Ficámos a saber que todos os Partidos ouviram com muita atenção as palavras do Presidente da República - como se o normal fosse estarem desatentos...
Eu também estive muito atento e agora estou um bocado baralhado. O PR falou em "salvação nacional". Mas nestes dois anos de PPD/CDS toda a justificação política para a austeridade e consequente destruição da economia foi baseada na necessidade de salvação nacional. Ou não?
Eu estava a ouvir o PR e a lembrar-me do que Gaspar escreveu há pouco mais de uma semana, quando reconheceu o fracasso das políticas seguidas até agora, bem expresso nestas imagens:
Peso da dívida pública no PIB
A única coisa que parece ter corrido bem foram as exportações mas, mesmo essas, estão em desaceleração:
Infografias: Negócios online
As propostas do PR partem daqui, acho eu. Trata-se de, também ele, reconhecer o fracasso e tentar uma saída airosa.
Mas a situação já está demasiado fora do seu controlo político. Por isso tenho sérias dúvidas sobre a viabilidade de tais propostas.
Uma coisa parece certa e isso ouvi-o de Joaquim Aguiar: o que vai determinar as soluções futuras é a dívida colossal que terá de ser paga a partir de 2014. Disse ele: "Nessa altura pode dar-se a viragem de a dívida futura superar a dívida passada - e se isso acontecer é o descalabro."
Olho para os partidos da esquerda - os tais que nunca governaram - e gostaria de encontrar neles um sinal de futuro. Mas não encontro nada.
O PCP repete até à exaustão a necessidade de uma política patriótica e de esquerda e não sai disto. Quando procuro saber quais são essas linhas, encontro uma listagem enorme de medidas que só serão viáveis com uma injecção inimaginável de investimento. E nada encontro sobre a origem desses capitais.
Sendo certo que o PCP nunca poderia governar sozinho, pergunto-me qual a sua política de alianças e qual o programa de governo a negociar com possíveis aliados. Só encontro formulações abstractas, sem qualquer base concreta que tenha em conta o quadro político actual.
O BE vai mais longe quando se dispõe a ser governo. Mas com quem? E com que bases programáticas passíveis de serem negociadas com outros?
Portanto, pelo lado dos partidos da contestação nada podemos esperar. Eles acenam com as eleições na crença ou na fé de que o povo sofredor vai - finalmente! - acordar e votar massivamente neles. E andam nisto há 30 anos, com os resultados que conhecemos.
Volto-me para outro lado e vejo o PS a bater o pé pelas eleições, confiante no descontentamento e crente numa maioria absoluta. Vem agora, pela primeira vez, dizer que está disposto ao diálogo desde que o PCP e o BE não sejam marginalizados. Percebe-se: pisca o olho à esquerda mas prepara-se para mais uma traição, como sempre. Chegado ao poder, alia-se ao grande capital.
Quanto ao Governo PSD/CDS só espero que retire das palavras do PR a conclusão óbvia: demitir-se, já que o PR não quis envolver-se na negociata que foi o acordo Passos/Portas. Ou então, que se recolha à condição de Governo de Gestão e não faça mais porcarias...