3.5.10

GOSTEI DO ESPECTÁCULO!


Sábado passado, no Teatro-Cine, em Torres Vedras.
O desafio posto ao ATV (Académico de T Vedras) era criar um espectáculo integrado nas comemorações dos 200 anos das Linhas de Torres Vedras.
Desafio ganho com brilhantismo.
Abordagem muito inteligente do tema, a partir dos olhos da geração mais nova. 
Um encenador seguro, Rogério Nuno Costa; um belíssimo texto de Luís Filipe Cristóvão; imagens de vídeo,  fotografia e  filme, em tela de fundo, sem colidir com as movimentações em palco: os ingredientes de um espectáculo de grande força visual.
Que não seria bastante se não fosse acompanhado de uma convincente abordagem ideológica do tema:  desconstrução dos nacionalismos,  denuncia do convencionalismo patriótico,  relativização dos sentimentos nacionais pela evidência do seu vazio,  urgência de substituir retórica de raça por género humano universal.

A sala cheia é certeza de que o ATV já criou público, depois da grande estreia com MASHUP, no ano assado.
Para melhor esclarecimento do que foi dito, veja-se AQUI.

15 comentários:

Unknown disse...

Méon,

ainda bem que divergimos. Opiniões diferentes suscitam conversas interessantes!!!!!

Beijinho.

UniversitYliopisto disse...

...obrigado pelo comentário.

e, claro, pela acertada interpretação das questões que, no espectáculo, são de facto as mais importantes. Este ano comemoram-se os 200 anos do VAZIO. É urgente que Torres Vedras saiba que por aqui, há 200 anos, não se passou rigorosamente nada.

Até à próxima!

Rogério

Joaquim Moedas Duarte disse...

Não se passou rigorosamente nada?

Ou é ironia ou ... (desculpe a crueza)uma enorme ignorância.

De facto não houve uma batalha como no Buçaco. Mas as Linhas serviram exactamente para isso: para que não houvesse batalha.

Mas houve muitas outras coisas: mobilização de milhares de pessoas para a construção de fortes, redutos, estradas, travezes, abatises, paliçadas, escarpamentos, transportes de materiais, etc.
Houve dois exércitos de milhares de homens frente a frente durante cinco meses, com tudo o que isso implica de problemas de sobrevivência de militares e civis; houve muita gente a morrer de fome e de doença.

Como é possível dizer que "não houve rigorosamente nada"?

UniversitYliopisto disse...

caro méon,

viu o espectáculo. e sabe que se trata de teatro. não se trata de investigação histórica. logo, trata-se de ficção, e não constatação.

pode ler o meu comentário com o filtro da ironia. eu prefiro lê-lo com o filtro do cinismo. acho-o mais interessante do ponto de vista artístico. apenas e só artístico, atenção!

nesse sentido, dizer-se que "não se passou rigorosamente nada" poderá quer dizer que "há-de ter-se passado qualquer coisa de relevante, mas que aos nossos olhos nos parece insuficiente para atingir a categoria de efeméride municipal".

afirmar, num espectáculo, aquilo que afirmo, não é ironia, é cinismo. e é auto-envenenamento: o mesmo dinheiro que a cãmara gasta na dita comemoração da efeméride, é o mesmo dinheiro que paga o nosso espectáculo.

repito: faço teatro, não faço história. e respondo enquanto autor de teatro. da forma como acabei de responder.

Luis F. Cristóvão disse...

Moedas,

de facto, o princípio da nossa ficção está no Vazio, no facto de aqui não se ter passado nada de relevante para ser comemorado.
Daí, partimos para o Vazio enquanto amálgama de Nações, e dessa amálgama para o Vazio de novo.
Depois, tentamos criar uma Nação Utópica, imaginária, impossível. Uma nação que rebate a necessidade ganhar ou perder com o lema "só queremos empatar".
E, no fim, aquilo que sentimos, é de facto o Vazio. Os 200 anos do Vazio.

Uma peça de teatro não tem que ser uma verdade histórica. Mas usamos a história para explicar melhor aquilo que sentimos.

Acho que isso foi conseguido, tanto que no teu texto fazes uma leitura exacta do que pretendíamos apresentar.

Um abraço.

Joaquim Moedas Duarte disse...

Estamos a falar de coisas muito diferentes, parece-me.
Do meu ponto de vista, uma coisa é fazer ficção com intenções artísticas a partir das nossas representações mentais; outra é distorcer propositadamente os factos históricos para fazer essa ficção.

