CASTELO DE TORRES VEDRAS A DUAS VOZES
CASTELO
Cá do cimo vê-se o mundo
sem começo nem fim,
só memória de memórias, gente
descendo a calçada de saída para o sul
por um palmo de terra, um sopro mais.
Daqui um homem sonha com o que há
para sonhar, uma ave que partiu, uma voz
esquecida, o chão cansado que respira.
É aqui que a mãe diz ao filho já crescido
a pátria é este largo cimeiro, onde a boca
arde e volteja. E no mesmo tom acalenta
na minha pele passa a saudade
quando por becos e vielas sinto
tudo branco e leve, uma janela aberta
para os sentidos. Ao largar a alma
junto ao portão manuelino fico
tal como sou, uma toalha dobrada,
às vezes estendida em sítio nenhum.
O castelo é feito de vozes, restos de muralha,
um torreão, ficções,
pedra antiga que jamais se ouve,
uma bandeira que nos diz foi aqui
o nunca visto, um pulmão no ar, porque é no ar
que tudo acontece e oscila e parece.
(Luís Filipe Rodrigues)
CASTELO
De quantas pedras é feito
este arrostar de séculos
onde os guerreiros
de passadas lutas
nada mais resta que este resto
fincado no chão
ruína silêncio vento
castelo desarmado
pelo tempo.
(Méon)