Carlos Relvas, a mulher Margarida Relvas e os filhos: José, Francisco e Clementina.
(Carlos Relvas, 1866-1867 - Prova actual tirada a sépia a partir de negativo em colódio. Fotos à venda na Casa-Estúdio Carlos Relvas)
Clementina Relvas
(Carlos Relvas, 1872-1874 - Prova actual tirada a sépia a partir de negativo em colódio. Fotos à venda na Casa-Estúdio Carlos Relvas)
Há dias revi a casa-ateliê de fotografia de C. Relvas, na Golegã e recordei parte dessa história. Edifício lindíssimo de conteúdo relevante para a história da fotografia mundial. O lado escandaloso, porém, nunca é referido, o que está certo para a memória dos mortos que já não podem justificar-se mas deixa a salivar o instinto mórbido do visitante.
Carlos Relvas e os filhos existiram, sim, e um deles, José Relvas, foi o célebre republicano que viveu na Casa dos Patudos de Alpiarça, que fez parte do Directório que preparou a implantação da República, e que a proclamou à varanda do Município de Lisboa, em 5 de Outubro de 1910.
Na colecção de milhares de negativos existentes na Casa-Museu da Fotografia da Golegã há muitas fotos da familia Relvas como as que acima se reproduzem.
14 comentários:
Infelizmente é pelo desenterrar de esqueletos, mesmo por vezes dolorosa, que se aprofunda a verdade histórica. Mas a razão deste comentário é referir (ou elucidar, como se queira) que até ao estabelecimento do Registo Civil, pela República, as pessoas eram apenas referidas no registo de baptismo (as que eram baptizadas, e que eram a maioria) apenas pelo seu NOME PRÓPRIO (José, João, António) sendo o restante nome e apelidos apropriados mais tarde, e usados conforme o individuo ia ficando conhecido ou referido, existindo inclusivé alguns casos de a mesma pessoa ser referida num acto (casamento ou baptismo de um filho) com um nome e em outro acto por nome. O facto de trabalhar numa casa bastante conhecida, era por vezes usada para distinguir um individuo de outro com o mesmo nome, o mesmo se passando com a adopção do nome do lugar ou da origem da terra da pessoa. Um facto moderno refere-se ao antigo Presidente Brasileiro José Sarney. O apelido SARNEY deriva do facto de um seu avô ter trabalhado na quinta de um inglês de nome Sir Ney, e com o andar dos tempos ser tratado como o da quinta do Sir Ney, que viria a dar, por contracção aportuguesada o apelido SARNAY usada pelos seus descendentes. É por estas e outras que ninguém, só por usar um apelido, qualquer que seja, poderá dizer que é parente deste ou daquele, sem uma investigação genealógica séria. É que o mesmo sucedia com oas afilhados, que por vezes assumiam o apelido de seus padrinhos, para já não falar dos escravos que bastas vezes o assumiam dos seus senhores, ao serem baptizados. Claro que era estabelecido um "parentesco", não biológico, mas de "grupo" no sentido romano de todos que estão debaixo da mesma bandeira, da mesma FLAMULA, da mesma FAMÍLIA, no conceito arcaico que envolvia não apenas os laços de sangue mas igualmente os afectivos.
Agradeço este comentário. Judicioso, correcto e muito esclarecedor. Fala por si e ajuda-nos a entender certos meandros de uma estória que faz parte da História.
Saudações!
