16.5.10

ESTÉTICA DO ENFADAMENTO DIVERTIDO






De volta da Arte Contemporânea. Grande esforço. 
Conclusão provisória:  ou enfado ou divertimento.
Por acaso abri o LDD do Pessoa nesta página:

ESTÉTICA DO DESALENTO

«Já que não podemos extrair beleza da vida, busquemos ao menos extrair beleza de não poder extrair beleza da vida. Façamos da nossa falência uma vitória, uma coisa positiva e erguida, com colunas, majestade e aquiescência espiritual.
Se a vida [não] nos deu mais do que uma cela de reclusão, façamos por ornamentá-la, ainda que mais não seja, com as sombras de nossos sonhos, desenhos a cores mistas esculpindo o nosso esquecimento sobre a parada exterioridade dos muros.
Como todo o sonhador, senti sempre que o meu mister era criar. Como nunca soube fazer um esforço ou activar uma intenção, criar colidiu-me sempre com sonhar, querer ou desejar, e fazer gestos com sonhar os gestos que desejaria poder fazer.»

Livro do Desassossego, Fernando Pessoa; ed. Richard Zenith


Tropecei no blogue do Ricardo Costa :

«SOBRE O MÉTODO DA COMPOSIÇÃO EM TEMPO REAL


enquadramento histórico, artístico e político

o método de "composição em tempo real" tem sido desenvolvido e sistematizado por João Fiadeiro desde 1995. num primeiro tempo teve como enquadramento a necessidade de se criar um sistema de composição que pudesse ser partilhado pelos seus colaboradores no processo criativo. num segundo tempo afirmou-se enquanto instrumento para explorar modalidades de escrita dramatúrgica na área da dança, tendo sido estudado, desenvolvido e utilizado por diversos artistas e investigadores. desde 2005 tem vido a afirmar-se no território da investigação, debruçando-se nomeadamente sobre o problema da “decisão” e da “representação”, alargando assim a sua esfera de interesse e de aplicabilidade para fora das fronteiras da dança e mesmo da arte. é um método fortemente influenciado pelos avanços que se têm verificado nos últimos anos em disciplinas científicas como a neurobiologia, a ciência económica, a ciência da computação, a filosofia da linguagem e da mente, a física quântica, a linguística cognitiva, etc. “composição em tempo real” é uma designação que nasce por oposição à ideia vinculada por algumas práticas de improvisação que promovem as noções de “instantâneo” e “espontâneo” como sinónimos de “liberdade” e “autenticidade”. o método de "composição em tempo real" defende que “agir livremente”, mesmo sob a pressão do “tempo real” (ou sobretudo por causa disso), pressupõe uma leitura “distanciada” do contexto em que se é interpelado a agir, bem como o controle das condições de visibilidade desse movimento. numa palavra, pressupõe que sejamos responsáveis pelas nossas acções. só assim, a nosso ver, se estará perante um gesto verdadeiramente livre. Este tipo de discernimento e “sangue-frio” perante as nossas próprias emoções e convicções, sobretudo quando confrontados com a velocidade associada ao tempo real, obriga a um treino que passa pela mecanização de um “modo de operação” que, no limite, tem como finalidade “ganhar tempo” para que o instrumento mais importante no processo de decisão – a intuição – possa emergir.»

Percorri a famosa exposição nos Paços do Concelho cá da Parvónia e li no respectivo catálogo ("Antena 4"):

«Mas ressaltar a imbricação do material com o semiótico não é sintomático de um retorno ao objecto artístico com a sua aura de originalidade. O objecto-obra e a possibilidade da reprodutibi­lidade técnica não se encontram em oposição, pois não se trata de opor o Uno ao múltiplo, mas de reconhecer a singularidade da série (expres­são). É a reprodutibilidade em si mesma que deve ser apropriada pelo mecanismo da própria obra, assim como é na própria obra que devem ser fabricados os termos da sua serialização. Vejam--se os exemplos de zines como a mítica Search & Destroy,12 criando séries em papel colorido com o simples recurso a uma fotocopiadora, ou os múl­tiplos de George Maciunas - Fluxkits -, arquivos/ /edição em caixa de vários objectos produzidos por elementos do movimento Fluxus.
A peça de edição deve encontrar a sua expres­são no material, e através desta capacidade de "vibração objectual", transversal aos vários cam­pos atravessados, catalisar o arquivo para além da sua faceta de registo passivo e em direcção a uma produção activa.»

Quando consigo parar de rir começo a bocejar. E quando paro de bocejar, dá-me vontade de rir.
Se calhar descobri um novo conceito: "Estética do enfadamento divertido".

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