O Jornal de Letras desta semana interrogou alguns escritores sobre o que pensam acerca da sua intervenção pública nos problemas sociais e da responsabilidade dos intelectuais na análise desses problemas.
Estamos longe da querela "presencistas" vs "neo-realistas" que incendiou a vida cultural portuguesa nos anos 50/60 do século passado, por isso a questão nada tem de controverso. Até porque estamos habituados às intervenções políticas de gente das letras nestes anos pós-25 Abril74.
A coisa talvez tenha ganho actualidade por causa do manifesto EUROPE OU CHAOS? de um grupo de intelectuais europeus em defesa do projecto Europa, recentemente divulgado.
O cidadão comum que se sente cada vez mais perplexo com o rumo da economia política - ou da política económica? - necessita da perspectiva informada e culturalmente sustentada dos intelectuais/escritores/artistas. E estes não podem eximir-se a essa responsabilidade de cidadania.
Eis algumas respostas.
Lídia Jorge:
«Pessoalmente, porém, sinto-me próxima e aprecio aqueles que também se
envolvem com a mudança do mundo e a ajuízam em voz alta, os que vão pisar a rua
quando é preciso, e se submetem ao risco de errarem publicamente sobre os
assuntos públicos. Eu nunca aprendi tanto sobre a Europa quanto há dez anos,
num congresso de escritores europeus em Hamburgo, em vésperas da declaração da
Segunda Guerra do Iraque. Vinte e três escritores estavam unidos na ideia de
que a guerra era injusta, mas os mesmos ainda estavam divididos pelas memórias
dos seus próprios passados.
Alegro-me que um grupo de escritores europeus tenha, nos últimos
dias, dado um sinal de alerta pelo futuro da Europa. Não me parecia errado que
os escritores fizessem uma grande frente contra o desmantelamento do sonho
europeu. Porque deixamos que a economia, que tudo parece saber, e afinal tão
pouco sabe, nos roube até as nossas próprias palavras? »
Manuel Alegre:
Amanhã trarei outras...
Manuel Alegre:
«A sibila do
mundo globalizado está no Goldman and Sachs, no FMI e no BCE. Os oráculos dos antigos deuses deram
lugar aos novos oráculo: as cotações da bolsa, as ordens de compra e venda dos
corretores. Que pode um escritor num mundo assim, ainda para mais com o poder
mediático a impor dia a dia, hora a hora, a hegemonia ideológica do número e do
cifrão? Não pode mais nada senão escrever. Talvez seja muito pouco. Ou talvez
seja muito. É, como foi sempre, mas hoje mais do que nunca, um combate
desigual. Garrett acreditava que a pena pode mais do que a espada. Quem sabe?
Talvez um dia a poesia consiga o que a política não pode ou não quer: vencer a
ditadura dos mercados. Oxalá.»
Amanhã trarei outras...
2 comentários:
Ainda bem que os nossos escritores podem falar e escrever.
Vivi muitos anos na ditadura. Fiquei farto.
Joaquim Cosme
Gostei muito Joaquim,
...'oxalá'!como disse o poeta Manuel Alegre _ que a poesia faça o milagre!
abraços e obrigada pela excelente partilha.
Enviar um comentário