Parabéns pelo seu blog. Realmente é verdade essa história triste. Felizmente Carlos Relvas é mais conhecido pelo seu legado artístico que por ter sido um assassino, ter deserdado a filha mais velha e tê-la deixado a apodrecer a pedir numa igreja de Lisboa lá para os lados do Chiado. Clementina pagou caro o seu amor pelo Costa. Mentalidades… Quanto aos nomes Relvas, há muitos... Mas de Carlos Relvas não há descendentes directos. Os 3 netos filhos do Homem da República morreram todos uns menores, o maior pelo suicídio. A haver descendentes seriam apenas os seus netos filhos da filha mais nova Margarida Relvas Navarro (pelo casamento com Alberto Navarro, um médico do norte) que herdou todas as propriedades para os lados de Riachos/Torres Novas. José Relvas o republicano, separou-se do pai e saiu da Golegã para Alpiarça devido ao segundo casamento do pai. Carlos Relvas casou pela segunda vez a pouco mais de um ano da morte da sua mulher Dona Margarida Relvas, adorada pelo povo da Golegã. Esse 2º casamento odiado, com uma mulher já também viúva de outros casamentos, obrigou a partilhas em vida e a mais separações... C. Relvas transforma então a Casa-Estúdio em habitação e passa lá a viver com a segunda mulher. Finalmente essa mulher novamente viúva depois da morte de Carlos Relvas, destrói, vende ou faz desaparecer a maior parte do património fotográfico, nomeadamente os nús femininos de Relvas que deveriam ser numerosíssimos. Salva-se finalmente a acção da filha (apenas filha dessa segunda mulher) que herdou a Casa-Estúdio de Relvas e depois de anos de destruição e abandono, fez então uma doação do edifício à Câmara. É assim... :(
Agradeço este contributo para um melhor conhecimento dos factos. No entanto fico com alguma frustração: esta pessoa que aqui deixou o comentário, e cujo anonimato atribuo à circunstância de não ter conta google, onde foi buscar estas informações? Há alguma biografia publicada sobre Carlos Relvas? Resulta de tradições orais, de testemunhos fidedignos que vivenciaram os factos? Como é que se sabe de coisas como a Clementina a pedir à porta de uma igreja?
Não estou a duvidar da boa fé de quem aqui deixou este comentário, apenas gostaria de ficar mais seguro àcerca do rigor do que foi dito.
Caso queira dar mais informações e esclarecimentos, peço que me contacte pelo mail: moedasduarte@gmail.com
Obrigado
Acrescento: caso prefira, também pode continuar a comentar neste espaço, mesmo sendo anónimo. Desde que não seja incorreto...
Peço desculpa pela intromissão nestes comentários, mas como descendente da família Relvas (Carlos Relvas é meu tetravô), não pude deixar de comentar. Há, de facto, diversos descendentes de Carlos Relvas, embora nenhum já por varonia, pois a única descendência provêm por via feminina de sua filha Margarida. Há uma espécie de lenda sobre os amores da outra filha Clementina, algumas apontando para o facto de um servidor da Casa Relvas ter sido morto a seu mando por se ter relacionado com a infeliz rapariga. Parece que a sua vida não terá sido muito normal, contando-se a história de ser vista a pedir em Lisboa. No entanto, são histórias que nunca ouvi confirmadas. O que parece ter de facto acontecido foi esta menina ter sido repudiada por seu marido. Talvez um dia consiga revelar esta trama, de tantas outras que se teceram sobre esta romântica família, em que vários dos seus membros se destacaram por gloriosas virtudes e feitos, mas também por outras histórias mais ou menos trágicas.
Pedro de Castro
Obrigado por este comentário.
Gostava de saber mais coisas sobre esta família. O que tenho em casa é apenas a Biografia de José Relvas e as suas memórias.
Cumprimentos aos visitantes que passam por aqui.
A história do "esqueleto entaipado", na casa do Relvas, é estória e história contada por gente de entendimento na matéria. Tenho a ideia de a ver publicada nos "cadernos de História" de "O Jornal", já lá vão uns bons anos, e tb, através do programa do Dr. José Hermano Saraiva na RTP, pela sua própria voz, e com requinte de contador, o que lhe é muito peculiar.
"Mas de Carlos Relvas não há descendentes directos. Os 3 netos filhos do Homem da República morreram todos uns menores, o maior pelo suicídio."
Talvez não seja bem assim. José Relvas teve relações extra conjugais e a minha família mantém um mistério de há 3 gerações... a comprovar-se quem escreve estas linhas é o trineto deste senhor, não só em descendência directa como de uma filha mais velha (nascida a 1881) do que os filhos oficiais...
Pena Eurico Mil não ter sido mais explícito. O seu texto parece ter ficado a meio...
Continuo à procura de mais dados sobre a família Relvas ( que não tem nada a ver - julgo eu - com o famigerado ministro que anda por aí...
Cumprimentos.
