As estatística diárias informam-me que, apesar de tudo, há um grupo de fiéis visitantes a quem devo, pois, uma breve explicação. Sim, este espaço é uma partilha, um encontro. Como não vou palrar para o café, entretenho-me por aqui e gosto de saber que há quem passe e se detenha um pouco.
Mas então, porquê a ausência?
Desalento, descrença, revolta, indignação - tudo se mistura. Tenho por aqui muitas "imagens do meu olhar" que gostaria de vos mostrar mas não me sinto com coragem para isso. Que interessa o meu olhar quando outras realidades, inquietantes e brutais, se agigantam em meu/nosso redor?
Revolta, sim! Indignação, cada vez mais! Que outra coisa posso sentir quando vejo o chefe do Governo de Portugal a brindar com champanhe ao "êxito" deste primeiro ano de "reformas estruturais", e o ouço elogiar a paciência e a mansidão deste extraordinário povo que suporta com estoicismo estas medidas tão necessárias - diz ele - e que nos levarão ao grande futuro que ele nos promete?
A crónica de hoje de José Gil na VISÃO diz muito do que sinto. Transcrevo algumas passagens:
«O ambiente pantanoso em que nos
mergulharam os mais recentes «casos» («Relvas», «secretas») não nasceu por
acaso. Para onde vamos? Para onde estamos a ir? Ninguém poderá dizê-lo, com
certeza firme. Além da instabilidade política e financeira da Europa, há uma
razão só nossa para isso: o esbatimento acelerado da dimensão política da
governação portuguesa.»
(...)
O único eixo aparentemente coerente é a política de austeridade. Com uma
só divisa, «mais e mais austeridade sempre que se puder e aonde se puder», que
age como um «significante» despótico, sugando tudo e todos, os próprios
ministérios, a luz, a água, o ar, a vida, as capacidades criativas, o
trabalho, a cultura e a arte. Estreita os horizontes, recalca as energias,
afoga o pensamento e torna o país mais estúpido.
(...)
Nestas condições, que consistência podem ter as reformas
estruturais? Nenhuma. No entanto, destas, esperava-se a mudança. Que ideia
coerente as une a todas para que nos dêem uma visão do futuro? Nenhuma. Que se
vai fazer na justiça que permita o investimento, que ajude a economia, que diminua
o desemprego,
que favoreça a educação, que melhore o SNS e traga um mínimo de ética intocável
à vida do Estado (e o mesmo para cada um desses domínios)? Nada que se veja.
Por tudo isto, um sentimento domina os espíritos: abandono e impotência.
Não há um fosso entre o Governo e a população porque o Governo desvaneceu-se
politicamente. Foi o preço que pagou pela obediência submissa e solícita aos
ditames da troika. Esta governa, mas por interposta pessoa - e é
uma instância longínqua e indefinida, não serve de «interlocutor» ao povo
português.
Entregue a si mesmo, este sente-se, material e imaterialmente, espoliado. O pântano político
atual em que vagueamos, semiperdidos, nasceu da falta de uma vontade
democrática forte, de uma liderança imune a todo o tipo de complacências que
afirme, na Europa, a soberania política e a nobreza do país. Para onde vamos? O
horizonte é desolador. Os bons exemplos que nos apresentam nem são exemplos
(generalizáveis) nem compõem uma massa crítica. E que não se diga que isto é
pessimismo, porque essa é a palavra dos que só têm discurso (dito «positivo») e
que, com ela, escondem a falta de ideias.»
1 comentário:
Oi Méon
Não sou tão assídua como gostaria,mas gosto muito de vir aqui no seu espaço ler suas postagens e costumo ficar horas a ver não só a do momento como as demais.
É um espaço precioso e o tempo que me ocupo aqui também, aprendo, me delicio com suas escolhas , suas fotos das cidades que pelo seu olhar vou visitando.
Obrigada, e nao nos deixe nem desanime .
Fico triste pela crise econômica que assola seu País, venho lendo e acompanhando.Precisam prosseguir, também já tivemos por aqui tempo difíceis.Felizmente tudo tem seguido num ritmo controlado ,apesar das diferenças brutais e da corrupção que é uma doença cronica.
Conseguimos uma Presidente preocupada com a classe média e se nada está bom , também nao temos recessão de salários e alimentos.
Espero que tudo tome rumos certos e voltem a ser uma Pátria abençoada.
um abraço Méon
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