24.7.13

SAUDADES?




A minha (natural? lamentável?) presunção admite que haja quem tenha saudades deste convívio bloguista.
Então... podem passar pelo LUGAR ONDE. Lá estarei de vez em quando...

21.7.13

ATÉ !...



Este blogue vai ficar suspenso por uns tempos.
Aos amigos que por aqui têm passado regularmente: OBRIGADO pelas vossas visitas! 
Até qualquer dia!

PARA TI


Castelo de Vide, 2012


Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

(...) 

Mia Couto

AGONIA


Turner: Paestrum na tempestade

«Que é o Universo senão uma doença de Deus a manifestar-se materialmente? As estrelas são hemoptises, e os mundos tumores malignos. Deus está condenado à morte, mas não acaba de morrer. É eterna a sua agonia.»

Teixeira de Pascoaes, O Penitente (Camilo Castelo Branco), Assírio e Alvim, 2002.

19.7.13

O GRANDE TEATRO







"Enquanto a Europa não acordar para os problemas internos relacionados com o Euro vamos andar a definhar até colapsar. Não é possível ter uma moeda única sem politica e económica e monetária comum. Ou se assume os problemas de alguns como um todo ou então o euro tem os dias contados."


Copio este pequeno comentário que encontrei por aí numa notícia avulsa porque me parece que ele vai ao essencial: o problema do Euro como moeda única.

Sem políticas económicas e fiscais únicas não há saída. O caso anedótico - mas revoltante - de grandes empresas portuguesas a pagarem impostos na Holanda é um indício  fulgurante desta evidência.

É por isso que a chamada "crise política portuguesa" nos parece tão estranha ou mesmo estúpida. Os actores políticos aparecem aos nossos olhos como mentecaptos. O PR a propor "salvação nacional" e entendimento aos Partidos como se a divergência e a oposição não fossem da própria natureza da existência de Partidos. No limite, Salazar já havia encarnado esta "União Nacional" em nome da salvação da Pátria.

Amanhã iremos assistir ao jogo do "passa-culpas" por causa do insucesso das negociações e, mais uma vez, estaremos contra esses ineptos que "não sabem pôr o interesse nacional acima dos seus interesses".

Salvo melhor opinião, acho que este é um jogo viciado. Ou um teatro em que se pede aos actores que representem uma peça sem que conheçam o texto. "Olhem! Improvisem! Façam o que vos parecer melhor!..." Mas, às escondidas, os actores principais são instruídos para que digam e façam o que os autores na sombra entendem melhor para os seus interesses.

E é assim que os actores políticos se movimentam no palco. E nós, sem percebermos o guião... É um teatro simultaneamente cómico e trágico. Chamamos "Palhaços" aos actores que lá andam e enfurecemo-nos com eles, ao mesmo tempo que as suas pantominas têm consequências trágicas nas nossas vidas. 






Os autores e o verdadeiro guião desta peça estão noutro lado. São os interesses financeiros, "os mercados". São as grandes empresas alemãs com seus burocratas de serviço. São os banqueiros. ( Em Portugal, os banqueiros são dos mais bem pagos da Europa...). Esses é que comandam as nossas vidas a partir de um palco que mantêm animado para nos entreterem. Para que, tal como os espectadores alienados, julguemos que o palco é a verdadeira vida, é "a realidade". Os actores que lá andam não passam disso: actores. Não mandam nada. Estão ao serviço de quem manda. E ganham com isso.

Porque é que não há uma política fiscal e monetária comuns?
Porque isso não interessa aos donos do teatro. A"crise" permite drenar milhões de euros do sector do trabalho para o do capital.


Isto faz-me lembrar a "alegoria da caverna", de Platão. Só vemos sombras, convencidos de que é a realidade. Como sair disto? Pela técnica de Bertolt Brecht: distanciação face ao que se passa no palco, tentando descobrir as engrenagens que suportam o enredo, não embarcando na ilusão de que estamos a ver coisas reais.

Será mais útil, portanto, tirarmos o som à televisão. Eles ficam por ali a andar e a gesticular, só para nos assegurarmos de quem são os actores em palco. E nós, sem nos distrairmos com o seu palavreado, teremos tempo para procurar e estudar o verdadeiro guião da peça.

