29.3.11

LIVRINHOS

 


Não se medem aos palmos. Livrinhos pequenos, de qualidade - distribuídos com o Expresso.
Biografias bem feitas, já clássicas, documentos imprescindíveis para o conhecimento dos biografados: Fernando Pessoa, Nelson Mandela e Albert Einstein.

27.3.11

IMAGENS DO MEU OLHAR - MATA DO CONVENTO DO VARATOJO

Varatojo, Mata do Convento. Foto Méon.


BRISA E BRAÇO

Apontava o rumo à brisa
apontava a brisa ao braço
juntava o braço e a vida
e nela apertava o laço
que às vezes era bulício
para noutras ser cansaço
e era braço do sumiço
ou a brisa do sargaço.

Ou era brisa só brisa
ou era braço em abraço
bem no rumor da pesquisa
bem longe do embaraço:
era o gosto da subida
à carne extrema da vida
ao alto cume do espaço.

João Rui de Sousa
Lavra e Pousio, Public. Dom Quixote,
Lisboa, 2005


24.3.11

ATÉ Á DISSOLUÇÃO FINAL!

Pronto! Lá vamos nós.
Olho à volta e toda a gente me diz que não tem paciência para mais uma campanha eleitoral. Eu também não! Há alturas para tudo e esta não é a altura para eleições. Esta evidência é assim tão difícil de entender pelos profissionais da política?
“Que se dê a palavra ao povo!” – diziam eles ontem.
Desgraçadamente há Sócrates ( Na 1ª República, com as devidas distâncias, houve um Afonso Costa...). E há um PS incapaz de se demarcar deste mitómano - um caso patológico! -, abrindo caminho a outras soluções.
E há um PR inepto em crescente estado de idiotia política.
E há uma esquerda à esquerda do PS que não é capaz de uma coisa comezinha: uma convergência política  que atraísse os sectores mais à esquerda que ainda há no PS e, até, no PSD, e os sem partido mas desejosos de participarem. Ficam-se por acordos parciais e envergonhados...
E há um CDS que não passa de um rapazola gabarola e sem escrúpulos, outro caso patológico, que não pára de polir a colher para ir ao pote…
E há um PSD que nunca sabemos que cara tem. Que tão depressa atira Ferreira Leite para a última fila como a traz para a primeira - na esperança de que aquela cara devastada pelo azedume aterrorize o adversário?
E alguém imagina um confronto parlamentar entre Passos Coelho e os figurões que se profissionalizaram na retórica?
As eleições não vão resolver nada, até porque Sócrates vai continuar a atravancar a estrada.
E cá vamos nós, de solução em solução, até à dissolução final!

SUBSCREVO!

Contra a irracionalidade


por BAPTISTA-BASTOS

As notícias não são animadoras. Mas há quanto tempo é que as notícias o não são? Vivemos no interior de muitos medos e parece que ninguém é capaz de os aniquilar ou, pelo menos, de os atenuar. Possuímos uma larga, histórica, dir-se-ia que fatal experiência do medo. Temos sobrevivido entre a resignação e a revolta cabisbaixa. Entretanto, fomos alimentando a esperança, sempre fugidia, de que as coisas iriam melhorar. Os dias de amanhã seriam melhores e mais belos. Tivemos uns fogachos de alegria, seja dito; porém, há quem deteste que sejamos felizes, mesmo mitigadamente.

Ao que leio e ao que me dizem sábias criaturas, o Governo vai cair. O estrondo não será grande. Já se previa. O pior é que o pior está para vir. E o putativo substituto de Sócrates não o esconde. O pouco que resta do 25 de Abril, Passos Coelho encarregar-se-á de remover.

A preguiça, a indiferença e, até, a cobardia podem explicar as razões por que chegámos aonde estamos. Ainda conseguimos concentrar energias para encher praças e avenidas com os nossos protestos. Não têm servido para muito. A democracia portuguesa está reduzida a um funcionamento processual, que limitou, dramaticamente, os horizontes das nossas escolhas, dos nossos valores e dos nossos sonhos. Recalcitramos, mas de muito pouco nos vale.

