Alpiarça: um pequeno concelho do Ribatejo
Alpiarça, anos 50. Terra de trabalhadores rurais pobres e de latifundiários / lavradores ricos. A maioria dos rapazes que frequentava a Escola Primária, na Rua José Relvas, andava descalça e vestia de cotim, um pano delgado e desconfortável de que se riam os Invernos rigorosos e os Verões escaldantes.
A minha casa não era rica mas tinha uma vantagem: um ordenado fixo. Muito pequeno mas certo, ao contrário da esmagadora maioria daquela pobre gente, sujeita à sazonalidade do trabalho agrícola. Havia fome nas ruas de Alpiarça.
Dos meus colegas de Escola apenas ficou a memória de alguns poucos pois só lá vivi até aos 18 anos. Para mim Alpiarça passou a ser o lugar que se visita uma ou duas vezes por ano.
Um dia destes tive uma surpresa! Um desses longínquos colegas veio ao meu encontro com este texto que aqui deixo e que, a meu pedido, ele autorizou a tornar público. Ele é um testemunho tocante de alguém que soube dar a volta à vida. Depois da tropa em Angola emigrou para França. Lá comeu o pão duro dos emigrantes. Mas triunfou! Hoje vive o merecido desafogo de quem teve a coragem de lutar.
A vida, "tão curta para o tamanho dos nossos sonhos", tem a intensidade que os sentimentos e a sensibilidade lhe derem.
Querido companheiro José Vicente: obrigado por teres vindo até aqui. Um dia destes havemos de nos sentar à mesa, no "Nortenho" da velha rua onde morei, lá perto da barbearia onde os teus anos de rapaz foram gastos em barbas e cabelos de tantos que já não voltam...
Ao navegar na internet sobre tudo que diga respeito a Alpiarça minha querida terra, encontrei o teu blooger sobre Alpiarça. Fiquei contente em ver a tua foto , e a carreira que fizeste no professorado. Amei muito sobre o som dos nossos sinos da igreja, em que dizias que ainda hoje ouves esse som, pelo que li com saudades.
Pois é...... Eu também estive emigrado fora da nossa terra 35 anos, nesse tempo muitas vezes lembrava-me da nossa terra sempre com o fundo do som dos nossos sinos. Que saudades, doía cá dentro. Não tenho vergonha de dizer que muitas vezes chorei, e mais em França tinha uma vida tanto famliar como material feliz, mas faltava-me os sons, os cheiros, os amigos,o ambiente de Alpiarça.
Ao ponto assim que me reformei em França, o meu primeiro objectivo foi regressar a Alpiarça, onde comprei um lar bem perto dos sinos da igreja. Verdade deixei em França a maior parte da minha vida, minhas filhas e meus netos, eu sei que eles lá são felizes , mesmo estão felizes por saber que tanto eu como minha esposa somos felizes aqui em Alpiarça, jà hà três anos. Claro, agora vou visitá-los duas vezes por ano em França.
Bem, agora quem sou eu? Vou explicar, eu andei na escola com o Quim Zé Nascimento, assim João Mateiro, o Quim Kà Romão e eu sou Zé por alcunha o Migarola, que depois foi aprender o oficio de barbeiro, numa barbearia que ficava em frente à loja do Gabriel Fidalgo, ao lado da estação dos Correios. Não sei se te lembras de mim mas eu ainda parece-me ver o teu pai excelente pessoa o Sr. Duarte, homem de muito repeito, com uma grande mansidão no falar para toda a gente, assim como tua Mãe e irmã, e claro lembro-me de ti, bom rapaz.
Pronto, o motivo principal de te escrever porque tocou-me prefundamente foi os sons dos nossos sinos como dizias, e também senti isso là fora, e assim desabafei contigo,e ao mesmo tempo, tive prazer em entrar em contacto com o meu amigo Joaquim Duarte.Um braço de José Vicente
7 comentários:
foi com alguma emoçao que li a carta desse amigo de Alpiarça e veio uma saudade grande que me fez chorar pois sempre que veijo a igreija ,os sinos o adro e tudo que me faz recordar o nosso saudoso pai fico com uma vontade enorme de ir a Alpiarça e visitar os sitios em que por la andamosbjos
Por essas e por outras é que eu gosto da blogosfera, Joaquim Duarte!!!
Fiquei comovida!
Beijinhos e bom fim de semana
Alcinda
Bom, no que diz respeito a carta sobre Alpiarça, os sinos, nao me recordo de nada, já quando fala no Grande Senhor Duarte, ai sim, deixa um aperto... uma grande saudade do meu Avô Duarte. Foram cerca de 4, 5 anos de vivência diária...
Um grande abraço tio
Que maravilha! emocionei-me ao ler...
Quando falamos da nossa terra, o coração enche-se de luz. Eu sinto isso. Quanto às pessoas, existem boas e menos boas, como em todo lado. Somos um povo com uma forma muito forte e vincada de viver a vida: lutadores, trabalhadores, honestos, enfim , ligados às nossas raízes.
Qaunto ao Senhor Duarte, apesar de eu só ter 48 anos, lembro-me perfeitamente dele. A tratar da "sua Voz de Alpiarça", da sua dedicação à Igreja, tendo tudo muito organizado e limpo. De uma simpatia enorme, e por quem, nós, miúdos, tinhamos enorme admiração e respeito. Deixou saudades.Na sua figura magra e elegante pedalando na sua pasteleira, lá seguia desde a Rua Luis de Camões até ao seu emprego.
Amigo: felicito-o pelo Pai que teve.Parabéns.Apesar de já ter partido para a longa viagem, marcou-nos a nossa infância.
Abraço conterrâneo para si e a sua irmã, que também conheci na catequese
Ana Paula
Méon,
e a VIDA traz surpresas gratificantes quando menos se espera...
Que essas MEMÓRIAS perdurem no teu coração e no de todos quantos te são queridos...
Beijinho.
Alpiarça poderá vir a ter o seu “Museu da Luta Antifascista”
Com a requalificação do antigo edifício da Câmara, onde se encontra actualmente o Posto da GNR, existe a preocupação por parte da autarquia para a salvaguarda do património alpiarcense.
Este edifício está ligado directamente à história de luta antifascista do povo de Alpiarça, pois nele se encontram os calabouços que eram destinados aos dissidentes do regime.
Uma ideia que tem vindo a ser trabalhada com a ajuda do Comandante da GNR e cujo resultados tem sido positivos.
Esta proposta foi também apresentada ao Secretário de Estado da Administração Interna que recebeu a ideia com bastante receptividade. Mesmo não havendo confirmações para com o projecto apresentado pela Câmara, a «necessidade desta requalificação há muito que é sentida, tendo sido equacionadas várias soluções que as conjunturas ao longo dos anos não permitiram concretizar» mas a ser possível será elaborado um protocolo com a Administração Interna para que Alpiarça possa ter o seu “Museu da Luta Antifascista"
Publicada por Jornal Alpiarcense em Domingo, Outubro 04, 2009
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