20.12.07

PEQUENA VALSA VIENENSE



Descobri na minha biblioteca caseira o "Romanceiro Gitano" com o poema de Federico Garcia Lorca que Leonard Cohen canta em inglês, numa tradução livremente poética - parece-me.
Belíssimo. Não resisto a deixá-lo aqui. (Embora não goste de algumas opções da tradução brasileira. Será que alguém tem o original?...)
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PEQUENA VALSA VIENENSE

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Em Viena há dez mocinhas,
um ombro em que soluça a morte
e um bosque de pombas dissecadas.
Há um fragmento da manhã
no museu da geada.
Há um salão com mil janelas.
Ai, ai, ai, ai!
Toma esta valsa com a boca fechada.
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Esta valsa, esta valsa, esta valsa,
de sim, de morte e de conhaque
Que molha sua cauda no mar.
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Quero-te, quero-te, quero-te,
com a poltrona e o livro morto,
pelo melancólico corredor,
no escuro desvão do lírio,
em nossa cama da lua
e na dança com que sonha a tartaruga.
Ai, ai, ai, ai!
Toma esta valsa de quebrada cintura.
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Em Viena há quatro espelhos
onde brincam tua boca e os ecos.
Há uma morte para piano
que pinta de azul os rapazes.
Há mendigos pelos telhados.
Há frescas grinaldas de pranto.
Ai, ai, ai, ai!
Toma esta valsa que está morrendo em meus braços.
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Porque te quero, te quero, meu amor,
no desvão onde brincam os meninos,
sonhando velhas luzes da Hungria
pelos rumores da tarde tíbia,
vendo ovelhas e lírios de neve
pelo silêncio escuro de tua fronte.
Ai, ai, ai, ai!
Toma esta valsa do "Quero-te sempre".
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Em Viena dançarei contigo
com um disfarce que tenha
cabeça de rio.
Olha que margens tenho de jacintos!
Deixarei minha boca entre tuas pernas,
minha alma em fotografias e açucenas,
e nas ondas escuras do teu andar
quero, meu amor, meu amor, deixar,
violino e sepulcro, as cintas da valsa.
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(ROMANCEIRO GITANO E OUTROS POEMAS
Federico G. Lorca;Tradução de Oscar Mendes, , 3ª ed,
Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro,1985.)
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Irritantemente - ou por falta de engenho meu!... -na passagem
ao "publicar postagem" o texto perde os espaços
entre os blocos ou entre as estrofes.
Ainda não sei resolver este problema... Experimentei pôr tracejado.
Solução canhestra, confesso...



5 comentários:

Rui Caetano disse...

Percebemos o sentido e a força de certas passagens. Mas não conheço o original. Um Bom natal.

avelaneiraflorida disse...

Eu sei quem tem o original...

Joaquim Moedas Duarte disse...

Rui Caetano:
Obrigado pela visita. Retribuo: Bom Natal, igualmente.


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Avelaneiraflorida:

Sabes? Então...
Fico à espera! Que bom!

Anónimo disse...

En Viena hay diez muchachas,
un hombro donde solloza la muerte
y un bosque de palomas disecadas.
Hay un fragmento de la mañana
en el museo de la escarcha.
Hay un salón con mil ventanas.
¡Ay,ay,ay,ay!
Toma este vals con la boca cerrada.

Este vals, este vals, este vals,
de sí, de muerte y de coñac
que moja su cola en el mar.

Te quiero, te quiero, te quiero,
con la butaca y el libro muerto,
por el melancólico pasillo,
en el oscuro desván del lirio,
en nuestra cama de la luna
y en la danza que enseña la tortuga.
¡Ay, ay,ay,ay!
Toma este vals de quebrada cintura.

En Viena hay cuatro espejos
donde juegan tu boca y los ecos.
Hay una muerte para piano
que pinta de azul a los muchachos.
Hay mendigos por los tejados.
Hay frescas quirnaldas de llanto... (etc)

Joaquim Moedas Duarte disse...

Ao anónimo que deixou estes versos, agradeço. Mas gostaria que tivesse deixado o seu nome logo a seguir aos versos...