19.7.13
O GRANDE TEATRO
"Enquanto a Europa não acordar para os problemas internos relacionados com o Euro vamos andar a definhar até colapsar. Não é possível ter uma moeda única sem politica e económica e monetária comum. Ou se assume os problemas de alguns como um todo ou então o euro tem os dias contados."
Copio este pequeno comentário que encontrei por aí numa notícia avulsa porque me parece que ele vai ao essencial: o problema do Euro como moeda única.
Sem políticas económicas e fiscais únicas não há saída. O caso anedótico - mas revoltante - de grandes empresas portuguesas a pagarem impostos na Holanda é um indício fulgurante desta evidência.
É por isso que a chamada "crise política portuguesa" nos parece tão estranha ou mesmo estúpida. Os actores políticos aparecem aos nossos olhos como mentecaptos. O PR a propor "salvação nacional" e entendimento aos Partidos como se a divergência e a oposição não fossem da própria natureza da existência de Partidos. No limite, Salazar já havia encarnado esta "União Nacional" em nome da salvação da Pátria.
Amanhã iremos assistir ao jogo do "passa-culpas" por causa do insucesso das negociações e, mais uma vez, estaremos contra esses ineptos que "não sabem pôr o interesse nacional acima dos seus interesses".
Salvo melhor opinião, acho que este é um jogo viciado. Ou um teatro em que se pede aos actores que representem uma peça sem que conheçam o texto. "Olhem! Improvisem! Façam o que vos parecer melhor!..." Mas, às escondidas, os actores principais são instruídos para que digam e façam o que os autores na sombra entendem melhor para os seus interesses.
E é assim que os actores políticos se movimentam no palco. E nós, sem percebermos o guião... É um teatro simultaneamente cómico e trágico. Chamamos "Palhaços" aos actores que lá andam e enfurecemo-nos com eles, ao mesmo tempo que as suas pantominas têm consequências trágicas nas nossas vidas.
Os autores e o verdadeiro guião desta peça estão noutro lado. São os interesses financeiros, "os mercados". São as grandes empresas alemãs com seus burocratas de serviço. São os banqueiros. ( Em Portugal, os banqueiros são dos mais bem pagos da Europa...). Esses é que comandam as nossas vidas a partir de um palco que mantêm animado para nos entreterem. Para que, tal como os espectadores alienados, julguemos que o palco é a verdadeira vida, é "a realidade". Os actores que lá andam não passam disso: actores. Não mandam nada. Estão ao serviço de quem manda. E ganham com isso.
Porque é que não há uma política fiscal e monetária comuns?
Porque isso não interessa aos donos do teatro. A"crise" permite drenar milhões de euros do sector do trabalho para o do capital.
Isto faz-me lembrar a "alegoria da caverna", de Platão. Só vemos sombras, convencidos de que é a realidade. Como sair disto? Pela técnica de Bertolt Brecht: distanciação face ao que se passa no palco, tentando descobrir as engrenagens que suportam o enredo, não embarcando na ilusão de que estamos a ver coisas reais.
Será mais útil, portanto, tirarmos o som à televisão. Eles ficam por ali a andar e a gesticular, só para nos assegurarmos de quem são os actores em palco. E nós, sem nos distrairmos com o seu palavreado, teremos tempo para procurar e estudar o verdadeiro guião da peça.
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2 comentários:
É melhor tirar som e imagem, senão
ainda partimos o que não queremos..
BFS
Abraço
Obrigado, amigo Andrade.
BFS para si, tb
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