Inquietante!
Um filme que foi tão badalado antes da estreia está apenas em duas salas de Lisboa. Por acaso?
Talvez não. Quem o viu sai com pouca vontade de o recomendar. Este filme desestabiliza! Entra na escola, mostra uma parte de realidade de que os leigos pouco sabem. Mesmo os pais... ( que conhecem os filhos mas desconhecem "os-filhos-quando-estão-com-os-filhos.dos-outros", o que faz toda a diferença)...
Para muita gente a solução para o "mau ambiente" que se vive nas salas de aula será, simplesmente, voltar às regras antigas: impor respeito, castigar, ser-se exigente e não transigir com grosserias, distribuir umas lambadas... à antiga!
Este filme mostra como, HOJE, o caminho para os professores é muito estreito: eles movem-se sobre um abismo. Porque entre as paredes da sala desaguam todas as contradições de um mundo em globalização acelerada, em que tudo está em todo o lado, não há crenças estáveis e os valores não são eternos e universais. Antes, há confronto de valores, expresso na ausência de uma linguagem comum. Não por acaso, parte do filme passa-se com a questão de saber o significado das palavras...
Neste mundo a escola já não é vista como lugar de aprendizagens, pórtico de entrada para a vida profissional futura, mas como um lugar onde se armazenam os jovens que, por sua vez, estão ali como podiam estar noutro lugar qualquer - desde que estejam com os amigos....
Aos olhos de muitos alunos o estatuto do professor alterou-se. Não tem o prestígio do saber, é alguém que está ali para impor algo que lhes aparece como arbitrário e gratuito. A escola que, antigamente, garantia acesso a patamares sociais superiores, é agora um palco de afirmação pessoal perante a tribo. Muitos destes jovens já não aceitam que estão em crescimento, sentem-se adultos e, como tal, confrotam-se com os adultos de igual para igual. Cresceram demasiado depressa, aprenderam na televisão e na rua o que antigamente levava anos a saber, e os adultos esquecem isto com muita facilidade.
O inquietante é que quem marca o ritmo é uma minoria aguerrida, os instáveis, os que têm problemas familiares. Tal como nas turmas que eu tive, bastam dois ou três "desadaptados" para criar este clima de confronto, esta guerra permanente de palavras. Os outros são a massa sem história...
Alguém disse: "sempre houve a ideia de que os jovens são piores dos que os da geração anterior; há que fugir dessa armadilha." É verdade. Mas o que era dantes "conflito de gerações" toma agora o carácter de confronto civilizacional, que veio explodir nas escolas e nos bairros suburbanos das grandes cidades.
Inquietante, ainda, é reconhecer que a democratização/massificação da escola criou problemas para os quais a sociedade não estava preparada.
Tanto para reflectir, a partir desta Turma...