(...) O sentido de pluralidade, que dá corpo e razão à democracia, foi abreviado pela homogeneidade e pela unificação de interesses do PS e do PSD. A queda do Governo é, apenas, o episódio comezinho da substituição de rabos nas cadeiras.

Atingimos uma situação extraordinária: somos dissidentes de nós próprios. A "democracia da desconfiança" atingiu-nos com tal violência que ficámos incapazes de nos desembaraçar da tenaz, astutamente formada pelos dois "mais importantes" partidos. "Mais importantes" porquê? E os outros? São, apenas, elementos decorativos? Não fazem parte da participação (que deveria ser permanente) dos cidadãos nos domínios políticos?

O mal-estar, generalizado, em que sobrevivemos, atingiu, até, as nossas pessoais afectividades (a capacidade de ser afectados) e o impulso dominante é o de admitir as coisas como elas se apresentam. Decepção, incerteza, insatisfação. À irracionalidade de um poder que se desdobra por dois partidos, temos de encontrar métodos que se lhe oponham. Aceitando os perigos daí advenientes. Obedecer aos antigos valores é tarefa perigosa - porém imperiosa. A desobediência é um desses valores".
in DN 23 de Março de 2011

23.3.11

Filme do Desassossego




Vi-o ontem, no Teatro-Cine. Filme sombrio, de extrema beleza. Um homem, uma cidade, uma vida. E as palavras, palavras, palavras... de Bernardo Soares, semi-heterónimo de Frenando Pessoa.

Gosto do título em francês: "Le livre de l'inquietud". A inquietação de não estar bem em lado nenhum embora se adivinhe nos olhos do protagonista um amor desmedido pelos lugares onde vagueia.


Nota do realizador João Botelho
Julho 2010
O LIVRO DO DESASSOSSEGO,"composto" por um misterioso e modesto ajudante de guarda-livros de nome Bernardo Soares, heterónimo de Fernando Pessoa, está traduzido em 37 idiomas e espalhado pelo mundo inteiro. É o livro mais lido e divulgado do poeta, essa labiríntica e inigualável aventura literária. Nunca houve um génio criador que se identificasse tanto com o coração da cidade que o viu nascer, que coincidisse quase em absoluto com o emaranhado de ruas que calcorreou e descreveu como ninguém, com a infinidade de gentes com quem se cruzou e que descreveu com "o olhar de Deus", numa Lisboa centro de um mundo sem centro. Não é assim o mundo hoje?
"A minha pátria é a língua portuguesa." Esta frase d’ O LIVRO DO DESASSOSSEGO, que é "a nossa maior invenção desde as Descobertas", levou-me a enfrentar um mar de textos transformado numa obra universalmente conhecida, armadilha de um génio, puzzle perfeito e genial porque todas as soluções são diferentes e nenhuma é definitiva.
"É impossível filmar O LIVRO DO DESASSOSSEGO,", diziam-me todos. "Talvez", disse eu, mas a partir de um texto que não tem tempo, não tem fim e não tem igual, foi-me possível criar um FILME DO DESASSOSSEGO que não pretende ser o livro (outra coisa é o cinema, que não arte literária); não em nome da experimentação ou da artística diletância, mas em nome do cinema que eu amo acima de tudo, e da língua, que é também a minha pátria. Há n’ O LIVRO DO DESASSOSSEGO, dois pequenos e preciosos textos que foram decisivos para estruturar o filme e o modo de filmar. Um sobre a autonomia grandiosa do som dos textos que, quando são lidos em voz alta ou voz baixa, se elevam muito para cima do seu criador, tornando a escrita maior que o sujeito que a criou; e, outro, sobre a noção de tempo, a sua distorção, ideias que se ajustam na perfeição à noção do tempo cinematográfico.
Há ainda uma pequena frase maravilhosa sobre a luz:A mesma luz que ilumina a face dos santos e os sapatos do homem comum." Não foi preciso mais nada para eu ficar contente. Alcançar o grão da voz, encontrar os ritmos de música verdadeira e grandiosa dos fragmentos do livro. Leiam-no em voz alta ou voz baixa, como diz Pessoa. O aperto que sentem no peito não é de gloriosa felicidade? Os olhos não ficam rasos de lágrimas e o cérebro efervescente? Distorcer o tempo e as imagens, pôr em causa o modo de as ver (utilização de diferentes velocidades, ralentis, acelerações e até lentes anamórficas, embaciadas, desfocadas) pintar o espaço com cores excessivas, não realistas, mas também fazê-las esmorecer, quase desaparecer, chegar aos tons secos, e até à pureza da gama de cinzentos, do preto e do branco. Bernardo Soares, um homem contemporâneo, de aspecto normal, indecifrável do comum dos mortais, mas com a angústia e o tédio desesperado de um funcionário modesto, e Lisboa uma cidade misteriosa, labiríntica e profunda, de inquestionável beleza e luminosidade. "Oh, Lisboa meu lar!". Todos os outros personagens e todos os incidentes que os envolvem são, na vertigem dos sons das frases que os fazem existir, parte do desassossego do ano 2010 da nossa era. (Texto retirado do site do Teatro Municipal de Almada, acedido em 4 NOV 2010)

