28.8.11

LEITURAS - João Tordo




Não podia deixar de ser. João Tordo, Prémio José Saramago 2009, com AS TRÊS VIDAS, romance publicado pela Quidnovi em 2008, estava na calha. Curiosamente, foi o meu sobrinho Ricardo que mo emprestou - e só o Ricardo perceberá porque digo isto...

Impressões de leitura:

1- Começa-se a ler e fica-se agarrado. Porque é uma história bem montada, de uma imaginação portentosa sem descolar da realidade e porque está escrita num português ágil, correcto. Sentimos que há uma volúpia do escritor na arte da narração, e que ele não pretende impor juízos de valor de qualquer espécie.

2 - Será isto literatura? Mais abaixo transcrevo parte de uma entrevista de João Tordo ao jornal I em que ele diz abertamente que não faz parte do cánon literário, explicando porquê.

3 - De facto não podemos arrumar J Tordo na prateleira dos nossos autores consagrados pela crítica de cariz universitário - Mário Claudio, Mário de Carvalho, Lídia Jorge, Maria Velho da Costa, Rui Nunes, António Lobo Antunes, Agustina Bessa-Luís, Hélia Correia,  para falar dos vivos... - nem ele pretende que assim seja. João Tordo filia-se no tipo de autor que parte da sua experiência de vida e a mistura com a criação ficcional. Comecei a ler um livro de Murakami e vejo ali o mesmo paradigma: uma literatura à medida da globalização, com predomínio do mundo urbano de estilo ocidental, com as grandes frustrações da classe média em pano de fundo, a orgia consumista, o mal de vivre de personagens desajustados num mundo cada vez mais frenético.

4 - São impressões iniciais, apenas. Há que ler mais alguma coisa deste jovem autor. E as suas entrevistas, que ajudam a entender o seu universo literário: AQUI e AQUI, por exemplo.


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Sobre João Tordo:


Da entrevista ao jornal diário I

«Pesam muito as expectativas associadas ao Prémio Saramago?

A expectativa é sempre boa, significa que tenho leitores e que há pessoas interessadas no que faço. Quanto a cumpri-las, tenho algumas reservas. Acho que não pertenço a este cânone da literatura portuguesa. Existe um conjunto de regras das quais não se deve sair se queremos fazer o que cá se chama literatura. Estamos pouco habituados a que os romances portugueses contem histórias. Pertenço a uma corrente que cá não é muito explorada, apoiada em narrativa e personagens. Há um cânone que não reconhece isso como modo de escrever livros e ter valor.

Isso aborrece-o?
Estou-me a cagar. Acho que nunca vou corresponder às expectativas deste cânone, mas sim das pessoas que gostam dos meus livros e do género que escrevo. Nunca parto para os romances a pensar que vou fazer literatura, mas que vou escrever. Não estou nada preocupado com esta obsessão canónica de ter de escrever como se escrevia nos anos 50, 60 e 70. A literatura muda e a forma de escrever também.»

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Do site da WOOK:

 «João Tordo

Nasceu em Lisboa em 1975 num ambiente artístico. Filho do cantor Fernando Tordo e de Isabel Branco que sempre esteve ligada ao cinema e mais tarde à moda. Andou no Liceu Pedro Nunes e «era o único que não jogava rugby», em vez disso lia, 'vício' que lhe pegou o padrasto depois do divórcio dos pais. Acabado o 12º ano, resolveu ir para Filosofia por ser «uma boa maneira de se pôr a pensar». Entrou na Universidade Nova de Lisboa e sentiu o peso da exigência do curso. As aulas de Filosofia medieval marcaram-no e confessa que a partir dali nunca mais viu o mundo da mesma maneira. Depois do curso ainda trabalhou em Lisboa algum tempo como jornalista freelancer mas sentiu a «necessidade de sair daqui e ir viver outras coisas». Foi o que fez e em 1999 rumou a Londres para fazer um mestrado em Jornalismo. A cidade influenciou-o a tantos níveis que quis ficar até «ao limite das suas possibilidades», mas quando deu por si a trabalhar num bar e a fazer traduções percebeu que era tempo de partir. A próxima paragem tinha que ser Nova Iorque - sempre o fascínio das cidades - e os cursos de escrita criativa do City College. Ia às aulas de manhã, servia às mesas de um restaurante durante o jantar e escrevia pela noite dentro. Os Homens sem Luz nasceram assim. No futuro, há outras histórias para contar.»







1 comentário:

Isamar disse...

Uma boa recomendação de leitura que muito agradeço. Eu já tinha conhecimento de que João Tordo era escritor e havia recebido o Prémio Saramago mas não quero perder a oportunidade de comprar o livro e ler. Uma boa sugestão, há que acatá-la de imediato e evitar que algum dia o livro em papel, tal como os leitores compulsivos apreciam, se venha a perder um dia.

Bem-hajas!

Abraço fraterno