31.5.09
PROVOCAÇÃO
29.5.09
PROVEDOR DA JUSTIÇA
SABEDORIA ANTIGA
28.5.09
ELES É QUE SABEM ! NÓS SOMOS BURROS...
Esta é a concepção que o Ministério da Educação do sr. Sócrates tem dos professores. Eu ainda pensava que isto tinha sido uma excepção, quando acompanhei exames há uns anos atrás. Mas não: é uma prática corrente! Repete-se todos os anos! Mas que gente é esta?
Leia-se este magnífico texto:
ANTÓNIO BARRETO no "Retrato da Semana" - Público de 24 de Maio de 2009 ):
APLICADORES
A PUBLICAÇÃO, pelo Ministério da Educação, do “Manual de Aplicadores” não passou despercebida. Vários comentadores se referiram já a essa tão insigne peça de gestão escolar e de fino sentido pedagógico. Trata-se de um compêndio de regras que os professores devem aplicar nas salas onde se desenrolam as provas de aferição de Português e Matemática. Mais preciso e pormenorizado do que o manual de instruções de uma máquina de lavar a roupa. Mais rígidos do que o regimento de disciplina militar, estes manuais não são novidade. Podem consultar-se os dos últimos quatro anos. São essencialmente iguais e revelam a mesma paranóia controladora: a pretensão de regulamentar minuciosamente o que se diz e faz na sala durante as provas.ALGUNS exemplos denotam a qualidade deste manual: “Não procure decorar as instruções ou interpretá-las, mas antes lê-las exactamente como lhe são apresentadas ao longo deste Manual”. “Continue a leitura em voz alta: Passo agora a ler os cuidados a terem ao longo da prova. (...) Estou a ser claro(a)? Querem fazer alguma pergunta?”. “Leia em voz alta: Agora vou distribuir as provas. Deixem as provas com as capas para baixo, até que eu diga que as voltem”. “Leia em voz alta: A primeira parte da prova termina quando encontrarem uma página a dizer PÁRA AQUI! Quando chegarem a esta página, não podem voltar a folha; durante a segunda parte, não podem responder a perguntas a que não responderam na primeira parte. Querem perguntar alguma coisa? Fui claro(a)?”. Além destas preciosas recomendações, há dezenas de observações repetidas sobre os apara-lápis, as canetas, o papel de rascunho, as janelas e as portas da sala. Tal como um GPS (“Saia na saída”), o Manual do Aplicador não esquece de recomendar ao professor que leia em voz alta: “Escrevam o vosso nome no espaço dedicado ao nome”. Finalmente: “Mande sair os alunos, lendo em voz alta: Podem sair. Obrigado(a) pela vossa colaboração”!A LEITURA destes manuais não deixa espaço para muitas conclusões. Talvez só duas. A primeira: os professores são atrasados mentais e incompetentes. Por isso deve o esclarecido ministério prever todos os passos, escrever o guião do que se diz, reduzir a zero quaisquer iniciativas dos professores, normalizar os procedimentos e evitar que profissionais tão incapazes tenham ideias. A segunda: a linha geral do ministério, a sua política e a sua estratégia estão inteiras e explícitas nestes manuais. Trata os professores como se fossem imaturos e aldrabões. Pretende reduzi-los a agentes automáticos. Não admite a autonomia. Abomina a iniciativa e a responsabilidade. Cria um clima de suspeição. Obriga os professores a comportarem-se como “robots”.A ser verdadeira a primeira hipótese, não se percebe por que razão aquelas pessoas são professores. Deveriam exercer outras profissões. Mesmo com cinco, dez ou vinte anos de experiência, estes professores são pessoas de baixa moral, de reduzidas capacidades intelectuais e de nula aptidão profissional. O ministério, que os contratou, é responsável por uma selecção desastrada. Não tem desculpa.Se a segunda for verdade, o ministério revela a sua real natureza. Tem uma concepção centralizadora e dirigista da educação e da sociedade. Entende sem hesitação gerir directamente milhares de escolas. Considera os professores imbecis e simulados. Pretende que os professores sejam funcionários obedientes e destituídos de personalidade. Está disposto a tudo para estabelecer uma norma burocrática, mais ou menos “taylorista”, mais ou menos militarizada, que dite os comportamentos dos docentes.
