3.2.11

GOSTO DE LER



Ler a LER já se me tornou uma rotina mensal.
É uma revista que se dedica aos livros e aos autores com uma qualidade de apresentação grafica acima da média e com riqueza e variedade de conteúdos que a tornam irresistível. Vale bem os 5 €.
Pedro Támen é o convidado do mês, à conversa com o sempre bem informado Carlos Vaz Marques. Com ele entramos na casa do poeta - também conhecido como um dos nossos grandes tradutores - partilhando os dias e as rotinas, sem bisbilhotice, conversa centrada no ofício de escre(vi)ver.
Gosto do Pedro Támen, aprendi a gostar, depois de alguns anos de rodeios em torno da sua poesia que me repelia, na sua sintaxe arrevesada. Até que percebi que aquilo era uma forma diferente e original de desvendar os segredos das palavras. Porque não há palavras simples e a poesia de Pedro Támen parte dessa evidência. Joga, esconde, procura, nega, interroga. Cada palavra, cada frase.

Outra coisa que admiro nele é a recusa da pose. Não se leva a sério, como afirma. E não tem paciência par os literatos que teimam em dizer que o são. Retenho da entrevista:

«Nunca procurei as chamadas "luzes da ribalta", nem entrevistas como esta. Além disso, sempre tive a sensação de que 10 depois da minha morte ninguém saberá quem fui»

(...) na poesia que ia escrevendo contribuía para que as pessoas dissessem: "Este tipo afinal é poeta mas não parece nada poeta, é um tipo normal."

Entrevistador: Parte-se portanto do princípio de que os poetas não são tipos normais.

Exactamente.

E não são?

Os poetas, no seu reduto próprio de poetas, não são ti¬pos normais. Em princípio, o poeta é aquele que vê um bocadinho mais do que os outros. Ou que pelo menos é capaz de e^rirnir coisas que vê e que os outros, mes¬mo quando vêem, não são capazes de formular. Estou a falar tanto dos poetas como dos artistas em geral: músicos, pintores, etc. A poesia é, para mim, um per¬manente arranhar o mundo, com unhas na cal, para tentar encontrar coisas que se pressentem por detrás do branco uniforme do mundo e da vida.

É uma procura de sentido?

Sim. Ainda por cima com a fatalidade inelutável de isso ser inglório, de afinal nunca revelar absolutamen¬te nada. No fundo, nunca chega a verdade nenhuma. »


Vou ler o resto da entrevista e da revista. 96 páginas de muita coisa interessante, das crónicas às recensões, das notícias às curiosidades.

1 comentário:

Maria P. disse...

Boas leituras!

Também passei por aqui, mais atrasada, mas cá estou:)

Beijinho*