É aceitável interpretar a História, fazer uma leitura dela, a partir dos acontecimentos documentalmente comprovados; mas é abusivo (e inútil! ) negar os acontecimentos, sob pena de se cair no descrédito.
A leitura que fiz do espectáculo dava o benefício da dúvida quanto a esta questão. Pareceu-me uma interpretação da História, no sentido de a depurar dos resquícios de patrioteirismo balofo que ainda surge aqui ou ali, esporadicamente. Ao mesmo tempo parecia-me que abordava a questão central do nosso tempo que é da necessidade urgente de ultrapassar os nacionalismos estreitos, quando há muito o capital financeiro já o fez, sem qualquer escrúpulo. Por fim, parecia-me que fazia um ajuste de contas com o imaginário nacionalista do Estado Novo.

Mas vejo agora que o ponto de partida dos responsáveis do espectáculo foi um equívoco. Partiram do princípio que se estava a comemorar, no sentido de festejar uma vitória. Ora, se é essa a leitura que fazem, ela está errada. A intenção não é comemorar. É evocar, lembrar, avivar a memória, para melhor compreender o presente.
Recordo as palavras do Comissário das Comemorações, Manuel Clemente: “Lembrar hoje as Linhas de Torres Vedras, na paz europeia de que felizmente gozamos, é evocar todo os que aqui estiveram, dos dois lados das Linhas, quando nós, seus descendentes, nos reencontramos num projecto comum para o Continente e para o Mundo.
Lembrando os de então, abrimos o futuro na solidariedade e na paz. “

Quando se pega na História de uma forma equívoca, facilmente se cai no absurdo e no abuso ofensivo de meter no mesmo saco Hitler e Soares, Salazar e Cunhal – como vimos na peça.
A História é uma ciência e reconhecê-lo é uma conquista da humanidade. Não é por acaso que os ditadores é que refazem a História, ao arrepio da sua construção científica e ao serviço dos seus projectos políticos.

Por isso, estou em desacordo com a forma de abordar esta questão da História, do modo como o Rogério e o Luís Filipe agora o fizeram nos seus comentários. O Luís, ao afirmar que usa a História para explicar o que sente, está a fazer exactamente o que faziam os nacionalistas do Estado Novo, que também usavam a História para se explicarem, só que noutra perspectiva.

O Rogério, ao usar a História como se fosse um fait-divers, deixa de fazer uma abordagem séria de um fenómeno sócio-histórico e entra no domínio da laracha gratuita.
Está no seu direito. E eu estou no meu, ao rejeitá-lo liminarmente.

UniversitYliopisto disse...

...porque continuo a acreditar, de forma igualmente liminar, que não me cabe "fazer história", mas "teatro", deixo aqui o comentário que escrevi relativamente ao fado cantado no espectáculo:

https://www.blogger.com/comment.g?blogID=5868859117929738847&postID=2614506379254762796&isPopup=true

caro méon, não se pode confundir o criador do espectáculo com a ideologia do espectáculo. se assim fosse, o shakespeare seria lembrado por ser um sanguinário incorrigível, todos os autores gregos como apologistas do fratricídio ou do incesto, ou então, se quisermos agarrar em exemplos "contemporâneos", a sarah kane seria uma apologista ferrenha do suicídio entre outras abordagens extremistas ao corpo e à vida.

em ficção, os temas interessam-me enquanto propulsores de narrativas teatrais (e para-teatrais). nesse sentido, as invasões napoelónicas são tão interessantes/importantes quanto um saco de batatas. não se trata de denegrir gratuitamente um facto histórico. trata-se, sim, de construir a partir dele uma narrativa teatral autónoma.

repito: o cinismo é mais interessante artisticamente do que a ironia. e é assumido por parte dos criadores deste espectáculo que só podemos fazer o que quisemos fazer se nos dermos a possibilidade auto-mutiladora de provarmos do nosso próprio veneno. é por isso que neste espectáculo não existe "moral" possível (outra coisa que não deveria fazer parte do léxico teatral contemporâneo).

a sua abordagem (perfeitamente legítima, atenção!) escreve-se, aqui, contra-corrente ao nosso pensamento artístico, pois é absolutamente moral: o que se pode e o que não se pode fazer com uma matéria histórica específica. não nos cabe fazer discursos legitimadores da proposta/encomenda (isso cabe aos dirigentes políticos que a promovem, mal ou bem). cabe-me (e isso farei SEMPRE) legitimar o discurso artístico que alicerça a obra.

lamento desapontá-lo, caro méon, mas estamos a falar de um espectáculo que não é, nunca foi nem nunca será "SOBRE" o tema histórico. estamos a falar sobre um espectáculo que é "SOBRE" o seu próprio processo de construção. o tema é subsidiário...

abraço,
rogério

Joaquim Moedas Duarte disse...

Bom, esta conversa vai animada e é muito interessante.

Parece-me que os criadores do "Selecção Nacional" estão em pleno pós-pós-pós-modernismo".
É o beco em que está toda a arte contemporânea. Quando se esgotam as abordagens comprometidas com visões da vida ( o tal "moralismo", de que fala o Rogério?), entra-se no cinismo auto-fágico e na contemplação narcísica dos próprios gestos.