22.3.11

Natália Correia - Defesa do Poeta



Um altíssimo momento da nossa poesia, na voz da autora, Natália Correia.
Ver o apontamento abaixo.

PARA COMER TODOS OS DIAS

(Para completar o vídeo de cima)

Natália Correia ia responder em tribunal por um crime: editara As Novas Cartas Portuguesas. Estava-se em 1973, num país atrasado e governado por sacristas.  Em sua defesa escreveu um dos poemas mais estrondosos da língua portuguesa. Preparava-se para o declamar intrepidamente frente aos juízes e só o pragmatismo do seu advogado a impediu. Ela, que já tinha uma pena suspensa de três anos pela publicação da Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, considerada ofensiva dos costumes, (1966).

, 1999.

ENIGMAS SEM SOLUÇÃO ?

A situação financeira do país é desesperada? ... Parece que é...
A nossa soberania está em causa? ... Está!!!
Vivemos de empréstimos / juros / empréstimos / juros / empréstimos ? ... É notório!
Esta espiral não tem saída? ... Parece que não!  E se tem, ninguem sabe para onde...
O primeiro-ministro não sabe lidar com isto? ... NÃO, a não ser com manobras manhosas...

Então...

Porque é que o PS não tem capacidade para impor uma nova liderança?
Porque é que  o Presidente da República não conclui o que começou com o discurso da tomada de posse?
Porque é que Passos Coelho não se decide?
Porque é que os dois partidos da esquerda parlamentar não se sentam à mesa para reforçarem posições?

Conclusão que me foi dita por um velho sábio: nós, portugueses, individualmente somos muito bons.
Mas... como povo, não prestamos!

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Anda aí uma entrevista interessante do Dr. Sobrinho Simões, que saiu numa revista de fim de semana, - que não consegui ainda identificar.
A opinião de um homem como Sobrinho Simões vale como sintoma. Sintoma importante. Cada vez tenho mais dificuldade em me sentir confortável dentro de uma opinião, o mundo é demasiado complexo, há tantas variáveis em presença que fico sempre perplexo perante certas análises racionalistas que explicam tudo.
Trata-se do capitalismo!
Trata-se das políticas neo-liberais!
É a chantagem da Alemanha!
É o poder financeiro da Banca!
Mas um homem como Sobrinho Simões não faz referência a nenhuma destas evidências e incide a análise sobre a maneira de ser dos portugueses em particular, e dos povos mediterrânicos em geral, opondo-as ao rigor dos nórdicos.
Será que Sobrinho Simões é estúpido? Ou é a realidade que é muito mais complexa do que as análises redutoras de quem privilegia a perspectiva económica sem ter em conta o resto, ou relegando o resto para a categoria de consequência?
No fundo é a velha ideia de que a super-estrutura ideológica é uma resultante da infra-estrutura económica, sem que se tenha em conta o jogo das inter-acções entre os dois níveis.
Mas repito: não me sinto nada confortável em opinar neste tempo de mudanças brutais e rápidas. E admiro ( invejo? ), quem tem uma fé, mais ou menos racional (?), numa teoria que explique o mundo e nos diga quem são os bons e os maus…

