11.8.11

LEITURAS E RELEITURAS DE VERÃO - 1




Allan Bloom publicou em 1987 um livro que fez furor: The Closing of the American Mind, publicado pela Europa-América como A CULTURA INCULTA. Acusaram-no de reaccionário, não sei se com razão, não conheço a sua obra.  Mas as suas reflexões vêm ao encontro de muitas das nossas preocupações, como esta questão do divórcio dos jovens em relação à leitura. Mais ainda quando se trata de alunos universitários:


“(...) Quando reparei pela primeira vez no declínio da leitura, no final da década de 60, passei a perguntar às minhas enormes turmas dos anos preliminares, e a grupos de alunos mais novos, que livros realmente contavam para eles. A maioria ficava em silêncio, embaraçada com a pergunta. Para eles, era estranha a noção de livros como companheiros (...) Se os estudantes não possuem livros, em compensação adoram a música. Semelhante apego é o que há de mais notável nesta geração. Estamos na era da música e dos estados de espírito que a acompanham (...) [A] música dos devotos de hoje, porém, não conhece classes nem nações. Está disponível 24 horas por dia, em toda parte. Possuímos estéreo em casa e no carro; temos concertos, vídeos musicais e assim por diante, não esquecendo os walkmen. Em resumo, não há um só lugar – nem os transportes públicos ou as bibliotecas – em que os estudantes não possam comunicar-se com a Musa, até mesmo nos momentos de estudo. Acima de tudo, aliás, o solo musical ganhou tropical riqueza. Nada de esperar por génios imprevisíveis. Agora os génios abundam, produzindo sem parar; cada herói que tomba, dois logo se erguem para assumir o lugar. O que menos escasseia é o novo e o inesperado (...) Pense num garoto de 13 anos sentado na sala de estar de sua residência estudando matemática com os fones de ouvido do walkman ligado ou então assistindo à televisão. Está a usufruir as liberdades duramente conquistadas ao longo de séculos pela aliança do génio filosófico e do heroísmo político, consagrada pelo sangue dos mártires. Goza de conforto e de ócio, graças à economia com a maior produtividade que a história já conheceu; a ciência penetrou nos segredos da natureza para lhe proporcionar som eletrónico e reprodução de imagem que imita a vida. E, afinal, em que culminou o progresso? Uma criança púbere cujo corpo vibra com ritmos orgasmicos, cujos sentimentos se articulam em hinos às alegrias do organismo ou à morte dos pais, cuja ambição é ficar famoso e rico imitando a rainha das marafonas, que faz a música. Resumindo, a vida, transformou-se numa interminável fantasia masturbatória pré-empacotada.”

(Allan Bloom, A CULTURA INCULTA, Livros de Bolso Europa-América, Mem Martins, 2001)

Da contra-capa:

« Em A Cultura Inculta, Allan Bloom, professor de História das Ideias na Universidade de Chicago e notável tradutor de Platão e Rousseau, afirma que a crise social e política do Ocidente no século XX  é realmente uma crise intelectual. Desde a falta de objectivos das universidades à falta de conhecimentos dos estudantes, desde os clichés da libertação à substituição da razão pela «criatividade», Bloom mostra como a democracia ocidental acolheu i inconscientemente ideias vulgarizadas de niilismo e desespero, de relativismo disfarçado de tolerância.
O que vemos hoje é gente nova que, sem uma compreensão do passado e uma visão do futuro, vive um presente empobrecido. Extensa análise das correntes intelectuais do nosso século, A Cultura Inculta é essencial para uma perspectiva de entendimento do mal-estar espiritual do Ocidente. Allan Bloom foi professor na Universidade de Chicago, em Yale, em Cornell, na Universidade de Toronto, na Universidade de Tel Aviv e na Universidade de Paris. Traduziu e editou a República de Platão e o Emílio de Rousseau.»




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