Revisitando
o PEDRAS ROLANTES do meu amigo Venerando achei curioso o que nós escrevemos em
2011 sobre a situação política de então, quando ainda governava o PS com
Sócrates. Vejamos então o que escrevi nessa altura e os comentários do Venerando e do Manuel Mourão:
ANTES PELO
CONTRÁRIO...
Não tenho
escrito nada neste espaço que o Venerando, na sua generosidade, me facultou.
Hoje não resisto a meter a colher, amigavelmente, como sempre que falamos os
dois.
Não te
acompanho neste teu desabafo, meu amigo. Por uma razão simples: Sócrates é a
direita no poder, com uma máscara de esquerda na cara, como os nossos miúdos no
carnaval. É por isso que o Passos Coelho anda a encanar a perna à rã e não tem
apetência nenhuma para ir para lá. Não saberia fazer melhor. E acirraria mais
aquelas franjas de centro-esquerda que ainda vão acreditando que não há
alternativas ao Sócrates.
Estás farto
do homem, queres uma mudança. Mas mudar o quê? O estilo mais truculento do
Sócrates pelo estilo mais penteadinho do Coelho?
Estamos num
impasse político e não é a cavacal figura que o vai desfazer. Até porque ele
está ao lado do Sócrates, embora tenha feito a discursata inconsequente da
tomada de posse - aquilo foi para agradar à sua Maria e aos filhos... podes
crer.
Uma saída
poderá ser o que Marcelo Rebelo de Sousa tem andado a defender, até dentro do
PSD: é uma espécie de governo de salvação nacional, com outra gente do PS, do
PSD e até do CDS. Seria a única solução que o directório europeu aceitaria,
para além da manutenção do Sócrates. Mas Cavaco não tem estatura para lidar com
um processo destes...
O grande
drama da nossa política é a total inoperância da "esquerda à esquerda do
PS", como bem disse o Daniel Oliveira que eu citei noutro lugar. Tanto o
BE como o PCP esgotam a sua intervenção em tiradas moralistas sobre
"outras políticas" mas são incapazes de apresentarem uma solução de
governo que diga como seria possível pô-las em prática. Não se dão conta de que
jogam ao absurdo: exigir aos políticos de direita que prossigam políticas de
esquerda. E continuam teimosamente nesta lenga-lenga, que não arrasta ninguém
para o seu campo e só convence os próprios fiéis. Têm uma linguagem e um
comportamento sectários, sem perspectivas na vida democrática.
Como homem
de esquerda, acho que o PCP e o BE deviam:
Jogar o jogo
democrático, começando por eles próprios
se aliarem, numa convergência leal, sem sectarismo, e procurando alianças com
todos os sectores de esquerda não alinhada, ou com sensibilidades de esquerda
dentro dos partidos do Centro (PS/PSD). Não hostilizando o Presidente da
República, antes procurando com ele linhas de diálogo, aproveitando por
exemplo, a deriva "esquerdóide" do discurso da tomada de posse.
Delineando um "Programa de Governo" exequível, pondo-o em cima da
mesa para discussão e negociação. Pelo menos haveria uma alternativa credível,
um espaço produtivo de discussão.
Mas não
tenho ilusões. Aquela gente, sobretudo o PCP, vive a política como uma
religião. Têm fé, mais nada. São incapazes de lidar com a realidade complexa da
vida social, que vêem a preto e branco, num mundo em que só há bons ( "os
trabalhadores e o povo") e maus ( os outros, sobretudo os que não pensam
como eles). Actuam com base numa crença: se acirrarem os descontentes, se
explorarem o desespero dos que têm fome, eles acabarão por se levantar numa
insurreição popular e entregarão, finalmente, o poder ao grande Partido dos
trabalhadores e do povo. Seria a albanização de Portugal, a saída do Euro, a
miséria mais negra. Mas eles são cegos para a realidade.
Quanto à
hostes do BE, são uma espécie de PCP mais culto e actualizado mas com as mesmas
limitações políticas.
De modo
que... mal por mal, antes a cadeia do que o hospital, como diziam na minha
terra.
Até que
surja D. Sebastião?...
16 Março
2011
. . . . . . .
2
comentários:
Venerando Aspra de Matos disse...
No essencial
até concordo contigo. Mas o que tu dizes acertadamente não anula a minha
opinião sobre o Sócrates. Claro que nas minhas intervenções por aqui há sempre
uma certa dose de provocação. Mas penso que em democracia a alternância não é o
caos e neste momento este governo já não governa nem consegue conter ou agradar
aos mercados, sendo este o único objectivo "ideológico" de Sócrates.
Por isso,
para o país regressar a uma certa "normalidade", tudo é preferível à
continuação desta política estagnada, que, essa sim, vai levar o país para o
abismo e, mais grave ainda, vai obrigar os nossos filhos a trabalhar para pagar
os juros e os desvarios desta gente.
Não tenho
ilusões em relação ao Coelho, mas até este é preferivel à eterna mentira e
fraude que é José Sócrates e a sua "trupe".
E já agora,
deixem vir o FMI, não vai fazer pior do que aquilo que já nos fizeram, nem nos
vai exigir mais que os burocratas incompetentes da UE, e até talvez traga
alguma moralidade à economia e às finanças. Já passei por duas intervenções do
FMI e nem me lembro do que tive de pagar, mas não me vou esquecer dos
retrocessos profissionais, económicos e sociais que o Sócrates me aplicou.
Além disso,
o FMI de hoje não é o mesmo de há décadas e até tem à sua frente um homem
decente (ao contrário do que se passa nas instituições europeis).
Um abraço de
consideração e amizade.
Venerando
16 de Março
de 2011 à0 11:53
Manuel Francisco V. G. Mourão disse...
Há aqui um
problema. O PCP diz tudo o que tem a dizer mas não apresenta soluções
realistas. O BE diz algumas verdades, as que lhes convém mais mas já não tem
nada para trocar com o PS. Estes só dizem o que lhes convém e do verdadeiro
estado da Nação só vamos sabendo quando são anunciadas mais medidas de
austeridade a serem aplicadas quando tudo estava a correr pelo melhor (dizem
eles). O PSD obriga o PS a negociar mas não diz claramente quais as medidas com
que concorda doutrinariamente ou quais as que apoia devido à conjectura. Quando
chegar ao Poder (parece inevitável) não vai desfazer aquilo que criticou,
aposto. O CDS vai propondo medidas que nem são consideradas pelos outros (com
razão? sem razão?). Já não há esquerda nem direita. Há anacronismos e
oportunismos. Ou a esquerda repensa muito bem os seus princípios doutrinários e
a sua forma de agir ou será depositada no baú das velharias e outros
aproveitarão a oportunidade para, encobertos pela fachada dos partidos
políticos, firmarem um Poder cada vez mais distantes dos que não possuem poder
nenhum.
E as pessoas
vão aprendendo a viver com aparente felicidade neste estado das coisas.
16 de Março
de 2011 à0 13:29