10.5.09

CARTA A UM JOVEM QUE É CONTRA AS TOURADAS









Estou perfeitamente de acordo com essa opinião. Seria incapaz de comprar um bilhete para ir assistir a uma tourada. Acho que o movimento anti-touradas tem toda a razão de existir. Liberdade de expressão deve ser coisa sagrada.

Mas as coisas não são assim tão simples. Se fossem, não havia males no mundo. E a realidade mais demorada de alterar é a das mentalidades.
O movimento anti-touradas parece-me cometer um erro infantil ao privilegiar como forma de acção
manifestações contra os que vão ver uma tourada.
Que pretendem? Convencer os aficionados que já estão à porta de uma praça de touros e que acabam por ficar furiosos com quem lhes vem estragar o passa-tempo? Não será esta a pior opção táctica para quem tem como objectivo acabar mesmo com as touradas?

Aa minha memória de 48 anos de moralismo imposto pelo "Estado Novo" levam-me a repudiar todas as tentativas de IMPOR condutas morais aos outros. Sei - SABEMOS! - onde isso leva...
Escrevam livros, revistas, blogues. Façam muitas manifestações. Mas diante da Assembleia da República (lá onde se fazem as Leis...).
E, já agora, não esqueçam outros animais: é uma tortura diária para um cão de grande porte viver confinado a um apartamento. E há milhares a viverem nessas condições. E que dizer dos animais criados para abate - aves, suínos... - aos milhares, apertados, com luz artificial para comerem dia e noite e engordarem no mais curto espaço de tempo?

Cada um tem as prioridades que lhe parecem mais acertadas. OK!
Mas - AQUI E AGORA – talvez pudessem também:

1 - Denunciar as falências fraudulentas de empresas que deitam para a rua milhares de trabalhadores que nunca mais arranjarão outro emprego...
2 - Denunciar o licenciamento de dezenas de grandes superfícies comerciais, enquanto o pequeno comércio de proximidade agoniza, com todas as terríveis consequências sociais e de desequilíbrio da vida urbana...
3- Denunciar a exploração da saúde pública pelas grandes multinacionais dos medicamentos...
4 - Denunciar a incapacidade dos nossos políticos em reformar o sistema de Justiça, indo ao encontro da sensação de insegurança da população...
Etc... Etc...

Contra as touradas? Tudo bem! Mas neste contexto em que vivemos até parece que vem ajudar a esquecer males muito maiores!

4 comentários:

Unknown disse...

Méon,

De repente dei comigo a pensar...como seria bem mais fácil o ser humano ser capaz de respeitar os restantes seres viventes do planeta!!!!
Teria tanto para aprender com os ditos seres "irracionais"!!!! Nem que seja o simples gesto de carinho...dois pássaros que se aconchegam no ninho; a cegonha que se empoleira para proteger os filhotes; a imensa ternura que alaga os olhos de um cão ao rever o dono a quem se afeiçoou,o usro polar que ensina a cria a sobreviver...
Quantos de nós, HUMANOS, somos dignos da nossa humanidade?E os que vivem à nossa beira? Onde lhes estendemos as mãos??? Onde o afago de um olhar?? O calor gratificante de um abraço???

Beijinho.

Mata-bicho (mas não vai à tourada) disse...

Valente Moedas. Desta vez estou de acordo consigo! Detesto touradas e nem sequer sou o típico "amigo dos animais". Nao gosto nada de cães e como bichos a torto e a direito, desde caracóis a bois.
O que as touradas têm de grave, qto a mim, é fazerem da tortura (e da morte) um espectáculo, ao velho estilo dos autos da fé. É isso que é impróprio para a humanidade que se considera ilustrada e acima das outras espécies animais.
Esta é uma questão de CULTURA e não de imposição moral, como alguns pretendem. Até porque uma sociedade com moral só pode ver os moralistas como uma imoralidade. Trocadilho do caraças, hein?
Abraço!

Maria Faia disse...

Amigo Méon,

Assino por baixo.
Está muito correcta esta sua avaliação e, eu sou daquelas que não consegue ir a touradas ver sofrer os pobres animais para que os animais humanos se sintam alegres e felizes.
Pergunto-me como pode um espectáculo sofredor transmitir alegria a alguém mas, na verdade, todos somos diferente (felizmente) e com direito e capacidade de promoção das nossas escolhas.
Nem sempre as melhores, é certo, mas são as nossas.

Um abraço amigo,
Maria Faia

Paúl dos Patudos disse...

Este assunto dava pano para mangas com diz o povo...
Abraço conterrâneo
Ana Paula