Peguei no livro numa Feira, vi o bigodes da capa e pensei que "Glória" seria uma mulher que ele tivesse amado ou assim. Depois li na contra-capa:
«Vieira de Castro não queria perder a vida num remoto canto da província. Queria conquistar Lisboa e o país. E, sobretudo, que o amassem e o admirassem. Queria glória». É a partir da biografia deste homem, José Cardoso Vieira de Castro, que, na segunda metade do século XIX foi «um dirigente académico com alguma importância; um jornalista menor; um escritor sem talento; um político sem poder; um criminoso e um degredado» - que Vasco Pulido Valente constrói uma obra que ele próprio classifica como um livro de história: «Não é um livro de história a fingir de romance, nem um romance documental.», mas história em que as pessoas não se iludem. Glória é um livro sobre a ambição, a paixão, o poder, o dinheiro e o crime
Pegar numa figura do século XIX e fazer dela o centro de um livro de 478 páginas é um projecto arriscado, sobretudo quando se trata de um tal Vieira de Castro.
- Quem? Vieira de Castro??? Quem é esse?....
Vou já a isso. Um dos livros do nosso século XIX de que mais gosto tem por título «Memórias do Cárcere». Não é um romance, é um conjunto de recordações, magnificamente escritas por um homem preso numa enxovia da Relação do Porto e que aproveitou bem o tempo para conhecer e relatar as vidas de outros presos. Homem especial, este: trata-se de Camilo Castelo Branco, que ali conheceu José do Telhado, de quem relata a comovente história, e que teve a suprema distinção de ser visitado pelo Rei D. Pedro V, que lá se deslocou só para o cumprimentar.
Naquelas memórias, Camilo fala de um seu amigo, Vieira de Castro, e logo aqui começa a especial relevância do homem que Vasco Pulido Valente resolveu estudar e apresentar como tipo característico de uma certa maneira de ser português no século XIX. E de tal maneira o faz que nós acabamos por conhecer a História deste período através dos acontecimentos que marcaram a vida de Vieira de Castro: as lutas político-académicas dos estudantes de Coimbra - em que aparece, por exemplo, Antero de Quantal -, as manigâncias e tramóias da política, a preponderância da imprensa escrita na opinião pública da época - muito mais do que acontece hoje... - as raposices da justiça.
Este século XIX aqui retratado por V.Pulido Valente é um cadinho do Portugal que desgraçadamente ainda somos. É bom que o conheçamos para melhor nos entendermos. Isto me motivou ,mais a necessidade do trabalho preparatório da próxima página LUGAR ONDE.
Acrescente-se o picante de um crime de honra que levou Vieira de Castro ao degredo em Angola e teremos um livro de História que se lê como um romance. Assim o li e muito apreciei.
1 comentário:
Também o li e apreciei. Vasco Pulido Valente é um grande cronista.
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