O meu jovem visitante João deixou um comentário ao post de ontem. Achei-o interessante e motivador de diálogo / resposta minha. Aqui ficam, um e outro. Pode ser que mais alguém queira participar...
Isto parece-me um problema geracional.
Que percentagem de portugueses tinha uma colecção razoável de livros em casa nos anos 50?
Infelizmente os livros vão desaparecer assim como praticamente desapareceu o vinil e vão ser substituídos por livros electrónicos (alguns possivelmente fazendo uso do papel).
Os jovens hoje em dia dominam a tecnologia, e o ensino (quer em casa quer na escola) praticamente não faz uso dessa tecnologia.
Problema de civilização? Não será tanto. Penso que é a evolução natural das coisas. O preço que pagamos por ter uma civilização cada vez mais evoluída.
Eu ainda gosto de estudar à maneira antiga mas é cada vez mais dificil. No meu portátil tenho milhares de artigos. Seria difícil pegar nessa quantidade de papel e ir estudar para uma esplanada. Para não falar da quantidade de papel que se poupa.
Hoje em dia com o portátil é muito, - mas mesmo muito! - mais prático: ele é artigos, livros, leitor de música, leitor de DVD, agenda, etc. etc. ...
Penso que seria um disparate obrigar as pessoas a estudarem à maneira antiga. Houve uma altura que as pessoas estudavam com tábuas de pedra, depois papel e agora ecrãs de computador.
O problema não está na forma como se aprende. Isso tem mudado ao longo da história e continuamos a aprender.
Penso que o primeiro passo para resolver o problema é aceitar com naturalidade que o paradigma muda. Esta situação deve-se ter repetido milhares de vezes ao longo da história com o avanço da tecnologia, da roda ao computador…
Foi difícil abandonar o vinil mas as coisas são mesmo assim… :)
João
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Sou sensível aos argumentos do João. Há muito que uso as novas tecnologias e estou à espera do e-book barato e prático que me permita armazenar melhor os livros e levá-los para onde quiser.
O problema não está no avanço tecnológico, de facto. Será, antes, um problema de competência individual para lidar com a informação, seja qual for o veículo em que ela repouse: um livro, uma revista impressa ou um ecrã de computador. E este problema tornou-se mais visível com a massificação do ensino, levando a que as universidades sejam frequentadas por toda a gente, independentemente da capacidade intelectual e da vontade de estudar.
Para além desta massificação, a outra novidade do nosso tempo – o problema geracional, de que fala o João! – é o excesso de informação e consequente dificuldade em seleccioná-la; é a rapidez e a generalização da transmissão de conhecimentos, e consequente capacidade para avaliar da sua oportunidade, pertinência e relevância.
Receio que a massificação do ensino e esta onda gigantesca de tecnologia informativa não signifiquem aumento proporcional da capacidade cultural e da consciência de cidadania.
E que essas características sociais continuem a ser pertença de elites, constituídas agora por aqueles que têm genuína vontade de estudar e capacidade para lidar de forma inteligente com a inovação tecnológica posta ao serviço da circulação intensiva do conhecimento.
Na realidade, sempre foi assim: as elites que caminham na vanguarda e as massas humanas dos que não querem ou não podem aceder a patamares superiores de consciência cívica.
A política é a expressão desta realidade. Se as elites estiverem ao serviço do resto da população, teremos sociedades evoluídas. Se, pelo contrário, só pensarem em si, teremos sociedades desequilibradas, onde campeia a desigualdade, a exploração e a injustiça.
(Um bom critério para avaliar um político pode ser este...)
1 comentário:
Pois é, esta é uma questão pertinente.
Não me choca nada substituir o papel pelo ecrã do portátil, até é mais ecológico. Mas o problema está na forma como lidamos com toda esta informação que temos disponível. A maioria dos alunos, hoje em dia, parece que tem anorexia intelectual.
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