DA INFÂNCIA
Ainda lá está, Rua Luís de Camões, 44, em Alpiarça.
Uma data por cima da janela do 1º andar: 1937.
Fria no inverno, tórrida no verão. Mas tinha infância dentro, cheiro a maçãs, ruídos noturnos nas madeiras e falas mansas dos mais velhos, noite dentro.
31.12.10
UM LIVRO NO SAPATINHO
Este foi-me dado pelo meu filho João. Ele sabe que aprecio o trabalho de divulgação científica de Nuno Crato, quer nas páginas do Expresso, ( de que este livro recolhe alguns textos), quer na televisão.
Tem a chancela da prestigiada Gradiva. Não é um livro de tese, com grande fôlego investigativo ou ensaístico, mas um conjunto de textos para o grande público em que Nuno Crato aborda os mais variados temas, com uma linha unificadora: a valorização da Ciência e a denúncia dos que a aviltam, relegando-a para o mesmo saco em que metem o ocultismo, a astrologia, os horóscopos e outras que tais.
Hoje, ao ver a notícia na TSF sobre as dificuldades dos alunos adolescentes em lidarem com a Língua Portuguesa e a Matemática, fiz a ligação com um dos textos deste livro, em que o autor deplora a incapacidade dos alunos para lidarem com o cálculo mental, dificuldade que se deve, sobretudo, ao uso das calculadoras desde os primeiros anos de escolaridade.
Leia-se o que diz Nuno Crato no texto intitulado A TABUADA E A MÁQUINA DE CALCULAR:
«(…) há hoje muitos jovens estudantes que sacam das máquinas para resolver as operações mais elementares. Habituaram-se a isso quando estavam na escola e já não o sabem fazer de outra maneira. Ora fazer contas mentalmente é muito útil no dia-a-dia. Serve para comparar preços no supermercado, fazer trocos, medir o tempo, deitar contas à vida... Mas há mais. O exercício do cálculo mental e a memorização, nomeadamente da tabuada, ajudam a desenvolver regiões do próprio cérebro e capacitam os jovens para outras actividades. Há uma janela de oportunidade para essa aprendizagem. Privá-los desse treino em tenra idade é limitá-los no seu desenvolvimento intelectual futuro.
É o que se está a passar com muitos jovens. E a culpa não é deles. Com o pretexto da «aprendizagem significativa» atacaram-se os «vícios da memorização», mas errou-se o alvo. Leia-se o programa de Matemática do 1." Ciclo aprovado em 1990. Diz-se aí que a «máquina de calcular não pode deixar de ter lugar no 1." Ciclo» (jovens dos 6 aos 10 anos). Fala-se nos «cálculos obtidos, utilizando algoritmos ou a máquina de calcular» e depois diz-se que na sala de aula «o professor permitirá que cada criança utilize, com liberdade, o que lhe for mais conveniente». Ou seja, diz-se que o professor não pode impedir uma criança de 6 a 10 anos de usar a calculadora sempre que ela o queira fazer. Ideia semelhante repete-se no Currículo Nacional do Ensino Básico: Competências Essenciais (2001), página 60.
Felizmente, a maioria dos professores tem mais bom senso que os teóricos da pedagogia romântica e percebe bem esta verdade simples: permitir ao aluno o uso da máquina de calcular sempre que o queira é caminho certo para o impedir de desenvolver o cálculo mental.
(…)»
29.12.10
UMA PRENDA
Choupal, Torres Vedras - Foto Méon
Obrigado, querido amigo!
Desta vez o ponto de partida foi uma aldeia, Malta, referenciada no título.
»«»«
MALTA*
É o olhar que liga as fragas
ao fundamento das casas
é nele que as aves iniciam a peregrinação
por soutos e giestas
é nele que a água abrasa
e laboriosamente deposita o pranto.
Sou testemunha
do seu recato
e da sua inocência.
A Dorinda não está, nem volta.
II
Nem sempre a claridade vem do céu por vezes, é o rosto das palavras
que funda a paisagem
escuto:
casula (por debagar)
o carolo de pão (alumiando a mesa)
o açular dos cães, como um grito uma pedra no tecido da manhã.
* Aldeia do concelho de Macedo de Cavaleiros
27.12.10
LIVROS À MESA
Boa escrita de correcto tempero e paladar na confeção literária, e ingredientes de alta qualidade, a saber: sólida formação gastronómica, volúpia na degustação dos acepipes e vastos conhecimentos sobre a presença da arte culinária nos grandes livros e autores. Uma delícia!
