Este foi-me dado pelo meu filho João. Ele sabe que aprecio o trabalho de divulgação científica de Nuno Crato, quer nas páginas do Expresso, ( de que este livro recolhe alguns textos), quer na televisão.
Tem a chancela da prestigiada Gradiva. Não é um livro de tese, com grande fôlego investigativo ou ensaístico, mas um conjunto de textos para o grande público em que Nuno Crato aborda os mais variados temas, com uma linha unificadora: a valorização da Ciência e a denúncia dos que a aviltam, relegando-a para o mesmo saco em que metem o ocultismo, a astrologia, os horóscopos e outras que tais.
Hoje, ao ver a notícia na TSF sobre as dificuldades dos alunos adolescentes em lidarem com a Língua Portuguesa e a Matemática, fiz a ligação com um dos textos deste livro, em que o autor deplora a incapacidade dos alunos para lidarem com o cálculo mental, dificuldade que se deve, sobretudo, ao uso das calculadoras desde os primeiros anos de escolaridade.
Leia-se o que diz Nuno Crato no texto intitulado A TABUADA E A MÁQUINA DE CALCULAR:
«(…) há hoje muitos jovens estudantes que sacam das máquinas para resolver as operações mais elementares. Habituaram-se a isso quando estavam na escola e já não o sabem fazer de outra maneira. Ora fazer contas mentalmente é muito útil no dia-a-dia. Serve para comparar preços no supermercado, fazer trocos, medir o tempo, deitar contas à vida... Mas há mais. O exercício do cálculo mental e a memorização, nomeadamente da tabuada, ajudam a desenvolver regiões do próprio cérebro e capacitam os jovens para outras actividades. Há uma janela de oportunidade para essa aprendizagem. Privá-los desse treino em tenra idade é limitá-los no seu desenvolvimento intelectual futuro.
É o que se está a passar com muitos jovens. E a culpa não é deles. Com o pretexto da «aprendizagem significativa» atacaram-se os «vícios da memorização», mas errou-se o alvo. Leia-se o programa de Matemática do 1." Ciclo aprovado em 1990. Diz-se aí que a «máquina de calcular não pode deixar de ter lugar no 1." Ciclo» (jovens dos 6 aos 10 anos). Fala-se nos «cálculos obtidos, utilizando algoritmos ou a máquina de calcular» e depois diz-se que na sala de aula «o professor permitirá que cada criança utilize, com liberdade, o que lhe for mais conveniente». Ou seja, diz-se que o professor não pode impedir uma criança de 6 a 10 anos de usar a calculadora sempre que ela o queira fazer. Ideia semelhante repete-se no Currículo Nacional do Ensino Básico: Competências Essenciais (2001), página 60.
Felizmente, a maioria dos professores tem mais bom senso que os teóricos da pedagogia romântica e percebe bem esta verdade simples: permitir ao aluno o uso da máquina de calcular sempre que o queira é caminho certo para o impedir de desenvolver o cálculo mental.
(…)»