Ruas de Sal Rei, capital da Ilha da Boa Vista
Este podia ser um postal turístico da praia de David, perto de Sal Rei
Mas não é nada turístico!
Alguém juntou o lixo e depois ninguém o foi buscar. E o jovem casal de italianos, que por ali estava a banhar-se, teve a desagradável surpresa de ser assaltado, pouco tempo depois de lá termos estado a tirar estas fotos. Viemos a saber disto na manhã do dia seguinte...
Regressado de Cabo Verde, não me tem apetecido escrever nada. Porquê?
Estive lá em 2001 e não me senti deprimido como desta vez. Nessa altura observei uma sociedade pacata, de gente afável, vivendo como nós vivíamos nas nossas aldeias há 50 anos. Faltava muita coisa, é certo, mas havia segurança e genuinidade.
Passados poucos anos, tudo está a mudar rapidamente. Os bens de consumo já aparecem em força: sumos, pastelaria, telemóveis, brutos carros TT, roupas...
Há construção civil por todo o lado, com a consequente formação de bairros problemáticos com ilhéus deslocados para as obras, ignorando laços e regras de convivência.
Notam-se diferenças abissais entre a geração nova e a precedente. Diferenças de modo de ser e estar. Os lutadores pela independência geraram filhos cada vez mais dependentes. Das modas, do ter, do mostrar. Jovens gingões, muitos a viverem das remessas dos emigrantes que alimentam egoísmos juvenis sem perspectivas.
Há mês e meio choveu em Cabo Verde. Irrompeu o verde das ervas, coisa rara por aquelas bandas. Os mais velhos foram para as hortas, semearam milho, feijão... Em três semans, com o calor, as plantas cresceram a olhos vistos.
Também aqui os constrastes são visíveis. Horta é coisa de aldeia, nas cidades a vida é outra.
As cidades! Estive na Praia (Santiago), Sal Rei ( Boa Vista) e Mindelo (S. Vicente). Construção galopante. Mas por cada prédio concluído, ficam cinco a meio, com paredes por rebocar, ou semi-erguidas, com ferros espetados no ar, materiais de construção espalhados. À excepção de algumas ruas antigas, calcetadas ou alcatroadas, temos a sensação de estar na faixa de Gaza ou no Iraque: ruas de terra, sem passeios, tudo muito precário, muito lixo, muitos restos...
Há resorts turísticos, até estão a aumentar. Mas tendem a ser espaços fechados onde tudo é diferente, onde há conforto, segurança vigiada.
Segurança: outro dos grandes problemas que não vi há sete anos. Agora já são frequentes os roubos, os assaltos. À noite não andava sozinho pelas ruas. Europeu, com a sacola ao ombro ( com euros...), era põr-me mesmo a jeito de... E mesmo de dia...
Um casal que se banhava sozinho numa praia deserta, perto de Sal Rei, foi assaltado, e levaram-lhes o jeep que tinham alugado...
Nada disto é diferente do que vivemos por aqui, é verdade. Mas foi isso mesmo que me deprimiu: como era bom que aqueles espaços fossem diferentes...