O ANO lectivo chega ao fim. Ouvem gritos e suspiros. Do lado, do ministério, festeja-se a “vitória”. Parece que, segundo Walter Lemos, 75 por cento dos professores cumpriram as directivas sobre a avaliação. Outras fontes oficiais dizem que foram 57. Ainda pelas bandas da 5 de Outubro, comemora-se o grande “êxito”: as notas em Matemática e Português nunca foram tão boas. Do lado dos professores, celebra-se também a “vitória”. Nunca se viram manifestações tão grandes. Nunca a mobilização dos professores foi tão impressionante como este ano. Cá fora, na vida e na sociedade, perguntamo-nos: “vitória” de quem? Sobre quê? Contra quem? Esta ideia de que a educação está em guerra e há lugar para vitórias entristece e desmoraliza. Chegou-se a um ponto em que já quase não interessa saber quem tem razão. Todos têm uma parte e todos têm falta de alguma. A situação criada é a de um desastre ecológico. Serão precisos anos ou décadas para reparar os estragos. Só uma nova geração poderá sentir-se em paz consigo, com os outros e com as escolas.
OLHEMOS para as imagens na televisão e nos jornais. Visitemos algumas escolas. Ouçamos os professores. Conversemos com os pais. Falemos com os estudantes. Toda a gente está cansada. A ministra e os dirigentes do ministério também. Os responsáveis governamentais já só têm uma ideia em mente: persistir, mesmo que seja no erro, e esperar sofridamente pelas eleições. Os professores procuram soluções para a desmoralização. Uns pedem a reforma ou tentam mudar de profissão. Outros solicitam transferência para novas escolas, na esperança de que uma mudança qualquer engane a angústia. Há muitos professores para quem o início de um dia de aulas é um momento de pura ansiedade. Foram milhares de horas perdidas em reuniões. Quilómetros de caminho para as manifestações. Dias passados a preencher formulários absurdos. Foram semanas ocupadas a ler directivas e despachos redigidos por déspotas loucos. Pais inquietos, mas sem meios de intervenção, lêem todos os dias notícias sobre as escolas transformadas em terrenos de batalha. Há alunos que ameaçam ou agridem os professores. E há docentes que batem em alunos. Como existem estudantes que gravam ou fotografam as aulas para poderem denunciar o que lá se passa.O ministério fez tudo o que podia para virar a opinião pública contra os professores. Os administradores regionais de educação não distinguem as suas funções das dos informadores. As autarquias deixaram de se preocupar com as escolas dos seus munícipes porque são impotentes: não sabem e não têm meios. Todos estão exaustos. Todos sentem que o ano foi em grande parte perdido. Pior: todos sabem que a escola está, hoje, pior do que há um ano.
27.5.09
A TRETA DAS SONDAGENS
26.5.09
IMAGENS DO MEU OLHAR
Estamos na aldeia de S. Pedro da Cadeira, freguesia ao sul do concelho de Torres Vedras.
20.5.09
"PAI NOSSO" de Jacques Prévert
Pai Nosso, que estais no céu
Deixai-vos aí ficar
E nós ficaremos cá na terra
Que às vezes é linda de pasmar
Com os seus mistérios de Nova Iorque
E os seus mistérios de Paris
Que são tão bons como o da Trindade
Com o seu Regueirão dos Anjos
A sua Grande Muralha da China
A sua ria de Aveiro
As suas queijadinhas de Tomar
Com o seu oceano Pacífico
E os dois lagos do jardim das Tulherias
Com o bom filho e a má rês
Com todas as maravilhas do mundo
Que aqui estão
À face da terra simplesmente
Oferecendo-se a todos
Disseminadas
E tão maravilhadas por se descobrirem tão maravilhosas
E não ousando admiti-lo
Como uma bela rapariga nua que não ousa mostrar-se
Com as desgraças deste mundo cão
Que são legião
Com os seus legionários
Com os seus torcionários
Com os senhores da terra
Com os seus mercenários seus traidores e seus vigários
Com os anos
E as estações
Com as raparigas bonitas e os velhos vilões
E com a palha da miséria a apodrecer no aço dos canhões.
