Atenção: nada me move contra o meu conterrâneo Manuel Clemente, padre, homem da Cultura e do Património Cultural. Admiro-o e respeito-o desde que o conheci.
No entanto, ao ver a cerimónia de ontem nos Jerónimos, em directo para as televisões, estremeci. A igreja, repleta de convidados, aplaudiu de pé a chegada do primeiro-ministro e do presidente da República!
A que propósito? Como é que uma República constitucionalmente laica está presente através das suas principais figuras numa cerimónia de contornos exclusivamente religiosos? Em que o presidente e a mulher ficam em dois cadeirões destacados na frente? Custou-me ver Manuel Clemente ( persiste a tradição anacrónica dos "Dom" ) envolvido por tal protocolo serôdio...
Eles podiam lá ir, tinham todo direito. Mas ... serem entronizados como símbolos de Poder numa cerimónia da Igreja? Acho que é mau para a Igreja e para o Poder. Já não estamos no séc. XVIII!
Faço votos para que Manuel Clemente seja o Patriarca dos pobres, dos deserdados, dos sem-abrigo, das mulheres vítimas de violência, das crianças famintas, filhas de famílias devastadas pelos desemprego - e resista à tentação de se refugiar no Paço Patriarcal.
Que siga o exemplo de quem o enviou, o Papa Francisco, que recusou as vestes imperiais pontifícias e todos os dias dá testemunho do Cristo da Galileia, incompatível com o Estado do Vaticano mais os seus funcionários vestidos de púrpura...