21.3.11

PÓ Ê ZIA!


Dia? Mundial? da Poesia?

Blá-blá-blá! Por que a poesia blá-blá-blá....
E patati e patata e pi-ró-ró!.... Desta maneirra e daquela... porque frito... e porque cozido... ou grelhado?
A    P O E S I A ... porque torna e porque deixa... bu-bu-lá-lá-té--té-pititititi...
Hugh! Rghhhhh!!! Brrrrrrrrrrr.........

"Ó ventos! Ó mares! Ó numes!
Ó Nabais, dá cá os lumes!"

20.3.11

ALDEIA-LAR, LUGAR DE ESPERANÇA


Há cerca de três anos um acaso de navegação na blogosfera deu-nos a conhecer um blogue que foi a porta de entrada para um outro mundo, a Aldeia-Lar.
Que mundo é este?

Trata-se de uma experiência bem sucedida na área do "cooperativismo de habitação", um exemplo magnífico de como é possível superar o proverbial individualismo dos portugueses e criar um projecto colectivo.
Sonho? Utopia?
25 anos depois a realidade aí está. O sonho e a utopia são hoje palpáveis numa Aldeia situada na freguesia de Sobreda, concelho de Almada. O grupo de 40 cooperantes presentes na reunião fundadora em 1985, alargou-se posteriormente com mais alguns. Foi um processo complexo mas apoiado e realizado com a incorporação de profissionais que levaram a bom termo as mil tarefas que tinham pela frente: a escolha e aquisição dos terrenos, o projecto, a construção. Dez anos de labuta intensa. Em 1995 era ocupada a primeira casa, as outras sê-lo-iam ao longo dos dois anos seguintes. Mais tarde foi construído um campo de jogos, a seguir um edifício de utilização colectiva, com salão, gabinetes, bar, piscina... Ah!

O convívio na blogosfera com um dos casais fundadores, professores como nós,  foi criando  amizade. E assim, no outono do ano passado, fomos convidados para um convívio de cooperantes. Lá estivemos, a partilhar um porco e outras gulodices da época E o nosso espanto foi proporcional à dimensão e qualidade da Aldeia-Lar ( o nome escolhido para designar todo aquele espaço ). Sim, verificámos que tinha sido possível realizar o que começara como sonho e que a realização superara o sonho! Localizada num zona de encosta, de horizontes amplos, as cerca de 60 moradias alinham-se em quatro ruas sossegadas, com espaços ajardinados.  A coroar o conjunto, o belo edifício-sede, com seu terraço panorâmico.

Ontem estreitámos o convívio com estes amigos, que visitaram Torres Vedras e nos trouxeram o mais belo testemunho desta realização colectiva: o belíssimo livro-álbum que contém a história do projecto.
Na contra-capa lemos:

«Na génese da Cooperativa Aldeia-Lar esteve uma ideia, misto de sonho e fé na capacidade do homem para realizar aquilo em que acredita. No início, havia apenas a ideia de juntar um grupo de amigos que quisessem construir um conjunto de casas, com espaços comuns, e em que todos se sentissem como uma família alargada, onde a convivência, a amizade e a entreajuda fossem as regras primordiais.»