Veja-se, para exemplo, o índice dos dois primeiros capítulos do livro citado:
CAPÍTULO I
ESCRITORES À MESA
Pratos e Tratos da Inquisição (António José da Silva)
Camilo e o Caldo Verde
Júlio César Machado
À Mesa d'05 Maias
Eça e o Bacalhau
A Propósito de um Jantar queirosiano
Cesário e a Fruta
A Comida d'Os Gatos.
A Fialhesca Ressurreição
Comendo com Teixeira-Gomes
Aquilino e as Batatas
CAPÍTULO II
MESA COM ESCRITOS
Da Bibliografia Culinária Portuguesa
Velhos Livros de Vetustos Manjares
No Bragal da Infanta
Bento da Maia
Albino Forjaz de Sampaio: um Centenário Esquecido
O Doce Nunca Amargou
Pantagruel de Luto
Um Cravo para Paulo Duarte
Da Terceira, a Primeira
Elogio de Maria de Lourdes Modesto
Associações de Gastrónomos
Da Critica Gastronómica
* José Quitério: jornalista desde 1973, fundou a secção de gastronomia do semanário Expresso e é director da colecção de gastronomia da Assírio & Alvim — "Coração, Cabeça e Estômago"
José Quitério acaba de ver o mérito premiado, com o seu livro "ESCRITORES À MESA ( e outros artistas)", na Assírio & Alvim.
E a notícia sublinha:
«O livro foi galardoado no Gourmand World Cookbook Awards 2010, na categoria de Melhor Livro de Literatura Gastronómica em Portugal. Com este prémio passa à fase seguinte, onde irá competir a nível internacional para o prémio The Best in the World. Os resultados serão anunciados, numa cerimónia a realizar em Paris, no dia 3 de Março de 2011.»
José Quitério é tenaz defensor da gastronomia portuguesa, falta-lhe paciência para as natas no bacalhau e outras invencionices de restauração manhosa. O mesmo acontecia com Fialho de Almeida, de quem fala a propósito de "A Comida d' Os Gatos" e que cita, no final do texto:
"O que é, segundo Fialho, um prato nacional? «Uma composição culinária rebelde a "escrita "dos manuais, característica inconfundível [...]. Transmite-se por tradição: os estrangeiros não sabem confeccioná-lo, mesmo naturalizados: tendo chegado até nós por processos lentos, e contraprovas de biliões de experimentadores, sucessivamente interessados em o fixar na sua forma irrepreensível resulta ser ele sempre uma coisa eminentemente sápida e sadia».«O prato nacional é, como romanceiro nacional um produto do génio colectivo: ninguém o inventou e inventaram--no todos: vem-se ao mundo chorando por ele, e quanto se deixa a pátria, lá longe, antes de pai e mãe, é a primeira coisa que lembra»."
E agora, se me dão licença, apago o computador e vou reler o capítulo "Louvor e simplificação de Gomes de Sá", uma lição de respeito pelo que é genuíno, uma denúncia de todas as mexerufadas culinárias que aparecem por aí com aquela designação.
NOVA IMAGEM DO BLOGUE
Podemos considerar duas perspectivas nisto dos blogues: quem os faz e quem os visita. Fazê-los é um gosto prazeiroso. Para mim, é! Caderno de notas, diário, apontamentos, memorando... seja o que for, torna-se um hábito, uma metodologia de arrumação de coisas que não cabem em mais lado nenhum.
Para quem lê, acredito que seja uma forma diferente de ir à rua e encontrar alguém para dois dedos de conversa. É como passar pela Travessa dos Sete Cantos... Assim o entendo e o contador de visitas diz-me que por aqui vão passando diariamente algumas dezenas de amigos e conhecidos.
Não sei se este "visual" é agradável, se valeu a pena estar com alterações. Na minha perspectiva, tratou-se de renovar o aspecto, desrotinar...
E na vossa? Se entenderem comentar, façam favor, tirei os filtros, é só escrever... Gostava que houvesse partilha.
Abraço!
26.12.10
MELANCOLIA MANSA
UM VELHO
No meio do café barulhento , debruçado
sobre a mesa , um velho está sentado;
com um jornal à sua frente , sem companhia
E no desdém de sua velhice mísera de agora
pensa quão pouco aproveitou os anos de outrora
em que tinha fluência, e beleza , e energia .
