14.5.10

EU E A RELIGIÃO

Aos que me perguntam porque é que me intrometo nas questões religiosas, respondo simplesmente: porque elas se intrometeram comigo desde que nasci!

Tal como muita gente da minha geração, o meu crescimento foi profundamente marcado por uma educação religiosa repressiva e obsessiva, em que a noção de pecado e de um Deus castigador que exigia penitência  envenenaram os melhores dias da minha infância.

Mas o drama maior foi a identificação do amor pelos meus pais com a prática religiosa, de tal modo que, quando me afastei desta, provoquei neles um sofrimento que me foi insuportável durante muito tempo. De facto, nunca encontrei na religião motivos de alegria e consolação, antes de temor e revolta.
O meu espírito infantil foi profundamente impressionado pela chamada "mensagem de Fátima". Quantas vezes não fugi das brincadeiras com os meus amigos porque ouvia as palavras do anjo aos pastorinhos: "porque brincais? Deveis rezar pelos pecadores"!
A visão do inferno, por exemplo: quanto pavor me provocou!

Ainda hoje me arrepio com a lembrança do sofrimento atroz que me provocava o medo do inferno e o saber que uma confissão incompleta dos meus pecados acarretaria a condenação eterna. É que eu era obrigado a confessar-me e muitas vezes não tinha coragem para relatar os tais pecados com que os padres me aterrorizavam, e que eu interiorizava como se fossem delitos de criminoso: um acto de masturbação, o surripiar cinco tostões da gaveta, uma mentira na escola...

Não me esqueço, não! E quando me vêm falar de fé e do amor de Deus, eu tenho vontade ou de rir ou de gritar.

O meu caso não foi único,  e tive bem consciência disso quando li os livros de Alçada Baptista e de outros como Virgílio Ferreira.

Respeito os crentes e amo os meus familiares que se distinguem por uma prática religiosa públicamente assumida. Mas não me peçam para assistir passivamente ao triunfalismo religioso destes dias. Sinto no mais íntimo de mim que Deus, se existe, não tem nada  a ver com isto. E não tenho dúvidas de que Fátima é um tremendo embuste que muito poucos têm a coragem de denunciar.

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