15.7.13

LEITURAS


(Clicar para aumentar)

Parece-me evidente que a principal contradição política do nosso tempo é a que opõe o tempo político ao tempo económico. O primeiro vive ainda no séc. XIX, o segundo já vai pelo XXI adiante.
Usando os conceitos de Fernand Braudel para a leitura da História, podemos dizer que vivemos politicamente ao ritmo do tempo longo enquanto a economia acelera e vive em tempos cada vez mais curtos. Esta contradição mina a nossa vida actual. O cidadão comum tem uma consciência empírica deste desfasamento e sente-se desorientado. Os responsáveis políticos, por seu lado, sabem que é assim e adaptam-se individualmente - garantindo ganhos rápidos para si próprios - mas deixam à inércia do tempo longo a resolução da contradição.

10.7.13

ISTO SOU EU A DIVAGAR . . . NÃO SEI . . .


Ficámos a saber que todos os Partidos ouviram com muita atenção as palavras do Presidente da República - como se o normal fosse estarem desatentos...

Eu também estive muito atento e agora estou um bocado baralhado. O PR falou em "salvação nacional". Mas nestes dois anos de PPD/CDS toda a justificação política para a austeridade e consequente destruição da economia foi baseada na necessidade de salvação nacional. Ou não?

Eu estava a ouvir o PR e a lembrar-me do que Gaspar escreveu há pouco mais de uma semana, quando reconheceu o fracasso das políticas seguidas até agora, bem expresso nestas imagens:

Peso da dívida pública no PIB











A única coisa que parece ter corrido bem foram as exportações mas, mesmo essas, estão em desaceleração:



Infografias: Negócios online


As propostas do PR partem daqui, acho eu. Trata-se de, também ele, reconhecer o fracasso e tentar uma saída airosa.

Mas a situação já está demasiado fora do seu controlo político. Por isso tenho sérias dúvidas sobre a viabilidade de tais propostas.
Uma coisa parece certa e isso ouvi-o de Joaquim Aguiar: o que vai determinar as soluções futuras é a dívida colossal que terá de ser paga a partir de 2014. Disse ele: "Nessa altura pode dar-se a viragem de a dívida futura superar a dívida passada - e se isso acontecer é o descalabro."

Olho para os partidos da esquerda - os tais que nunca governaram - e gostaria de encontrar neles um sinal de futuro. Mas não encontro nada.
O PCP repete até à exaustão a necessidade de uma política patriótica e de esquerda e não sai disto. Quando procuro saber quais são essas linhas, encontro uma listagem enorme de medidas que só serão viáveis com uma injecção inimaginável de investimento. E nada encontro sobre a origem desses capitais.
Sendo certo que o PCP nunca poderia governar sozinho, pergunto-me qual a sua política de alianças e qual o programa de governo a negociar com possíveis aliados. Só encontro formulações abstractas, sem qualquer base concreta que tenha em conta o quadro político actual.
O BE vai mais longe quando se dispõe a ser governo. Mas com quem? E com que bases programáticas passíveis de serem negociadas com outros?

Portanto, pelo lado dos partidos da contestação nada podemos esperar. Eles acenam com as eleições na crença ou na fé de que o povo sofredor vai - finalmente! - acordar e votar massivamente neles. E andam nisto há 30 anos, com os resultados que conhecemos.

Volto-me para outro lado e vejo o PS a bater o pé pelas eleições, confiante no descontentamento e crente numa maioria absoluta. Vem agora, pela primeira vez, dizer que está disposto ao diálogo desde que o PCP e o BE não sejam marginalizados. Percebe-se: pisca o olho à esquerda mas prepara-se para mais uma traição, como sempre. Chegado ao poder, alia-se ao grande capital.

Quanto ao Governo PSD/CDS só espero que retire das palavras do PR a conclusão óbvia: demitir-se, já que o PR não quis envolver-se na negociata que foi o acordo Passos/Portas. Ou então, que se recolha à condição de Governo de Gestão e não faça mais porcarias...

8.7.13

O NOVO PATRIARCA DE LISBOA





Atenção: nada me move contra o meu conterrâneo Manuel Clemente, padre, homem da Cultura e do Património Cultural. Admiro-o e respeito-o desde que o conheci.

No entanto, ao ver a cerimónia de ontem nos Jerónimos, em directo para as televisões, estremeci. A igreja, repleta de convidados, aplaudiu de pé a chegada do primeiro-ministro e do presidente da República!


A que propósito? Como é que uma República constitucionalmente laica está presente através das suas principais figuras numa cerimónia de contornos exclusivamente religiosos? Em que o presidente e a mulher ficam em dois cadeirões destacados na frente? Custou-me ver Manuel Clemente ( persiste a tradição anacrónica dos "Dom" ) envolvido por tal protocolo serôdio...
Eles podiam lá ir, tinham todo  direito. Mas ... serem entronizados como símbolos de Poder numa cerimónia da Igreja? Acho que é mau para a Igreja e para o Poder. Já não estamos no séc. XVIII!