Percebe que envelheceu muito ; sente, conhece.
Econtudo o tempo em que era jovem lhe parece
ontem . Como o tempo passa , como o tempo passa !
E
E pensa em como a Prudência o enganou;
ecomo - que loucura ! - sempre lhe acreditou
quando dizia; "Amanhã . Há tempo ." - Que trapaça !
e
Lembra ímpetos que segurou; felicidade ,
quanta sacrificou. Cada oportunidade
perdida deseu saber insensato graceja .
perdida de
o
no
Konstantinus Kavafis
(1897)
24.12.10
22.12.10
UMA HISTÓRIA ANTIGA
Matança dos Inocentes, Nôtre Dame, Paris
Conheci gente interessante, entrei em muitas casas, apercebi-me das diferenças de classes e rendimentos.
Num colégio da Amadora fui recebido pelo Director. Mais do que ouvir-me, ele queria falar com alguém. Entreteve-me mais de uma hora. Conversa fascinante, de resto. Ele era inimigo feroz de Salazar e não se preocupou em pensar quem seria eu, podia até ser delator da PIDE...
Pela primeira vez eu estava a ouvir um verdadeiro oposicionista. Descreveu Salazar como um velho hipócrita, um sacrista sem escrúpulos na tacanhez política de um ditadura paternalista e impiedosa. E como estivéssemos em época natalícia, acabou a nossa conversa declamando a História Antiga, de Miguel Torga, e que eu, maravilhado, ouvi pela primeira vez.
- Sabe quem é este rei da Judeia? - perguntou-me ele. - Não, não é o Herodes! É o velho de Santa Comba Dão! É o Salazar! O homem que não gosta de crianças!...
Recordo hoje esse célebre poema de Torga. Boas Festas, meus amigos!
E evoco esse velho anti-fascista do colégio Alexandre Herculano na Amadora, em 1969, que me escolheu para confidente da sua revolta.
HISTÓRIA ANTIGA
Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.
Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
Miguel Torga
Antologia Poética
Coimbra, Ed. do Autor, 1981
Antologia Poética
Coimbra, Ed. do Autor, 1981
20.12.10
Natal no tal... Que tal?
Hoje às 09:18O Governo vai injectar mais 500 milhões de euros no BPN, através de um aumento de capital, avança o Público, segundo o qual a CGD vai abandonar a administração da instituição.
Falhadas as duas tentativas para a reprivatização do BPN, o Executivo vê-se forçado a aumentar o capital do banco, com vista a limpar a situação líquida negativa.
Esta medida contribuirá para um agravamento do défice orçamental (de cerca de 0,3 por cento do PIB) no ano em que for realizada, escreve o Público, segundo o qual a opção de liquidação também não teria custo zero para o Estado. (...)" (TSF on-line, hoje logo pela manhã...)
19.12.10
LOJAS DOS CHINESES
Multi-culturalismo!
Entrei hoje na mais recente nave comercial aberta pelos chineses aqui em T Vedras. no lugar onde existiu até há pouco uma antiga empresa de comércio e reparação de automóveis.
Mesmo no centro da cidade. Já há mais de vinte lojas nesta zona. E na periferia estão a surgir outras, com grandes superfícies. É o caso das instalações da Renault e da Honda, que entretanto fecharam. Onde é que isto vai parar?
Como é que daqui a cinquenta anos a História definirá esta invasão?
Por trás deste fenómeno há um Estado centralista e totalitário que financia as exportações, com a participação do chamado "mundo livre" através de empresas deslocalizadas, exploradoras de mão de obra barata e sem direitos, sujeita a uma exploração desenfreada.
Como entender a total incapacidade dos decisores políticos europeus para enfrentar esta invasão, aparentemente pacífica mas que, na realidade, está a destruir violentamente toda a estrutura produtiva das nações livres?
18.12.10
COMO QUEM FECHA O OCEANO...
V. Pitschieller
Saudades de tudo!
Saudade, essencial e orgânica,
de horas passadas,
que eu podia viver e não vivi!...
Saudade de gente que não conheço,
de amigos nascidos noutras terras,
de almas órfãs e irmãs,
de minha gente dispersa,
que talvez até hoje ainda espere por mim...
