Escrever bem é saber usar as palavras certas em frases bem organizadas para transmitir alguma coisa, de tal forma que ela pareça única no universo da vulgaridade.
Juan José Millás é um autor espanhol contemporâneo que escreve muito bem. Diz-se que a maior tentação de alguém que quer ser escritor é começar por contar a vidinha. Este livro podia ser o mau resultado dessa tentação mas não é. Porquê? Porque a voz que fala dentro da narrativa podia ser a minha. Apropriei-me da narração porque ela é convincente. De tal modo que é universal e não apena a vidinha de alguém. E o que a faz ser assim é porque está muito bem escrita.
O narrador diz em certa altura:
« Ele estava a experimentar um bisturi eléctrico num bife de vaca. Subitamente, disse-me: "Rapara, Juanjo, cauteriza a ferida ao mesmo tempo que a causa". Compreendi que a escrita, tal como o bisturi do meu pai, cicatrizava as feridas no mesmo momento em que as abria e descobri por que motivo eu era escritor.»
Mais adiante:
«Concebo a escrita como um trabalho manual. Cada frase é um circuito eléctrico. Quando se dá ao interruptor, a frase tem de acender. Um circuito não precisa de ser belo, mas sim eficaz. A sua beleza reside na sua eficácia.»
Não é um livro sobre teorias da escrita. Estas frases vêm a propósito mas são casuais. O que fica é o relato eficaz de uma experiência de vida.
Este livro vai ser objecto de conversa em mais uma "5ª COM LIVROS", sessão da comunidade de leitores da Biblioteca Municipal de Torres Vedras, em 15 de Abril próximo. Para fazer parte desta comunidade basta aparecer. Nem é preciso ler o livro antes.
1 comentário:
Méon,
e vamos ler!!!!!!!!
Beijinho.
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