Faço votos para que Manuel Clemente seja o Patriarca dos pobres, dos deserdados, dos sem-abrigo, das mulheres vítimas de violência, das crianças famintas, filhas de famílias devastadas pelos desemprego - e resista à tentação de se refugiar no Paço Patriarcal.
Que siga o exemplo de quem o enviou, o Papa Francisco, que recusou as vestes imperiais pontifícias e todos os dias dá testemunho do Cristo da Galileia, incompatível com o Estado do Vaticano mais os seus funcionários vestidos de púrpura...





NADA É IRREVOGÁVEL DEBAIXO DO CÉU . . .


Mais do que a questão do "irrevogável", o que me intriga é a forma como P Coelho passa por cima da proporcionalidade partidária da coligação e entrega ao nano-partido CDS a melhor e mais grossa fatia do Governo. Como P Coelho não é totalmente burro, essa solução deve implicar muita coisa obscura e tenebrosa que só conheceremos daqui a 30 anos, quando esta malta escrever Memórias...
É muito natural que P Portas tenha atirado às malvas com a palavra "irrevogável". Desde Maquiavel que sabemos que a política não se faz com preceitos de Moral. E Portas é o mais inteligente leitor do "Príncipe" que temos. Nada de admirar, portanto...

Tb me faz confusão a apatia - que se torna cumplicidade - de muitas figuras do PSD que se diziam sociais-democratas. Mas depois logo a voz da razão me explica:

No fundo estão todos de acordo: o objectivo central deste Governo + Cavaco + oligarcas e banqueiros + autarcas carreiristas do PSD  é impor o 24 de Abril ou, se possível, o 28 de Maio, mantendo o simulacro da democracia que lhes dá caução internacional e embala o Zé Povinho que lá irá botar o voto sempre que lhe ordenarem...

7.7.13

CANALHICES E VELHACARIAS


PORQUE CHAMEI CANALHA A PASSOS COELHO E VELHACO A PAULO PORTAS?

P. Coelho meteu-se no PSD para apanhar boleia e chegar onde queria - ou o mandavam ir...
 Limpou o traseiro ao programa do PSD mas continua a usar a bandeira do PSD.
 A coisa chegou a tal ponto que os candidatos PSD's às autarquias escondem o emblema do partido num cantinho minúsculo dos cartazes, com medo de apanharem por tabela...

P Coelho mentiu descaradamente antes das eleições, jurando que nunca faria o que logo fez quando chegou ao poder.
Não hesita em se conluiar com Paulo Portas, contra a lógica da proporcionalidade partidária da coligação, o que  só se entende no quadro de um cambalacho político de que só eles conhecem o segredo.

Portas, depois de uma decisão "irrevogável" que tomou em consciência, volta atrás para agarrar no prato de lentilhas gordas que o outro lhe ofereceu - não se sabe a troco de quê mas imaginamos...

Agora esperam que o cúmplice - que ficou cá fora a vigiar a operação - use a magistratura sagrada da Presidência da República para dar cobertura institucional ao golpe.

Canalhices" Velhacarias! O país assiste, revoltado, incrédulo e cada vez mais impaciente.

Veja-se ainda:
http://aspirinab.com/valupi/adam-smith-esse-socialista/

http://ntpinto.wordpress.com/2013/07/05/paulo-portas-nao-me-rendo-ao-dr-cavaco-e-estou-me-nas-tintas-para-as-benesses-que-ele-me-pode-dar/


CONJURADOS, PRECISAM-SE!





Assistimos ontem à conclusão de mais um golpe de Estado realizado a frio e com a conivência do chefe do Governo.
Expliquem-me devagarinho (como fazia Gaspar...) como é que o CDS, que é um partideco da treta cuja base social de apoio é uma franja restrita de betinhos de Lisboa e umas centenas de saudosistas de Caetano espalhados pelo país, se impõe ao maior Partido da coligação em termos tais que consegue ficar com as pastas decisivas da governação?
Onde estão os sociais-democratas - que os havia!... - do PSD, que não se revoltam nem correm com o mais canalha dos políticos portugueses, Passos Coelho, esse que não hesitou em rasgar o programa social-democrata para se guindar ao poder, como testa de ferro do que há de pior na classe empresarial portuguesa? Que mentiu descaradamente antes das eleições, como se comprova todos os dias – comparemos o que disse com o que faz.
Vemos agora como este canalha se alia ao mais velhaco, cínico e calculista político da nossa praça - Paulo Portas - para desmantelar o que resta do Estado Social. O que só é possível porque contam, os dois, com outro político da mesma estipe, alcandorado ao mais alto cargo da nação, o tartufo Cavaco.
Onde estão os 40 conjurados do meu país, capazes de invadir o Paço e defenestrar politicamente este bando de malfeitores?