Saudade triste do passado,
saudade gloriosa do futuro,
saudade de todos os presentes
vividos fora de mim!...
Pressa!...
Ânsia voraz de me fazer em muitos,
fome angustiosa da fusão de tudo,
sede de volta final
da grande experiência:
uma só alma em um só corpo,
uma só alma-corpo,
um só,
um!...
Como quem fecha numa gota
o Oceano,
afogado no fundo de si mesmo..."
Guimarães Rosa
16.12.10
15.12.10
SENHORA DE FÁTIMA LOPES
MÃE DOS AFLITOS E DESDENTADOS
Juro que vi e ouvi: a Fátima Lopes chamou três concorrentes e contou as histórias deles. Tinham perdido as dentaduras, cada um de sua maneira. Num programa ao fim da tarde na TVI, “Agora é que Conta”. Parece que dá todos os dias
Nossa senhora de fátima lopes
roga por mim que perdi a dentadura
já procurei na sanita e no tanque das termas
nem sei se a vendi em segunda mão
quando fui à loja de penhores
e emprenhei a carteira com trezentos euros
de uma libra antiga uns brincos
e uma pulseira que me tinha dado a minha avó
antes de morrer a pedir que lhe rezasse missas
pela alminha e o jantar já se estava a queimar
olhei as horas ela morreu já sem pulseira
apaguei o lume a tempo ainda jantei
nossa senhora de fátima lopes
aqui trago a factura as dentaduras são caras
pela hora da morte nem eu já me lembrava
mas tu podes eu te peço ajuda-me lopes
de fátima senhora da têvê ao fim das tardes
eu suplicante de contas e factura na mão
nem já dinheiro para missas tenho
alminha da minha avó de noite pelos casais
como a outra da mãe do camilo pessanha
que não tinha fátima nem lopes a quem pedir
mal de ser português e precisar de dentadura
eu te suplico tanto tanto que eu preciso
de voltar a rir-me com a dentadura toda
a encher a boca de dentes branqueados
reluzentes como a pulseira da minha avó
ave fátima lopes mãe dos desdentados
Méon
14.12.10
PRESIDENCIAIS: COMEÇAM HOJE OS DEBATES NA TV
Em 1972 alguém - de quem tenho muitas saudades - que pecisava de companhia para uma longa viagem de automóvel- convidou-me para ir à Alemanha. Foi a minha primeira saída das fronteiras.
De tudo o que me encantou ressaltou uma coisa: o debate político que presenciei na televisão, em transmissões directas do Reichstag alemão.
Para quem se iniciava na consciencialização política aquele foi um espectáculo fascinante.
Ali debatia-se, havia frontalidade, calor nos argumentos, combate verbal. Eu não percebia as palavras mas alguém traduzia o essencial.
Em Portugal vivia-se em ditadura de Partido único. Marcelo Caetano vinha à televisão fazer as chamadas "Conversas em Família", que era uma coisa revoltante. Ele punha um ar paternalista e dava conselhos aos portugueses... Não havia contraditório, pontos de vista diferentes. A expressão "debate político" só por si já era subversiva.
Não me esqueço desse tempo tenebroso. Por isso, quando hoje começam os debates na TV entre os candidatos à Presidência da República, sinto que devo superar um certo cansaço em que todos nós caímos e exercer um direito de cidadania: participar, ouvir, ter opinião.
Há muita gente com a tentação da indiferença, é verdade.
Como a nossa memória é curta...
PROGRAMA DOS DEBATES:
14 (Terça-feira): Fernando Nobre-Francisco Lopes (RTP)
16 (Quinta-feira): Defensor Moura-Manuel Alegre (RTP)
17 (Sexta-feira): Cavaco Silva-Fernando Nobre (SIC)
18 (Sábado): Manuel Alegre-Francisco Lopes (SIC)
21 (Terça-feira): Francisco Lopes - Cavaco Silva (TVI)
22 (Quarta-feira): Fernando Nobre- Manuel Alegre (TVI)
23 (Quinta-feira): Cavaco Silva-Defensor Moura (SIC)
27 (Segunda-feira): Defensor Moura-Fernando Nobre (RTP)
28 (Terça-feira): Defensor Moura- Francisco Lopes (TVI)
29 (Quarta-feira): Manuel Alegre-Cavaco Silva (RTP)
13.12.10
NEGÓCIOS ESCUROS COM RABO DE FORA
O Afeganistão não tem fábrica de armamentos, mas os talibãs estão armados até aos dentes. O mesmo se pode dizer de muitos outros países, sobretudo em África, em estado de guerra permanente.
