Em jeito de balanço: a divulgação terá sido deficiente mas a população de Torres Vedras é relapsa quanto à indiferença pela Literatura. Ando nisto há muitos anos, trouxe cá grandes escritores portugueses e o máximo que vi foi assistências excepcionais de 20 / 30 pessoas.
Interrogo-me muitas vezes: por onde andam as dezenas de professores de Língua Portuguesa das duas Escolas Secundárias e das duas do Ensino Básico? E os professores de outras áreas humanísticas? Para já não falar nos outros todos, a quem só faria bem lerem mais e participarem nas actividades culturais. Deve haver mais de 300 professores só das escolas da cidade...
E - perdoem o elitismo, mas quem mais estudou mais responsabilidades tem - onde os engenheiros? os advogados?  os médicos?  os arquitectos? 

De qualquer modo há que emendar alguns processos. Sugiro que os encontros com escritores se façam no espaço do Bar Saborear. É lá que estão as pessoas. Se elas ficarem incomodadas, que se levantem e se retirem, mas não acredito que o façam. 
Sugiro também que em vez do Sábado e Domingo se faça numa Sexta e Sábado, em tempo de aulas, sendo que na Sexta a acção privilegie uma Escola Secundária.

De qualquer modo deixo aqui o meu reconhecimento à equipa da Biblioteca Municipal e aos Livreiros de Torres Vedras que, já em tempo de Verão,  ousaram enfrentar a indiferença dos gentios...
Observação: estiveram presentes outros escritores mas não assisti às suas sessões. Não se pode ir a tudo e este blogue é um espaço pessoal...

23.6.12

O MITO BÍBLICO


O treinador da Grécia bem falou em David e Golias, esperando a reedição da história bíblica.
Afinal a lança entrou pela balisa dentro quatro vezes e a pobre funda de David só fez dois galos na testa do gigantão.

Pessoalmente não gostava que nenhum deles ganhasse. Embora seja apenas futebol, a Alemanha porque é demasiado conotada com a Merckl; a Grécia porque tem aquele jogo manhoso que já custou duas derrotas constrangedoras à nossa selecção nacional.

No fundo, o que eu gostava de dizer está nesta bela crónica do Ricardo Araújo Pereira:


CONTRA OS CANHÕES REMATAR REMATAR

Ricardo Araújo Pereira
VISÃO, 21 Junho 2012


Gosto de ver um daqueles jogos de futebol em que o objectivo é marcar mais golos do que o adversário, mas estes em que os joga­dores lutam pelo prestígio de Portugal junto dos mercados financei­ros também são interessantes. Várias fi­guras, anónimas e conhecidas, têm dado o seu apoio à nova modalidade e pedido aos jogadores que endireitem a economia na transformação de livres directos, ou que resolvam o problema do desemprego ao pontapé. Tendo em conta que o governo também tem tratado o desemprego com os pés, não se pode dizer que o pedido seja inovador, ao menos no que ao método diz respeito, mas há que ter esperança.
O campeonato da Europa de mudança da opinião que os estrangeiros têm sobre Portugal começou mal. No primeiro jogo, a imagem do país lá fora foi ao poste antes do intervalo, e, na segunda parte, o futuro dos nossos filhos foi à barra. Antes disso, o guarda-redes alemão já tinha socado para trás o orgulho que os portugueses sentem no seu país. Um português que acompanhava o jogo pela televisão, e não sabia onde tinha posto os óculos, chegou a pensar que a bola tinha entrado na baliza alemã e começou a sentir orgulho em Por­tugal, mas depois percebeu que afinal era canto e voltou a ter vontade de emigrar.
No entanto, duas vitórias nos dois jogos seguintes fizeram com que a Europa nos olhasse com outros olhos. Há mais respeito, agora. Um português passeia nas ruas de qualquer cidade europeia e sente a admiração de toda a gente. O ministro das Finanças alemão terá telefonado a Angela Merkel para lhe dizer que, uma vez que a nossa selecção tinha sido capaz de bater a Dinamarca por 3-2, talvez as medidas de austeridade pudessem ser um pouco menos duras. Desempregados que já tinham as malas feitas para emigrar voltaram a pendurar a roupa no cabide e desataram a projec­tar micro, pequenas e médias empresas.
E infalível: selecção que faça brilharetes nos campeonatos internacionais obtém o respeito do resto do mundo. Repare-se no exemplo da Grécia: venceu o campeonato da Europa em 2004 e, hoje, o seu povo é tido na mais alta consideração. Os gregos mostraram que eram um povo honesto, corajoso e tra­balhador, e qualquer pequeno problema que eventualmente possa haver com as finanças do país é desvalorizado quando os responsáveis da União Europeia e do FMI recordam o que Zagorakis e seus pares fizeram, há oito anos, em Portugal.
Os próprios espanhóis, que são campe­ões da Europa e do Mundo, têm um quarto da população no desemprego, mas esses são desempregados que podem comer um bocadinho do orgulho que foram ganhan­do naqueles campeonatos, e dar aos filhos a alegria de viver num país cuja selecção de futebol vence bastantes jogos. 

20.6.12

DISTÂNCIAS







Teatro-Cine de Torres Vedras, 2012 


embora longe
o olhar intimida
vida zangada
com a nossa indiferença

afasto-me
mas paro ainda

à espera de um chamamento


Texto e fotos (C) J Moedas Duarte

18.6.12

INDAGAÇÃO

Portal da Igreja da Misericórdia - Alpedrinha


Procuro o poema
uma faísca
etérea e mineral
luz
que alguém acende
quando a noite principia

Palavras e foto(C)J Moedas Duarte

15.6.12

IMAGENS DO MEU OLHAR - Cerejas






É rica em vitaminas A,B e C, cálcio e fósforo. Mas quem pensa nisso quando se olham tão de perto?
O que nos deslumbra é a textura, a cor e o sabor. Vi-as ontem, na aldeia de Donas, Fundão, de onde trouxe uma carrada delas. Degustamo-las devagar e de olhos em alvo... e lembrando o trabalho de quem as apanhou, cesta no braço, no chão ou em cima de escadas, ao sol bem quente da Cova da Beira... e de quem as escolheu, encaixotou e carregou para transporte.








Na carne vegetal
cravo os dentes
e deixo escorrer o sangue
que a polpa encerra

Cerejas como as conversas
minha sede amansada
sol transformado
em sumo da terra




Texto e fotos: J Moedas Duarte