 Neste tempo de descrença e pessimismo que estamos a viver como povo, olhamos para vós e acreditamos que nem tudo está perdido. Obrigado, queridos amigos, pela vossa mensagem de esperança.

ENIGMA




Quem é o autor deste texto?


"Pegue-se num corno, chame-se-lhe prosa, e ter-se-á o estilo do Manuel de Sousa Pinto.
E, contudo, é um homem inteligente este crítico de alguma arte. Não é, é certo, um homem de talento, por mais que no caso o sr. João Barros tenha um sim de ida-e-volta. Mas não nos leve esta crítica de anzol a reagir excessivamente. É um homem inteligente o sr. Sousa Pinto. A espécie de inteligentes a que pertence é a dos críticos, e o género de críticos em que entra é o dos críticos de segunda ordem.
É um género entre vulgar e raro. Conhece-se facilmente. O crítico de segunda ordem alia à capacidade de apreciação a incapacida¬de compreensão e de análise. É mais ou menos razoavelmente seguro na crítica a coisas que não envolvam reforma ou novidade. E, em matéria de pôr opiniões por escrito, dispõe dum estilo que, quando normal, é simples, vivo e interessante; mas ideias e forma, só as tem adaptadas a uma espécie quase subliterária — a crónica.
Daqui se conclui que o crítico de segunda ordem é um bom crítico que é um mau crítico.(…)"

Hipóteses:

            a) Vasco Pulido Valente
            b) Fernando Pessoa
            c) Vasco Graça Moura
            d) José Régio

Amanhã darei a resposta.

15.3.11

SUBSCREVO

A análise de Daniel Oliveira hoje no Expresso on-line. AQUI, no blogue O Arrastão.
Sobretudo as reflexões sobre a esquerda à esquerda do PS. De facto não entendo as posições do BE e do PCP. Denunciam as políticas do PS e PSD e apelam para que se mude de política, caindo no absurdo de exigir dos adversários que apliquem "as boas politicas", isto é, as deles(BE e PCP). Este "moralismo" de virtuosos que acusam os outros de todos os pecados  é uma cantilena que já cansa e que não mobiliza ninguém para além dos seus partidários.
Nem na área desta esquerda há consenso, não são capazes de se aliarem, quanto mais noutras áreas politicamente mais afastadas. Esgotam-se na denúncia, nas invectivas, nas condenações ("esta é uma política criminosa, camaradas!" - grita Jerónimo de Sousa em todos os comícios). Repetem ad nauseam que é preciso mudar de políticas. Mas são incapazes de se apresentarem como alternativa, não criam espaços de diálogo, de compromisso, de convergência. Fazem muito barulho para nada. Possivelmente acreditam que, se gritarem muito, "os trabalhadores e o povo" acabarão por chegar à insurreção popular e, finalmente, à Revolução redentora, que acabará com os criminosos e fará o sol brilhar para todos nós...

Marimba Ponies- From Spring



Há dias em que não apetece ler ou escrever...

13.3.11

IMAGENS DO MEU OLHAR - Terras do nosso Oeste

Numa rua da aldeia de Ordasqueira. Ao longe o Monte do Barrigudo e o edifício oitocentista do Asilo de Inválidos Militares de Runa





Ruínas de uma antiga Quinta na Ordasqueira


 



Da mesma Quinta




Uma das casas da Quinta do Juncal, em Matacães


Moinho recuperado na Serra de S. Julião, na freguesia da Carvoeira

TANTAS COISAS...






Sismo geológico no Japão.
Sismo político em Lisboa.


Saio em direcção à Serra de S. Julião. Lá de cima vê-se melhor. Os sismos marcam os dias em que ocorrem mas acabam diluídos na reconstrução posterior.
Não sei que mais lamentar, se os velhos sem esperança se os jovens que ainda esperam. Lá em cima vive o silêncio que se movimenta de vez em quando nas asas de uma ave estranha, a pairar sobre os pinheiros. Vivemos em fim de civilização, a abundância chega ao fim. Regressa a voz dos mais antigos, a recordarem tempos de penúria.
O velho chinês tem razão?