As revelações oriundas da organização sueca Wikileaks estão a pôr a descoberto algumas pistas que nos ajudam a perceber esse tenebroso mundo dos negócios escuros. E Portugal também lá está : http://www.esquerda.net/artigo/presidente-do-bcp-ofereceu-se-aos-eua-para-espiar-no-ir%C3%A3o
Quem tem medo da transparência?
E PARECE QUE ENCANTAM
Os DEOLINDA entre os melhores da chamada world music.
Boa notícia, meu! Ver http://blitz.aeiou.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=bz.stories%2F68669
Ouvir: http://www.deolinda.com.pt/
Não sou fã entusiasta mas dá para perceber que têm carácter, um estilo próprio.
Siga a música, então...
SABE ONDE FICA A MACARONÉSIA?
Acabo de ler no jornal diário I:
«A concretização da região da Macaronésia constitui um "momento de júbilo" e marca uma "nova era" no relacionamento entre Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde, disse hoje o primeiro-ministro (PM) cabo-verdiano.
Discursando na 1.ª Cimeira dos Arquipélagos da Macaronésia (CAM), que decorreu no Mindelo (ilha de São Vicente) e institucionalizou a nova organização, José Maria Neves salientou que essa nova era vai também influenciar o relacionamento entre Portugal, Espanha e Cabo Verde.
"Estamos a dar um grande salto, a inventar um futuro, cujos contornos e consequências para esta região do Atlântico, Europa e África não podemos hoje precisar. Mas tenho a certeza de que estamos a fazer história", sublinhou, lembrando o ambicioso projeto de desenvolvimento ligado ao Mar que Cabo Verde tem em curso.
A Região da Macaronésia, ideia do primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, e apoiada por Portugal e Espanha, congrega um total de 28 ilhas habitadas e um mercado potencial de cerca de três milhões de habitantes, extensível, por um lado, à Europa, e, por outro, a África, através da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), de que Cabo Verde faz parte.
Para José Maria Neves, não foi por acaso que se escolheu o Mindelo, para oficializar a Macaronésia, uma vez que está a ser alvo de profundos investimentos, todos ligados ao "Cluster do Mar".»
(Ver o resto da notícia AQUI.) E AQUI, no DN
Tudo o que possa contribuir para unir povos e países é bom.
Só não percebi bem qual o papel dos Negócios Estrangeiros de Portugal nesta iniciativa diplomática mas possivelmente sou eu que ando distraído e ainda não me tinha apercebido de que também sou macaronésio.
12.12.10
PARO ESCUTO OLHO
Vivemos dias de encruzilhada. Ir para onde? Ir por onde?
Gente aflita, perplexa. Embrutecida. Por ignorância, medo, desorientação?
Nunca a vida em sociedade foi tão exigente, parece-me. Os meios de instrução são quase infinitos mas essa abundância funciona em sentido inverso: afasta, repele. Dominar os instrumentos de entender o mundo tornou-se uma tarefa desmedida, mesmo para os que têm treino para isso.
O jornalismo de massas é hoje uma coisa quase inútil. Pura perda de tempo, os telejornais. Sucessão de casos e coisas, a esmo, abordadas pela rama. Um vez ou outra vem um comentador. Um comendador, um comensal...
Que fazer?
O mundo vai pertencer, cada vez mais, a quem domina os mecanismos ocultos e cada vez menos a quem os ignora. E os ignorantes são as massas imensas de gente alienada, borregos a caminho do matadouro, cantando e rindo. Não, não acho que sejam inocentes na sua ignorância. São manipulados, enganados, defraudados, mas parecem comprazer-se nisso.
Nos campos de concentração nazis havia focos de resistência, alimentados por aqueles que já tinham percebido que o fim de todos eram as câmaras de gas. Gritavam essa evidência, mas esbarravam com a inércia da maioria. Ombros curvados, olhos resignados, lá iam para a morte em fila indiana. Porque é que não gritavam, não se atiravam em catadupa contra os guardas, não preferiam morrer electrocutados, numa última arrancada contra o arame farpado?
