10.12.10

A POESIA ENSINA A CAIR




Pouco antes de morrer, Eduardo Prado Coelho preparava um volume com textos seus sobre poesia e poetas. Deu-lhe como título A POESIA ENSINA A CAIR.

O livro foi publicado em Setembro deste ano, pela Imprensa Nacional - Casa da Moeda, sob a orientação de Margarida Lages, com textos de EPC que foram originalmente publicados no PÚBLICO, nos suplementos "Leituras" e "Mil Folhas".

Escreveu EPC no final do texto introdutório:

«Nos nossos dias, há a poesia que sobe, e que mantém os restos de um sublime hoje impossível, e a poesia que desce. Tal como há (e Manuel de Freitas nos quis ensinar) os poetas com qualidades e os poetas sem qualidades. Embora não ter qualidades seja um modo de manter a qualidade. E ter qualidades jogue com formas subtis de ironia em que o poema se desfigura clandestinamente.

Devemos assumir que o poema não acredita demasiado em si mesmo, e que, quando acredita, está sobretudo a fingir que acredita. Os tempos não são exaltantes, a mediania domina, as expressões que definem cada dia não nos conduzem demasiado longe. Contudo, continua a escrever-se poesia. Porque, como sugeriu Luiza Neto Jorge, a poesia ensina a cair.»

É uma prosa que desvenda, descerra, aprofunda, interroga. Um diálogo criativo com os textos que analisa.
O que significa o título?
É evidente que a palavra chave é "cair", que não tem um significado unívoco. Depende das circunstâncias, dos lugares, dos contextos. O que está em sintonia com a essência da poesia, lugar de sentidos ambíguos.
Caímos em tentação, caímos doentes, caímos de amor, caímos desamparados, não temos onde cair... A poesia é lugar de queda, condição da mortalidade. Por isso a poesia pode indicar-nos saídas para o labirinto onde caímos quando nascemos...

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