A questão da licenciatura do ministro Miguel Relvas não me surpreende. Como já não me surpreendeu o caso Sócrates e o seu curso de engenheiro.
Nos anos 80/90 os cursos superiores foram aparecendo por todo lado, abrindo ofertas aos piores alunos que não conseguiam médias para as universidades clássicas. Desde que se pagasse...
Muitos professores dessas instituições eram das estatais que faziam uma perninha para abicharem uns cobres e cuja colaboração prestigiava as novas universidades.
Ao fim de alguns anos era ver os tais alunos a passarem à frente dos esforçados das universidades estatais, sujeitos a critérios de rigor mais exigentes, em concursos para professores, por exemplo.
Assim se estabeleceu a lei da balda. As universidades estatais clássicas tiveram de optar pelo facilitismo para não ficarem para trás. Mas as outras já iam muito adiantadas no processo.
Os casos Sócrates e Relvas são uma consequência natural.
Outra, bem pior, é que os cursos superiores se descredibilizaram como é bem patente na elevadíssima taxa de desemprego dos jovens graduados com licenciaturas ou mestrados.
Outra, ainda, e muito pior, é a mensagem que passa para os jovens: vejam, não se chateiem muito, andem pelas Jotas partidárias, colem cartazes, colem-se aos líderes; não liguem a esses professores chatos e exigentes que vos pedem para estudarem...
Podíamos ir ainda mais longe e reconhecer que tudo isto é sintoma da grande mudança de paradigmas civilizacionais. Estamos na sociedade do espectáculo, do fútil, do relativismo cultural.
O livro de versos do senhor reformado Manuel Abreu que assim ocupou os tempos livres tem tanto valor como a obra mais recente de Herberto Hélder - pelo menos é o que diz o jornal da terra...
Numa galeria de arte uma escultura de tachos ou um fardo de palha têm tanta legitimidade como a obra de um artista da velha escola...
Exagero, claro. Os casos Sócrates e Relvas também são exageros de espertos que não hesitaram em tirar o máximo partido desta filosofia de "novas oportunidades", úteis para quem não estudou no tempo certo e quer passar por cima, a qualquer custo, de quem queimou as pestanas
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