Vivemos hoje num imenso campo de concentração dourado, cheio de luzinhas natalícias, mas onde muitos já morrem de frio, fome e solidão. Onde está a coragem? A lucidez de procurar saídas?
Ontem eu brincava aqui com as tonterias de Tiririca. Hoje reconheço-me mais grave e responsável.
Não estamos sós, é preciso rebentar com o individualismo. Estudar o mundo, percebê-lo e transformá-lo. Entender que não há fatalidades, há escolhas. Reconhecimento tão necesário perante a aterradora máquina financeira que nos estrangula...
++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
Estas reflexões foram suscitadas pela leitura de alguns textos estimulantes:
http://albergueespanhol.blogs.sapo.pt/761689.html
http://aespumadaspalavras.blogspot.com/2010/12/wikileaks.html
Para contribuir para a transformação do mundo há que procurar percebê-lo...
10.12.10
A POESIA ENSINA A CAIR
Pouco antes de morrer, Eduardo Prado Coelho preparava um volume com textos seus sobre poesia e poetas. Deu-lhe como título A POESIA ENSINA A CAIR.
O livro foi publicado em Setembro deste ano, pela Imprensa Nacional - Casa da Moeda, sob a orientação de Margarida Lages, com textos de EPC que foram originalmente publicados no PÚBLICO, nos suplementos "Leituras" e "Mil Folhas".
Escreveu EPC no final do texto introdutório:
«Nos nossos dias, há a poesia que sobe, e que mantém os restos de um sublime hoje impossível, e a poesia que desce. Tal como há (e Manuel de Freitas nos quis ensinar) os poetas com qualidades e os poetas sem qualidades. Embora não ter qualidades seja um modo de manter a qualidade. E ter qualidades jogue com formas subtis de ironia em que o poema se desfigura clandestinamente.
Devemos assumir que o poema não acredita demasiado em si mesmo, e que, quando acredita, está sobretudo a fingir que acredita. Os tempos não são exaltantes, a mediania domina, as expressões que definem cada dia não nos conduzem demasiado longe. Contudo, continua a escrever-se poesia. Porque, como sugeriu Luiza Neto Jorge, a poesia ensina a cair.»
É uma prosa que desvenda, descerra, aprofunda, interroga. Um diálogo criativo com os textos que analisa.
O que significa o título?
É evidente que a palavra chave é "cair", que não tem um significado unívoco. Depende das circunstâncias, dos lugares, dos contextos. O que está em sintonia com a essência da poesia, lugar de sentidos ambíguos.
Caímos em tentação, caímos doentes, caímos de amor, caímos desamparados, não temos onde cair... A poesia é lugar de queda, condição da mortalidade. Por isso a poesia pode indicar-nos saídas para o labirinto onde caímos quando nascemos...
DECLARAÇÃO DE DESINTERESSE
É certo que tenho algum interesse em saber porque é que não tenho interesse, mas isso é questão para ser resolvida noutro lado, embora não me interesse saber onde.
Nem sei a quem possa interessar este desinteresse... nem qual o meu nteresse em pôr isto aqui...
Coisa mais desinteressante...
8.12.10
Mireille Mathieu - Comme d'habitude ( My way )
Pelo meio de leituras e tarefas a cumprir, de novo se ergue a voz.
Magnífica, esta interpretação de uma canção imortal.
Esou numa de França, já tinha saudades.
Comme d' habitude...
UMA VOZ LÚCIDA
«Sou completamente a favor de um PS que retome, com os olhos bem abertos para o mundo de hoje, a sua inspiração histórica e ideológica. Fui sempre muito crítico do socialismo «moderno». A «modernidade» deste socialismo pareceu-me sempre apoiar-se em duas coisas: por um lado, numa abdicação em relação aos grandes valores do socialismo, à sua matriz igualitária, e às suas grandes causas, como a igualdade, a educação e a cultura. E, por outro lado, numa abdicação perante o poder financeiro e tecnológico. O socialismo «moderno» pretendia-se arejado, descomplexado - mas tudo não passava de deslumbramento com o poder tecnológico e financeiro. O deslumbramento em política é muito negativo. Mas é típico de pessoas com pouco conhecimento da História, que não têm a perspetiva do futuro, que só respiram no curto prazo, que avaliam necessariamente mal as coisas. Não foi por acaso que tive outra opção, em 2004, quando se sufragou o socialismo “moderno” ».
