25.3.12

RELER J. L. BORGES



Reler Borges e rever a sua figura. Lembro-me de imagens de quando veio a Portugal. A serenidade de quem vê muito mais do que os olhos lhe poderiam mostrar.
As últimas palavras do prólogo a Fervor de Buenos Aires: "Naquele tempo procurava os entardeceres, os arrabaldes e o infortúnio; agora, as manhãs, o centro e a serenidade."

A dedicatóri à mãe:

«A Leonor Acevedo de Borges
 Quero deixar escrita uma confissão, que ao mesmo tempo será íntima e geral, visto que as coisas que aconte­cem a um homem acontecem a todos. Estou a falar de algo já remoto e perdido, os meus dias de anos, os mais antigos. Eu recebia as prendas e pensava que não passava de um menino e que não tinha feito nada, absolutamente nada, para as merecer. E claro que nunca o disse; a infância é tímida. Desde então deste-me muitas coisas e são mui­tos os anos e as lembranças. O pai, Norah, os avós, a tua memória e nela a memória dos antepassados — os pá­tios, os escravos, o aguadeiro, a carga dos hussardos do Peru e o opróbrio de Rosas —, a tua prisão corajosa, quando muitos de nós homens nos calávamos, as manhãs do Passo do Moinho, de Genebra e de Austin, as com­partilhadas claridades e sombras, a tua fresca ancianidade, o teu amor a Dickens e a Eça de Queirós, mãe, tu mesma.
Aqui estamos a falar os dois, et tout le reste est littérature, como escreveu, com excelente literatura, Verlaine.»
 Obras Completas, vol I, Editorial Teorema, Lx, 1998

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