Prémio Fundação D. Inês de Castro 2012 para Maria Do Rosário Pedreira pelo livro POESIA REUNIDA
“ (…) Estamos perante uma visão do mundo de feição romântica, que concentra no amor a justificação da existência. É certo que o romantismo nunca deixou de influenciar a poesia portuguesa, e que os neo-confessionalismos recuperaram o tema do sofrimento passional, mas as poetas têm-se mostrado reticentes a esse discurso que o feminismo estigmatizou, acusando-o de idealizar a mulher ou mitificar o homem, tornando-os criaturas falsas, alienadas. Em autoras mais novas, o lirismo amoroso, mesmo quando é sugerido, vê-se logo ironizado ou sabotado. Nesse sentido, a poética de Maria do Rosário Pedreira parece deslocada no tempo, e assume todos os riscos «intempestivos» de um aparente confessionalismo sentimental.” (do Prefácio, de Pedro Mexia)
Não digas ao que vens. Deixa-me
adivinhar pelo pó nos teus cabelos
que vento te mandou. É longe a
tua casa? Dou-te a minha: leio nos
teus olhos o cansaço do dia que
te
venceu; e, no teu rosto, as
sombras
contam-me o resto da viagem. Anda,
vem repousar os martírios da
estrada
nas curvas do meu corpo - é um
destino sem dor e sem memória.
Tens
sede? Sobra da tarde apenas uma
fatia de laranja - morde-a na minha
boca sem pedires. Não, não me
digas
quem és nem ao que vens. Decido eu.
(pág.158)
2 comentários:
Para quê encarar o mundo de frente se a poesia está no verso? ( Georges Najjar Jr - editora Caravansarai )
Já dizia o poeta Rubem Alves:
"Os poetas são seres muito estranhos. Ficam felizes com nada. A poesia se faz com nadas...”
E aí é que está a razão de sobreviver, mesmo em tempos tão duros.
Gosto de ler Maria do Rosário, sua poesia é bem direta.Chega fácil ao leitor.
abraços
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