Está interessante este debate que parece ter esfriado há uns dois anos. Em primeiro lugar, gostaria de escalecer que Carlos Relvas e José Relvas nunca se zangaram radicalmente ou cortaram relações. As partilhas foram feitas de mútuo acordo e foi o próprio pai a aconselhar o filho a vender a Quinta do Outeira na Golegã. Este não "expulsou" o pai de casa como alguns insistem em fazer crer. Aliás, José Relvas chegou a servir de mediador entre o pai e a irmã Margarida, essa sim nunca aceito o segundo casamento de Carlos Relvas. A vasta correspondência existente nos Patudos atesta estes factos. Para quem preguntou, existem algumas biografias de Carlos Relvas. Há um estudo muito bom de António Pedro Vicente, publicado pela Livros Horizonte nos anos 90 e um trabalho de Paulo Oliveira editado em 2006 pela Câmara da Golegã que deve conseguir encontrar por lá, e também uma tese de mestrado de Cátia Salvado sobre Carlos e Margarida Relvas. Em 2009, com algumas fragilidades de quem começa, publiquei o trabalho "Fotobiografia de José Relvas (1858-1929)" no qual explorei, muito brevement, alguma da informação disponível e comprovável acerca desta família, com base no Arquivo dos Patudos. Estou neste momento a escrever nova biografia no âmbito de uma tese de doutoramento. Se tiverem informações sobre a família Relvas gostaria muito de trocar impressões convosco. Evidentemente só poderei utilizar o que se pode comprovar e tiver interesse histórico. No entanto, interessam particularmente essas informações e "lendas de família", mesmo que para trabalhos futuros fora de um contexto académico. Já soube por outras vias da suposta existência de uma filha ilegítima de José Relvas. Mas quem seria? E terá tido descedência? Deixo o meu contacto jmrnoras@gmail.com
P.S.: Creio que a história de Clementina é diferente do que a "tradição" pintou, sei que também existem colegas a investigar sobre essa figura e a sua ligação à condição feminina do fim do século XIX.
Uma visitante deste blogue sentiu-se ofendida com um parágrafo do meu texto e ameaçou-me com o tribunal. Não tenho medo do tribunal tanto mais que eu me limitava a emitir uma opinião pessoal sobre uma leitura que fizera. Contudo, os sentimentos das pessoas e o melindre que lhes possa causar, são para mim território sagrado. Por isso retirei o tal parágrafo que nada acrescentava ao que verdadeiramente me interessa: a história de José Relvas e de sua família.
Este pequeno comentário é dirigido, evidentemente, aos leitores deste blogue que sabem distinguir o essencial do acessório e que simpaticamente aqui têm deixado os seus comentários - e por isso são credores desta explicação.
Na sequência do meu comentário anterior. Informo que sobre Clementina Relvas existe um artigo de Manuela Poitout publicado na revista "Nova Augusta" (Torres Novas) bastante esclarecedor. Foi das primeiras mulheres a procurar separar-se do marido e a procurar a gestão dos seus próprios bens no século XIX, tendo vencido acção judicial no Supremo Tribunal de Justiça. Atenção que nesta altura o divórcio era igual. Nao há evidencia algum de "amores interrompidos", na correspondência familiar. Também como demonstra a investigadora não morreu louca. A "loucura" foi nos séculos XIX e XX (a ainda por vezes é), muitas veze uma arma dos maridos contra as mulheres que se queriam separar deles, como o exemplo mais conhecido foi de Adelaide Coelho da Cunha ("Doida Nao e Nao", Manuela Gonzaga).
Quanto há estória do criado emparedado é isso mesmo um estória não tem fundamento histórico. Não se conhece qualquer registo de esqueleto emparedado no tribunal da Golegã, aliás o tribunal da Golega nao foi feito na sobre as ruínas da antiga casa dos Relvas, a Camara Municipal é que foi. O antigo edifício ardeu totalmente nos anos 50.
A lenda oral do criado assassinado foi popularizada por Alves Redol (no romance "Barrancos de Cegos") e mais tarde por José Hermano Saraiva que a contou com se fosse toda a verdade.
Fazendo um de "adovogado do diabo", no século XIX se alguém fosse contar intimidades da filha de quem quer fosse para a taberna arriscava de facto uma morte violenta. Aliás nao era só no século XIX. De qualquer modo, nao me parece de todo, que esta lendas ou mitos tenham um substrato real. O facto da filha de Carlos Relvas ter recusado um casamento arrajando com um juízo e seu familiar, nao aceitar o adultério do marido, nem o poder total do marido sobre os seus bens e a sua pessoa, motivou-a primeira a refugiar num convento, depois a procurar uma éfemera reconciliação, mais tarde a tentar a separação de bens e claro, o divórcio que só conseguiu com as leis da República. De certo, mediante uma situação social incomum, que desafia as leis "de Deus e dos homens", a imaginação do povo deu largas à "fantasia romântica".
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