O LUGAR DA IGREJA




O apartamento vazio do Papa Francisco assusta o Vaticano

Em 100 dias, o Papa Bergoglio pôs em marcha uma revolução, que representa um enigma. Ele já deixou claro que não vai mais para o apartamento do Palácio Apostólico. Rejeita-o abertamente. Assim como rejeita os grilhões de agendas pré-estabelecidas.
A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 23-06-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

“A decisão é tão inédita e chocante que o pântano conservador – aninhado noVaticano e na Igreja universal, embora provisoriamente silenciado pelo fracasso do pontificado ratzingeriano – tenta rebaixar o gesto como "estilo pessoal", um pequeno tique de originalidade. Mas é como se Obama deixasse a Casa Branca, ou a rainha da Inglaterra desertasse o Buckingham Palace, preferindo um alojamento ao lado da Victoria Station. Bergoglio desvaloriza radicalmente o Palácio, exalta o verdadeiro chefe da Igreja – Cristo – e se coloca abertamente entre os "pecadores" como são os fiéis aos quais ele se dirige.
Os símbolos contam muito. Especialmente quando são arquivados. Dia após dia, o papa que veio do fim do mundo desmontou a simbologia imperial e quase divina dos pontífices. Ele rejeitou o manto e os sapatos púrpuras dos imperadores romanos, eliminou as mitras triunfalistas, ficou na chuva com os fiéis, explicou que viver isolados como soberano não lhe é possível por "motivos psiquiátricos", como se dissesse que é coisa de anormais se encerrar em uma torre de marfim.
Ele disse a expressão mais afiada – que muitos no Vaticano e nas esferas cardinalícias tentam esquecer – a uma menina (escolha precisa de se dirigir aos inocentes: Bergoglio, assim como João XXIII, nunca fala por acaso). Quem busca o papado, proferiu, não é uma pessoa equilibrada. "Uma pessoa que quer ser papa não quer bem a si mesma, e Deus não a abençoa".
O monarca humanizado.

4.7.13

OS "MERCADOS", ESSA NOVA TRANSCENDÊNCIA

O que é a Transcendência?
O meu professor de Filosofia dizia que era um conceito complicado que estava mesmo no cerne da filosofia de Kant, esse imenso continente onde poucos se aventuram a viajar por conta própria.

Para mim, a ideia de transcendência confundia-se com a de Deus, algo exterior a nós, que nos é estranho mas, simultaneamente, nos determina, vigia e julga. Para quem descobria o valor intrínseco e inviolável da Liberdade, essa "presença" era uma ameaça e uma negação.

Em política, a ideia de Democracia renega essa presença. É aos sujeitos livres que compete decidir o seu destino, ao contrário do que defendia o iluminismo absolutista. Deus - ou o ser Transcendente - cauciona e justifica o Poder, uma ideia muito querida dos soberanos "iluminados"  do século XVIII.

Pensava eu que o séc. XXI traria a consolidação da ideia democrática. Estava iludido. Uma nova Transcendência se impõe agora: os "Mercados"!
São eles que determinam a nossa vida e os nossos destinos. A ideia de eleições é atacada como na Idade Média se fazia com o pecado. Os Mercados, esse ser que está em toda a parte - como se dizia de Deus - vigia-nos e ameaça-nos com o castigo eterno se não respeitarmos a sua divina vontade.

Voltamos ao irracionalismo como estratégia de domínio dos povos  delineada pelos criadores dessa Transcendência - que agem de forma muito racional e fria em defesa dos seus interesses.
Os políticos que nos governam são os sacerdotes da nova religião de que Jornalistas como Camilo Lourenço ou José Gomes Ferreira são os sacristães.
Eles esperam que nós, amedrontados com as oscilações dos juros, batamos com a mão no peito e professemos "a nossa culpa, nossa tão grande culpa."

Penitência e oração! Austeridade e renúncia do Estado Social! O Céu espera por nós.

3.7.13

Sonho

Foto J Moedas, no Bom Jesus do Monte

Sonho que sou um cavaleiro andante,
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante,
O palácio encantado da ventura.

(...)

Antero de Quental