O treinador da Grécia bem falou em David e Golias, esperando a reedição da história bíblica.
Afinal a lança entrou pela balisa dentro quatro vezes e a pobre funda de David só fez dois galos na testa do gigantão.
Pessoalmente não gostava que nenhum deles ganhasse. Embora seja apenas futebol, a Alemanha porque é demasiado conotada com a Merckl; a Grécia porque tem aquele jogo manhoso que já custou duas derrotas constrangedoras à nossa selecção nacional.
No fundo, o que eu gostava de dizer está nesta bela crónica do Ricardo Araújo Pereira:
CONTRA OS CANHÕES REMATAR REMATAR
Ricardo Araújo
Pereira
VISÃO,
21 Junho 2012
Gosto de ver um
daqueles jogos de futebol em que o objectivo é marcar mais golos do que o
adversário, mas estes em que os jogadores lutam pelo prestígio de Portugal
junto dos mercados financeiros também são interessantes. Várias figuras,
anónimas e conhecidas, têm dado o seu apoio à nova modalidade e pedido aos
jogadores que endireitem a economia na transformação de livres directos, ou que
resolvam o problema do desemprego ao pontapé. Tendo em conta que o governo
também tem tratado o desemprego com os pés, não se pode dizer que o pedido seja
inovador, ao menos no que ao método diz respeito, mas há que ter esperança.
O campeonato da
Europa de mudança da opinião que os estrangeiros têm sobre Portugal começou
mal. No primeiro jogo, a imagem do país lá fora foi ao poste antes do
intervalo, e, na segunda parte, o futuro dos nossos filhos foi à barra. Antes
disso, o guarda-redes alemão já tinha socado para trás o orgulho que os portugueses
sentem no seu país. Um português que acompanhava o jogo pela televisão, e não
sabia onde tinha posto os óculos, chegou a pensar que a bola tinha entrado na
baliza alemã e começou a sentir orgulho em Portugal, mas depois percebeu que
afinal era canto e voltou a ter vontade de emigrar.
No entanto, duas
vitórias nos dois jogos seguintes fizeram com que a Europa nos olhasse com
outros olhos. Há mais respeito, agora. Um português passeia nas ruas de qualquer cidade
europeia e sente a admiração de toda a gente. O ministro das Finanças alemão
terá telefonado a Angela Merkel para lhe dizer que, uma vez que a nossa
selecção tinha sido capaz de bater a Dinamarca por 3-2, talvez as medidas de
austeridade pudessem ser um pouco menos duras. Desempregados que já tinham as
malas feitas para emigrar voltaram a pendurar a roupa no cabide e desataram a
projectar micro, pequenas e médias empresas.
E infalível: selecção que faça brilharetes nos
campeonatos internacionais obtém o respeito do resto do mundo. Repare-se no
exemplo da Grécia: venceu o campeonato da Europa em 2004 e, hoje, o seu povo é
tido na mais alta consideração. Os gregos mostraram que eram um povo honesto,
corajoso e trabalhador, e qualquer pequeno problema que eventualmente possa
haver com as finanças do país é desvalorizado quando os responsáveis da União
Europeia e do FMI recordam o que Zagorakis e seus pares fizeram, há oito anos,
em Portugal.
Os próprios espanhóis, que são campeões da Europa e
do Mundo, têm um quarto da população no desemprego, mas esses são desempregados
que podem comer um bocadinho do orgulho que foram ganhando naqueles
campeonatos, e dar aos filhos a alegria de viver num país cuja selecção de
futebol vence bastantes jogos.
2 comentários:
Ótima visão do cronista Ricardo A.Pereira.É bom quando o País está com baixa estima e consegue criar um ânimo mesmo sendo por esses caminhos...
Estou torcendo pra Portugal bater os espanhoís, na quarta-feira.
Haja expectativa! rs
abraços Méon ( e olha que nem acompanho jogos_ como são clássicos sempre gosto de dar uma espiadinha rs)
Eu relativiso estas coisas, trata-se apenas de 22 indivíduos a brincarem com uma bola...
Mas a verdade é que, por trás disso, há muitas coisas em jogo.
Por isso torço pelos portugas contra os castelhanos...
Bj, Lis
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