(…)
«Vários políticos, nacionais e estrangeiros, diziam nessa altura que a política ia voltar. Como se a desregulamentação, a ideologia neoliberal não fossem elas próprias políticas... É muito dececionante o que se tem passado internacionalmente, no G20 e na União Europeia. Estamos quase exatamente no ponto em que estávamos há dois anos. E não deixa de ser preocupante que as soluções encontradas para os problemas sejam as mesmas por todo o lado, independentemente da orientação política dos governos. O que aconteceu foi que se esgotou aquilo a que tenho chamado o paradigma do ilimitado, tudo podia crescer sem fim: as matérias-primas, o consumo, o crédito, a dívida. Isso terminou. Desde os anos 70, o crescimento do Ocidente alavancou-se no crédito. Há um crescimento salarial até aos anos 70, depois ele estanca e começa o crédito. Mas se não há mais salário nem mais crédito, como crescer? Qual vai ser o motor do crescimento? Esta é a pergunta. Quanto a nós, é gravíssimo não se ter percebido tudo isto, e as suas consequências, a tempo. Agora deixámos de ter política. Quando só há orçamento, acabou a política.»
0 que se devia ter feito? (pergunta o repórter)
«Desviar, e há muito, o investimento do betão para a qualificação. Investir na criatividade e na formação como base da nossa produtividade e competitividade. Nas universidades, nas escolas, no pré-primário. Penso que foi um erro ter-se prolongado o ensino obrigatório até ao 12º ano, devia era começar-se aos 3 anos. Aí é que começam as grandes desigualdades. E não são as percentagens do PIB que interessa comparar, é a realidade. Vamos a uma escola alemã, e vemos o ginásio, o laboratório, a biblioteca, a mediateca, os instrumentos musicais, etc. Vamos à escola portuguesa e as condições são fraquíssimas, apesar de muitas delas terem agora sido recuperadas. Esse é o nosso maior défice, não é o orçamental. Desde o século XIX, o défice português é o das qualificações, quando a Europa do Norte já estava toda alfabetizada e nós ainda tínhamos 80% de analfabetos.»
Digo eu: uma das tragédias da política à portuguesa tem sido a descaracterização do PS, que fez dele um partido onde a fraseologia de esquerda é desmentida constantemente pela prática de direita. Essa ambiguidade, melhor, essa fraude ideológica, impossibilita qualquer política de alianças, seja à esquerda seja à direita. M. M. Carrilho refere-se também a isso noutro passo da entrevista:
«Criou-se em Portugal uma cultura política de crispação muito acentuada, que é preciso contrariar. Política é negociação. Os eleitorados cada vez mais se fragmentam. O grande tópico, e já há dez anos, na Europa, é como conseguir governar em maioria. Em minoria é uma hipótese que nem se põe.»
Marie Laforêt - Les vendanges de l'amour
Ah! Uma canção ! Em "francês"!
Quem ouça as rádios portuguesas há-de pensar que, actualmente, em França já não há música...
Bem sei, esta chanteuse é bem antiguinha. Mas hoje haverá outras que as nossas rádios desconhecem por completo...
7.12.10
IMAGENS DO MEU OLHAR -Ruínas no nosso Centro Histórico
Antiga Corredoura. As primeiras portas à esquerda eram do último ferrador e do último albardeiro.
Prédio pertencente à Misericórdia, na antiga Praça da Batata, agora Largo Machado dos Santos
CITAÇÃO:
« Os "centros históricos" constituem um elemento central de uma nova sintaxe do espaço urbano. Enquanto objecto de estudo, são um instrumento privilegiado para analisarmos a dialéctica urbana da permanência e da mudança e para apreendermos a cidade no seu todo. É um objecto que permite, ao mesmo tempo, dar conta do hiato entre a cidade imaginada e ensaiada pelos projectos e a cidade vivida.
São estes desafios que nos levam a equacionar a questão dos "centros históricos" e da sustentabilidade cultural das cidade em três dimensões. No contexto das imagens que os projectos e as políticas de transformação urbana difundem e no modo como estas novas imagens se combinam ou entram em ruptura com imagens dominantes. No contexto dos fluxos turísticos e das dinâmicas do mercado urbano de lazeres. E, por fim, no contexto das intervenções urbanísticas e do significado social dessas intervenções. »
Paulo Peixoto | Centros históricos e sustentabilidade cultural das cidades
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