Cours d'économie du Vénérable Professeur Kuing Yamang.



A velha sabedoria chinesa...

11.3.11

COMUNIDADE DE LEITORES



Vamos falar de O LEITOR, no próximo dia 17 de Março, na Biblioteca Municipal.

Leio na LER nº 100: "Os escritos dos génios constituem o melhor caminho rumo à sabedoria, que é, creio eu, a verdadeira utilidade da literatura para a vida." - frase de Harold Bloom, que subscrevo, apesar de duvidar da perspectiva utilitária em que ele se coloca.
B. Schlink não será um génio mas escreve muito bem.
Mas o que é isso de escrever bem?
Para mim é a capacidade de um escritor me desvendar, dizer o que sou, surpreendendo-me pela forma e pela intensidade com que o faz.
Encontro isso nas páginas deste livro.

"Não que me tivesse esquecido de Hanna. Mas a partir de um certo momento a sua recordação parou de me acompanhar para todo o lado. Ficou para trás, como fica uma cidade quando o comboio parte. Ela está lá, algures atrás das nossas costas, e poder-se-ia apanhar outro comboio, voltar lá e assegurarmo-nos disso. Mas para quê?"

10.3.11

TENTO PERCEBER


Não consigo alinhar em críticas políticas. Todos somos responsáveis. Acredito na bondade dos homens, mesmo que não sejam povo. E também acredito na capacidade dos homens para calarem a bondade e serem lobos dos outros homens. Tudo vai do lugar e da fome de cada um.
A tragédia é sempre uma comédia. Depende do tempo. Faz-se humor com as campas dos cemitérios e chora-se com o ridículo de uma frase cómica.
Toda a moral é perigosa quando se torna lei...

8.3.11

FENÓMENO DE GERAÇÃO












A História tem muitos motores, uns mais silenciosos que outros. Nunca param, a várias velocidades e sem marcha-atrás. Um deles é a sucessão das gerações. Já no tempo dos Antigos  Gregos os mais velhos se queixavam dos novos.  O que espanta é que a maioria dos elementos das gerações mais velhas nunca reconhecem o fenómeno e caem nas mesmas queixas contra os novos, século após século.

Interpreto os levantamentos do Norte de África nesta perspectiva. Esta geração já nada tem a ver com as dos pais e dos avós que lutaram pela independência e que, no rescaldo, aceitaram líderes fortes, que se perpetuaram no poder.

Em Portugal estes fenómenos chegam sempre mais tarde - é que nós vivemos na praia da Europa, não esqueçamos, cá neste fundo sudoeste ...

Os Homens na Luta que acabam de cilindrar essa vetusta instituição que é o Festival da Canção, tal como a singela canção dos Deolinda, parecem-me fenómenos de Nova Geração que temos de entender. Ainda bem que eles aí estão. As areias desta praia estavam a tornar-se demasiado inquinadas do lixo espalhado pelos mais velhos...

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A propósito deste "escândalo" do Festival da Canção encontrei um texto clarificador, uma análise pertinente, que tenho de partilhar com os eventuais passantes neste LUGAR NO TEMPO.
Vale a pena ler:


Homens da Luta - Uma performance muito séria

por Cristina Paixão a Segunda-feira, 7 de Março de 2011 às 16:35
http://www.facebook.com/notes/cristina-paixão/homens-da-luta-uma-performance-muito-séria/208849432462786
“O espectáculo, como a sociedade moderna, está ao mesmo tempo unido e dividido. Como esta, ele edifica a sua unidade sobre o dilaceramento. A contradição, quando emerge no espectáculo, é por sua vez contradita por uma inversão do seu sentido; de modo que a divisão mostrada é unitária, enquanto a unidade mostrada está dividida” (DEBORD, Guy, A Sociedade do Espectáculo, ed. Afrodite, p. 47)
 “Diante da totalidade horrivelmente séria da política institucionalizada, a sátira, a ironia e a provocação hilariante tornam-se uma dimensão necessária da nova política. O desprezo pelo esprit de serieux, que permite as conversas e as acções dos políticos profissionais e semi-profissionais, confunde-se com o desprezo pelos valores que eles professam e, ao mesmo tempo, destroem. Os rebeldes revivem o riso desesperado e o desafio cínico dos loucos como meios para desmascarar os actos da gente séria que governa o todo.” (MARCUSE, Herbert, Um Ensaio para a Libertação, liv. Bertrand, p. 89)
                                    
 E eis que o inusitado, o mais extraordinário imprevisto aconteceu. Os Homens da Luta ganharam – por votação popular – o Festival da Canção que os levará brevemente a Dusserdolf, em representação do país no euro festival. Dito assim, parece pouco. Mas na verdade foi uma espécie de bomba carnavalesca que explodiu nas mãos do establishment apodrecido, mas empedernido na recuperação de alguns resquícios de seriedade no pântano lodoso em que se atasca. E logo gloriosas vozes furiosas, talvez ressuscitadas a alguns egrégios avós, se levantaram indignadas, chocadas.
 Do fundo do pântano insurgem-se clamores de vários quadrantes e justificações variadas. Porque os homens da luta “desprestigiam a canção de protesto”, porque “não dignificam o país representando-o nos seus trajes ridículos e anacrónicos”, porque… em suma… “e a seriedade, senhores”?
Na verdade, nunca os Homens da Luta causaram tamanho desconforto. Até à data, reduziram as suas performances ao palco do espectáculo, devidamente categorizado e delimitado. São actores e como tal foram vistos até ao momento em que o véu caiu e a arquitectura, o esqueleto, das suas intervenções se desnudou. Ganhar o festivaleiro concurso, vencer o glamour vazio e as falsas lantejoulas dos restantes concorrentes, representa uma conquista em território inimigo, um tiro certeiro no coração do Império - um incitamento à revolta que se glosa a si mesmo, que ridiculariza o clássico discurso da política institucional, ainda reclamadora de uma seriedade impossível, porque sustentada e sustentadora de uma realidade circense. Num infindável jogo de espelhos de uma casa de horrores, saiu vitorioso o absurdo, o non-sense, a subversão estética de contornos inevitavelmente políticos, porque, em última análise, desmascara o grotesco apalhaçado em que se transformou a política institucional e o seu braço armado da cultura mainstream. Não pode haver seriedade no que não é sério.  
 É conveniente recordar que o Festival da Eurovisão é um instrumento institucional da chamada cultura de massas. Consequentemente, a única forma intelectualmente séria de o considerar é reduzi-lo ao que em essência é: um espectáculo ridículo e risível, de forte cariz político. Não se pode, por inerência, colocar em causa a dignidade de um espectáculo que não a possui, porque nos considera indignos, reduzindo-nos a uma espectacular indigência intelectual.
 Mas a surpresa e o choque de todos os que ainda não se libertaram das velhas linguagens estéticas e políticas, não se ficou por aqui. Esta vitória, decidida pelos anónimos dos 60 cêntimos mais Iva e, portanto, conseguida a troco de muitos votos populares, contrários à opinião de um júri “sério” e de uma plateia em traje de gala, revela a emergência de um novo poder que escapa totalmente ao controlo institucional. Como muito poucas vezes acontece, a voz da rebeldia descartou herculeamente, de sorriso nos lábios, forte convicção e a dois tempos, a pretensa seriedade do kitsh cultural e do kitsh político.
 Quem tem acompanhado as intervenções levadas a cabo pelo par perceberá certamente com facilidade que o que se glosa nas suas performances não é o protesto em si, ou a tradicional canção de intervenção, mas antes uma determinada forma de protestar, anacrónica sim (porque ainda herdeira de uma velha forma de fazer política), e por isso representada pelos adereços utilizados. Os que conheceram o visionário Zeca Afonso (o homem que já então se proclamava como o comité central de si próprio), lembrar-se-ão seguramente do quanto se deliciava com o refrão dos Trabalhadores do Comércio: “chamem a polícia, que eu não pago” que fez furor nos anos oitenta, independentemente da sua discutível qualidade musical e da sua inexistente pretensão literária.
Também no caso, a qualidade da intervenção dos Homens da Luta provém precisamente da sua discutível qualidade musical e literária. Pretender o contrário seria uma contradição interna irresolúvel – a qualidade é-lhe conferida, precisamente, pela recusa de uma linguagem estética “séria”, no sentido histórico do termo. Seria impossível desconstruir um discurso utilizando formas e conteúdos que se pretendem recusar.
O jogo de espelhos não terminará aqui.
Em Dusseldorf, os Homens da Luta serão o espectáculo que conferirá dignidade ao espectáculo. Serão os clowns que devolverão essa mesma imagem aos articuladores dos cordéis que comandam as nossas vidas de marionetas. Um exemplo de tamanha coragem só pode merecer aplausos.

