21.8.10

IMAGENS DO MEU OLHAR - Um velho chafariz...

Luís Filipe Rodrigues, poeta publicado e meu amigo,  gosta de olhar e escrever.
Eu, sem pretensões a mais, gosto de olhar, ler e... tentar escrever sobre o que vi e li.
O resultado pode ser engraçado.

Vejamos o que aconteceu com o velho Chafariz dos Canos.





CHAFARIZ DOS CANOS

O que fora desde o século XIV até cansa imaginar
de manhã à noite a dança dos aguadeiros
e mulheres de cântaro à cinta,
mãos que se matavam por um fio de água.
Quando a luz cedia, sob os arcos ainda se ouviam as bilhas
cantando. De nenhum lado agora a água corre,
só a imaginação tacteante lembra tal salmodia.
Há muito que o mundo daí se despediu.
Dirão que é um vento bravo que nos olha, um tempo
tão veloz que sufoca sem cessar. O certo é que
novo tempo há-de vir,
e nós mais que cegos ao pôr-do-sol.

O que se vê após tanta mudança é o que dura,
a lápide antiga, a pedra enrugada,
os coruchéus e as ameias à espera de nova moldura.

Luís Filipe Rodrigues

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CHAFARIZ DOS CANOS

Um fio de água, um tanque
sede de almocreve
notícias de longe a fazer perto
tantos séculos de ermos e silêncio

Sete mulas e alguns odres
sal, azeite e o sol
tanto caminho andado
à sede    à tanta sede
de quem demora a chegar

E agora aqui sentado
alongam-se sombras
arcos de ogiva
minha breve casa 
sede saciada

Homens de sete partidas
ó almocreves da vida
bebidos pelo tempo

não voltam   já não voltam

ficou a pedra esfarelada    areias
rasto de tempo a delir-se
pelo chão

Méon

4 comentários:

Luna disse...

A poesia tem disso, deixarmos a nossa imaginação passear pelos canteiros da fantasia e de palavras já escritas elaborar-mos a nossa versão.
Bj

Unknown disse...

E tanto, tanto, que este chafariz merece ser cuidado!!!!

Pela água, pelas gentes, pela memória que nele sobrevivem!

Mesmo que os poetas o cantem...ele precisa das mãos que cuidam, de todos os que o possam perperuar nos dias que hão-de vir!

Beijinho.

Andradarte disse...

A saudade tem o dom de nos aguentar,
até vermos melhor o que aí vem....
demora!?....aja esperança
Abraço

Rui Diniz Monteiro disse...

Sei que os dois poemas não foram publicados para fazer comparações... mas elas acabam por ser um pouco inevitáveis! A minha sensibilidade inclina-me decididamente para o 2º poema, capaz de me lançar para outras e misteriosas paragens, banhado por uma luz onde a vida e a memória das coisas e das pessoas que constroem um lugar convivem harmoniosamente. Belíssimo poema!