A OSTRA
A ostra, com os peixes conversando,
Não teve mão em si que não dissesse:
-- Que vida preciosa, a minha! Quem merece
mais cuidados do que eu? Sabei que mil fulgores
se me acumulam nas entranhas…
crio jóias sem par… jóias estranhas…
numa palavra: pérolas, senhores!
O céu, o mar, os astros,
Solícitos, de rastros,
Vêm ofertar-me as suas cores.
Tenho dentro de mim reflexos diamantinos
E cristalinos… argentinos…
Cintilações… lucilações a esmo,
Enfim, é o mesmo
Que dar à luz o Sol! Talvez melhor, a Lua.
-- Ah (um peixe responde), ouvi dizer
Que até te comem crua!
João Cabral do Nascimento
Obrigado ao meu amigo Cid Simões, visitante atento desta página, que me enviou este poema.
3 comentários:
Méon, Meu Amigo
Quantas ostras! Quantas por aí ostentam os seus reflexos..." a esmo"!!!!!!
Quando afinal essas luzes mirificas...não passam de defesas, de ilusões!!!!
Para que a ostra tenha a pérola tem de ser invadida...e o nácar não é mais do que uma máscara!!!!
Assim é, Avelã!
Noite feliz!
Por aí fora há tanta gente que produz em si própria, a "doença da vaidade". Ao contrário da ostra, são esses que tentam comer os outros, vivos.
Enviar um comentário