4.3.11

FIALHO DE ALMEIDA



Centenários servem para isto: recordar, chamar à memória.
Faz cem anos que Fialho de Almeida morreu - em 4 de Agosto de 1911.
A sua terra natal começa hoje as comemorações ( ver AQUI), tal como Cuba, onde viveu e está sepultado.
Tempo de recordar o médico que ficou conhecido pela sua actvidade de escritor, com dois livros marcantes: Os Gatos ( crónicas de costumes e crítica social) e O País das Uvas. O seu perfil de escritor está bem retratado AQUI.

No nosso LUGAR ONDE podemos ler alguns parágrafos de uma descrição impressionante de Fialho de Almeida sobre a ceifa e os ceifeiros no Alentejo no tempo em que tudo era feito à mão, sob o tórrido sol de Junho.

Carnaval 2011 Esc Madeira Torres 3MAR 052

CARNAVAL

Muita gente não gosta, detesta até. Já passei por isso. Quando vim viver para Torres fugia de cá nestes dias. Depois os filhos cresceram, vieram as brincadeiras de escola, os concursos de máscaras, a pressão para levá-los ao Corso. E acabei por ficar apanhado. Percebi a imensa carga de transgressão que percorre as ruas nestes dias. Homens de grande empáfia e soberba, via-os em trajes inesperados, a brincarem como crianças grandes. A Pandilha percorria os bailes das colectividades e fazia crítica social e política. Os carros alegóricos transformavam os políticos em palhaços, os mascarados desafiavam-se em fantasias imaginosas, e as matrafonas gozavam com o sentido social da feminilidade. Um dia dei por mim a passear num dos Corsos com a minha filha vestida de Robim dos Bosques e eu, de pijama às riscas e um grande nariz de papelão. Apanhado.

Diz-se que está na massa do sangue dos torrienses. Não sei, nunca lhes fiz análises de laboratório. Mas os sintomas devem ser os que eu vejo por aí. Hoje, por exemplo. Na Escola Secundária Madeira Torres vi centenas de jovens numa brincadeira pegada, com dezenas de professores, num convívio fantástico, com crítica e sentido de observação, sem uma nota de mau gosto. Foi o Concurso de Representações, com toda a escola envolvida e a participação dos Reis do Carnaval de Torres e da respectiva Confraria. Uma manhã de alegria esfusiante.
O vídeo que coloquei no youtube diz um pouco o que aquilo foi...

1.3.11

ADEUS ANNIE



Era a imagem de um certo cinema francês. Uma dignidade de ser e estar que saía dos ecrans e se expressava em tomadas de posição pública. Lembro-me dela no filme "La Pianiste", num papel difícil que lhe valeu um prémio.