Longe do ruído exterior, concentrado na busca do que nunca viu mas pressente, o jovem cientista perscruta os dados incansavelmente. Tem de ser obstinado, rigoroso, paciente. Algo lhe diz que vale a pena continuar mesmo quando lhe parece que chegou a um beco. Pode haver uma brecha, um ponto obscuro onde se esconde a saída.
E o jovem cientista recorda-se de quando era espeleólogo e mergulhava numa gruta desconhecida. Avançava a medo, progredia em pequenos lances, parava para respirar e apoiar os pés, sentia-se dependente de uma corda e de um mosquetão mas confiava.
E sabia que nunca estava só: era a equipa, os companheiros de aventura, os outros que muitos anos antes já ali tinham estado e haviam deixado trilhos abertos. No desânimo ouvia os incitamentos. "Vai! Tu consegues!"
O jovem cientista sabe que é longo o tempo entre a formação, o projecto, a execução e os resultados. Tem dados para organizar, indícios para reflectir, informações para comparar, evidências para concluir.
E tem de escrever, escrever, escrever. Porque sabe que na escrita encontra o seu próprio caminho para entender.
Repete para si: " Sabes que entendeste quando consegues explicar por escrito e de modo a que outros entendam. "
É um trabalho monótono, árduo, uma luta corpo a corpo. Por vezes está perto da exaustão.
"Que faço aqui? Porque é que faço isto? Vale a pena?"
E um dia, depois de muitos dias, ele chega ao fim daquele percurso. Algo ficou concluído.
Há uma luz intensa que transforma o seu quotidiano. E lembra-se de como era bom ver o sol depois de muitas horas no negrume de um algar em Montejunto.
Olhos que se fixam nele e mãos que acenam louvores. O jovem cientista responde com alegria. Mas sabe que amanhã voltará ao silêncio do seu laboratório,
à nova gruta que espera a sua coragem.
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Ao João Duarte e companheiros de trabalho que dignificam a Ciência e enriquecem o nosso conhecimento do mundo: http://idl.ul.pt/node/409
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