11.7.10

UMA PEQUENA GRANDE EXPOSIÇÃO

Na Galeria Municipal DOISPAÇOS, de Carla Rebelo, intitulada O Outro Lado.
É constituída por seis peças escultóricas em diálogo com o espaço para o qual foram expressamente construídas. A leitura que delas fez a própria autora ajudou-nos a aprofundar o nosso olhar mas, para quem não esteve na abertura, há um pequeno e discreto catálogo, com textos de Margarida Prieto, que abre caminhos para a nossa melhor compreensão/percepção.

Veja-se o texto seguinte, sobre a peça da foto:

O outro que era eu

«Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É um conceito nosso em suma, é a nós mesmos que amamos»
Dois assentos situados à mesma altura estão unidos por uma estrutura que, ao imitar, por repetição, a estrutura de estabilidade das pernas das cadeiras convencionais, sugere, também, um escadote. A peça desenvolve-se em meia-lua, numa semicircunferência cujo ponto de equilíbrio é, em rigor, o que mantém cada um dos assentos, situados nas duas extremidades, nivelados. Trata-se de uma dupla cadeira, metáfora da artista para a «relação perfeita», pois estes assentos enfrentam-se, evocam um par dialogante e frontal e, ao menor toque, toda a estrutura oscila com um balouçar que os faz subir e descer à vez, sempre equidistantes, sempre de frente um para o outro. Esta escultura remete inevitavelmente para o objecto lúdico de infância: o balouço para duas pessoas, que oscila com o peso, será sempre um dispositivo pedagógico e fonte de prazer. Proporciona uma experiência da ordem da física onde o peso, o volume, o equilíbrio e a quantidade interagem na brincadeira
Se a escada é acesso, aqui é o acesso ao outro. A escultura é a da(s) figura(s) ausentes. Instalada com grande sentido cénico, a peça projecta uma sombra, duplicação planificada do objecto. O «mais um» de uma aparente repetição em sombra é, aqui, confirmação de uma nova entidade com características próprias: um «outro» assombrado ou especular que acompanha sempre a peça escultórica, para a completar, unificar e/ou transfigurar. Também o título acrescenta uma dimensão, produtiva de uma sombra «psicológica» sobre o «outro». É a sombra do próprio «eu», de um «eu» que é, também, projecção especular. Desta forma, a artista formula um jogo de abismos a partir da sombra, duplicando-a real e virtualmente, tornando-a metáfora de projecção especular, (re)dimensionando-lhe os contornos numa oscilação que vai do próprio ao «outro». O jogo de sombras, convocado pela artista, flutua entre identidade e alteridade e é este o movimento que lhe concede um sentido inteiro.

1 comentário:

Lilá(s) disse...

Estou convencida, claro que irei arranjar um espaço nas minhas férias...obrigada pela sugestão.
Bjs