Pensando, enredando sombras nesta profunda solidão.
Também tu andas longe, ah mais longe que ninguém.
Pensando, soltando pássaros, desvanecendo imagens,
enterrando lâmpadas.
Campanário de brumas, que longe, lá no alto!
Afogando lamentos, moendo esperanças sombrias,
moleiro taciturno,
de bruços te vem a noite, longe da cidade.
A tua presença é alheia, estranha a mim como uma coisa.
Penso, caminho longamente, a minha vida antes de ti.
Vida antes de niguém, minha áspera vida.
O grito frente ao mar, por entre as pedras,
correndo livre, louco, no bafejo do mar.
A fúria triste, o grito, a solidão do mar.
Desbocado, violento, estirado para o céu.
Tu, mulher, que eras ali, que sulco, que haste
desse leque imenso? Estavas longe como agora.
Incêndio no bosque! Arde em cruzes azuis.
Arde, arde, chameja, chispa em árvores de luz.
Despenha-se, crepita. Incêndio. Incêndio.
E a minha alma dança ferida por aparas de fogo.
Quem chama? Que silêncio povoado de ecos?
Hora da nostalgia, hora da alegria, hora da solidão,
hora minha entre todas!
Búzio em que o vento passa cantando.
Pabro Neruda, Vinte Poemas de Amor e Uma canção Desesperada
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