Um contrato como professor no Brasil, nos anos 30, mudou para sempre a vida de Claude Lévi-Strauss. O autor de 'Tristes Trópicos' morreu em França, centenário e venerado por políticos e intelectuais de todo o mundo.
O homem que lançou as bases da antropologia moderna e foi o principal teorizador do estruturalismo morreu sexta-feira, a poucas semanas de completar 101 anos. Claude Lévi-Strauss morreu na sexta-feira e o seu funeral realizou-se segunda-feira em Lignerolles (centro de França), mas a família só ontem autorizou a Academia Francesa a dar a notícia, "receando ser invadida e ultrapassada pela mediatização da morte e das exéquias".(Albano Matos, DN Artes)
Pode ver AQUI mais informações, num belo texto de Venerando de Matos
4 comentários:
Sou um imenso admirador de Claude Lévi-Strauss e, por obrigação académica, tive de ler a quase totalidade da sua obra, que é densa, hermética, extremamente difícil de compreender, cheia de contradições e provocações epistemológicas, mas eternamente surpreendente. Que não se acredite em quem diz que já leu muito Lévi-Strauss, porque o seu legado é de tal forma complexo que se contam pelos dedos os académicos portugueses que o sabem interpretar. Livros como Tristes Trópicos ou Raça e História, não contam para a obra científica do grande mestre, pois o primeiro não passa de um apontamento (belo, mas sempre e só um apontamento) de viagem e o segundo um panfleto encomendando pela ONU, para uma campanha contra o racismo.
Reafirmo que adoro Levi-Strauss, mas não é correcto dizer-se que ele "lançou as bases da Antropologia moderna" e muito menos que foi o "principal teorizador do estruturalismo" (esta é forte demais!). No que respeita à Antropologia, ela evoluiu de formas diferentes nas principais escolas europeias e norte-americana, embora o contributo de Levi-Strauss tenha sido muito importante sobretudo para a escola francesa. Todavia, ninguém discutirá que ele foi o mais notável antropólogo do século XX, apesar de ter outros gigantes por perto, como o americano Geertz ou o britânico Evans-Pritchard, entre outros.
Em relação ao estruturalismo, ele começa com Goethe, no seculo XVIII, sendo prosseguido por Humboldt (que além de filósofo era linguista). Aliás, o estruturalismo - como bem sabemos - era uma corrente da linguística, desenvolvido pelos notáveis Saussure, Trubetskoi e Jakobson, todos antecessores de Lévi-Strauss. O próprio afirma que a corrente estruturalista remonta a Dürer!
A novidade trazida por Lévi-Strauss é a aplicação da análise estrutural às ciências sociais, em particular àquela que é a sua ars magna: a Antropologia. Não esqueçamos que Lévi-Strauss era filósofo de formação e antropólogo por opção.
Lévi-Strauss não era apenas notável pela sua produção científica, mas também pelas suas qualidades humanas que o colocam a par dos maiores vultos do humanismo. Falava português fluentemente e lamentava nunca ter vindo a Portugal. Morreu sem nunca conseguir ser o que mais sonhara: compositor e maestro. Os antropólogos, em particular, e toda a humanidade estarão eternamente gratos pela sua falta de talento musical.
O que dá não reler o que se escreve ( e este minúsculo quadradinho onde se rabiscam os comenta´rios naão ajuda) é ficarem coisas por dizer.
A propósito do "lançamento da Antropologia moderna", faltou dizer que esse facto se deve a uma única pessoa: Bronislaw Malinovski (1884-1942). Qualquer antropólogo, em qualquer lugar do mundo, sempre se considerará "filho" de Malinovski.
Foi este polaco-britânico a pedra angular de toda a antropologia moderna, incluindo a perspectiva de Lévi-Strauss.
Agradeço as palavras de comentário que aí estão mais acima. Parecem-me de alguém que sabe do que fala.
Mas devo dizer que não gosto da opção "anónimo", por uma questão de princípio. Posso tentar entendê-la pensando que o seu autor não está inscrito no Blogger e tem de recorrer a esta opção na hora de submeter o seu comentário. No entanto há uma forma fácil de obviar este inconveniente: é assinar o texto!
http://www.apantropologia.net/homenagem%20apa.pdf
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