PATER NOSTER
Notre Père qui êtes aux cieux
Restez-y
Et nous nous resterons sur la terre
Qui est quelquefois si jolie
Avec ses mystères de New York
Et puis ses mystères de Paris
Qui valent bien celui de la Trinité
Avec son petit canal de l’Ourcq
Sa grande muraille de Chine
Sa rivière de Morlaix
Ses bêtises de Cambrai
Avec son océan Pacifique
Et ses deux bassins aux tuileries
Avec ses bons enfants et ses mauvais sujets
Avec toutes les merveilles du monde
Qui sont là
Simplement sur la terre
Offertes à tout le monde
Eparpillées
Emerveillées elles-mêmes d’être de telles merveilles
Et qui n’osent se l’avouer
Comme une jolie fille nue qui n’ose se montrer
Avec les épouvantables malheurs du monde
Qui sont légion
Avec leurs légionnaires
Avec leurs tortionnaires
Avec les maîtres de ce monde
Les maîtres avec leurs prêtres leurs traîtres et leurs reîtres
Avec les saisons
Avec les années
Avec les jolies filles et avec les vieux cons
Avec la paille de la misère pourrissant dans l’acier des canons.
Jacques Prévert
17.5.09
INESPERADO
Para ti a rosa,
este pequeno povo
de pétalas:
- só liberdade
servida por uma legião de chamas.
12.5.09
10.5.09
CARTA A UM JOVEM QUE É CONTRA AS TOURADAS
Estou perfeitamente de acordo com essa opinião. Seria incapaz de comprar um bilhete para ir assistir a uma tourada. Acho que o movimento anti-touradas tem toda a razão de existir. Liberdade de expressão deve ser coisa sagrada.
Mas as coisas não são assim tão simples. Se fossem, não havia males no mundo. E a realidade mais demorada de alterar é a das mentalidades.
O movimento anti-touradas parece-me cometer um erro infantil ao privilegiar como forma de acção manifestações contra os que vão ver uma tourada.
Que pretendem? Convencer os aficionados que já estão à porta de uma praça de touros e que acabam por ficar furiosos com quem lhes vem estragar o passa-tempo? Não será esta a pior opção táctica para quem tem como objectivo acabar mesmo com as touradas?
Aa minha memória de 48 anos de moralismo imposto pelo "Estado Novo" levam-me a repudiar todas as tentativas de IMPOR condutas morais aos outros. Sei - SABEMOS! - onde isso leva...
Escrevam livros, revistas, blogues. Façam muitas manifestações. Mas diante da Assembleia da República (lá onde se fazem as Leis...).
E, já agora, não esqueçam outros animais: é uma tortura diária para um cão de grande porte viver confinado a um apartamento. E há milhares a viverem nessas condições. E que dizer dos animais criados para abate - aves, suínos... - aos milhares, apertados, com luz artificial para comerem dia e noite e engordarem no mais curto espaço de tempo?
Cada um tem as prioridades que lhe parecem mais acertadas. OK!
Mas - AQUI E AGORA – talvez pudessem também:
1 - Denunciar as falências fraudulentas de empresas que deitam para a rua milhares de trabalhadores que nunca mais arranjarão outro emprego...
2 - Denunciar o licenciamento de dezenas de grandes superfícies comerciais, enquanto o pequeno comércio de proximidade agoniza, com todas as terríveis consequências sociais e de desequilíbrio da vida urbana...
3- Denunciar a exploração da saúde pública pelas grandes multinacionais dos medicamentos...
4 - Denunciar a incapacidade dos nossos políticos em reformar o sistema de Justiça, indo ao encontro da sensação de insegurança da população...
Etc... Etc...
Contra as touradas? Tudo bem! Mas neste contexto em que vivemos até parece que vem ajudar a esquecer males muito maiores!
9.5.09
7.5.09
SÓ CONSIGO ESCREVER "ATCHIMMMM"
Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
Anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisana e pão-de-ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sozinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.
António Lobo Antunes