É da História: qualquer religião, quando é maioritária numa sociedade, tende a tornar-se intolerante para com as outras religiões e para os não-crentes.
O próprio marxismo, que punha em causa a irracionalidade da crença religiosa, acabou por se tornar um sucedâneo da religião, quando substituiu a liberdade de pensamento individual pela disciplina da organização política e se transformou no leninismo. [ Daí a "santificar" a figura de Lenine foi um passo, como até há pouco tempo se via no Mausoléu da Praça Vermelha de Moscovo. No mais recente congresso do PCP era bem visível o olhar de Fé dos militantes perante a arrebatada intervenção de Odete Santos. Vi o mesmo tipo de olhar em Fátima... E o que se passa com Fidel de Castro é do mesmo teor da reverência religiosa...]
O que há de comum nestas manifestações é a ausência de capacidade crítica individual. E esta, quando se manifesta, é apenas para o interior da organização, para não dar argumentos aos inimigos, os outros, os que estão fora, que não têm a Fé, a crença, a militância.
É nesta perspectiva que leio as palavras do Patriarca de Lisboa sobre os muçulmanos. Lembrando como em Portugal, ainda há poucas décadas, era impossível alguém numa terra pequena afirmar-se independente da religião católica e querer casar pelo civil. Ou não baptizar os filhos assim que estes nasciam.
E lembrando também que, na terra em que nasci, Alpiarça, onde o PCP tinha 60% de votos nas eleições pós 25 de Abril, alguém que se declarasse apenas "socialista" ou "social-democrata" era considerado perigoso fascista...
Tal como, em Fafe ou Famalicão, ser-se do PS era um perigo, era ser "comunista", como defendia o famoso caceteiro eclesiástico, o Cónego Melo...
Em suma: só a liberdade de pensamento individual e a defesa do primado da Razão podem defender-nos de todos estes desmandos. Voltar ao "Século das Luzes" - sem esquecer os posteriores avanços das Ciências e as limitações do Positivismo estreito...
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