Para quê?
Se fosse para afirmar a liberdade de fazer o que se entende, ainda eu compreendia. Mas parece que não, porque se assim fosse, isso já seria "moralismo"...

De facto eu não consigo lidar com este tipo de abordagem artística, assumidamente cínica e descomprometida com os conteúdos.
Provavelmente estou a ser redutor e estreito de vistas. Porque continuo a raciocinar em termos de forma/conteúdo, com valores ideológicos incluídos.
Fora disto, tenho a impressão de que a arte procura desesperadamente uma saída, como aqueles heróis de BD que chegam ao fundo de um beco escuro e só encontram paredes altíssimas, lisas. Não há saída...

Uma pergunta final: que pretendem os criadores deste espectáculo?
Gostava de uma resposta clara e sem subterfúgios, se pudesse ser...

Abraço!

UniversitYliopisto disse...

caro méon,

sim, a conversa vai animada e muito interessante. é raro falar-se dos espectáculos através destas questões (que são garantidamente as que me interessam).

não são os criadores deste espectáculo que estão em pleno pós-pós-pós-modernismo. parece-me ser essa a condição dos tempos em que vivemos (sim, é uma condição, não é uma corrente estética, ao contrário do que muita gente pensa). é minha missão, enquanto criador, dialogar com essa condição. não tenho qualquer vontade de a mudar/superar/ultrapassar/destruir/construir/desconstruir. talvez compreendê-la melhor...

é um beco sem saída? é. será necessário encontrar a luz ao fundo do túnel? tenho dúvidas. a arte, hoje, tem que lidar com a sua própria inutilidade, sem dramatismos idiotas nem promessas de um mundo melhor. não é uma qestão de demissão, é a constatação de uma realidade que, ainda que pareça que não, é fértil do ponto de vista do pensamento e da reflexão.

eu próprio me debato diariamente com a essência do gesto artístico e com a legitimidade da sua existência numa época em que o mesmo não vale rigorosamente nada. digo isto em contraponto com um ideal utópico passado, que me recuso a querer recuperar. mas não acho que a este nível o méon seja redutor e estreito de vistas. talvez só um bocadinho "romântico" demais... está no seu direito.

a "abordagem cínica e descomprometida com os conteúdos", que o méon parece recusar, não é um fim. é um caminho (e por aqui começa a resposta à sua pergunta no final do comentário). costumo usar as palavras de um artista plástico que admiro, chamado Thomas Hirschhorn, quando me proponho a falar sobre estas questões. diz ele que não faz "arte política", faz "arte politicamente". sempre me interessou mais o percurso que o ponto de chegada. sendo que no percurso está também o ponto de partida. interessa-me procurar a essência do gesto artístico. prefiro a ontologia à hermenêutica.

posto isto, o que pretendo com este espectáculo (e falo por mim, pois o luís não tem participado neste debate) é a procura de uma solução para uma pergunta/problema: o que fazer com uma encomenda?

pelo que disse atrás, facilmente se constata que tanto me interessa o sucesso quanto o fracasso na obtenção dessa resposta. não acredito em respostas consoladoras, por isso prefiro trabalhar muito bem a pergunta, a ver se a resposta brota sozinha, sem que eu precise de a revelar. na verdade, não há resposta possível, e é mesmo assim que tem que ser.

um espectáculo vive e sobrevive em cima de uma estreita relação com o tempo e o espaço concretos (não abstractos) em que se encontra construído. é certo para aquele momento. e só para aquele. não acredto em obras "universais". prefiro os particularismos. gosto da ineficácia. e gosto do erro. tenho uma fé inabalável no poder criador (nem sequer digo "criativo") do falhanço. e acredito mais no pensamento que na prática.

o espectáculo segue sempre nas cabeças de quem o vê. por isso o espectáculo também está a acontecer agora, no exacto momento em que escrevo e dialogo consigo.

abraço.

Joaquim Moedas Duarte disse...

Pois bem, caro Rogério: parece que já nos entendemos.
Percebi o seu ponto de vista e você percebeu o meu.

Fico à espera do seu próximo espectáculo. Se puder, lá estarei. E sabe porquê? Porque, embora não partilhando os seus pressupostos artísticos, e apesar de alguma "seca", eles me divertem. O que, nos tempos que correm, não é nada mau...

Por mim, como já não tenho mais música, meto a viola no saco e por aqui me fico.
Você faça o que entender, este espaço também é seu, com todo o gosto!

Saravá!

UniversitYliopisto disse...

...uma vez mais obrigado pela disponibilidade para a discussão. repito: é raro.

quanto aos próximos espectáculos, tomei a liberdade de adicionar o seu e-mail (o que aparece no seu perfil aqui no blog) à minha mailing list, para receber informações. se não desejar, é só dizer.

até sempre!
r.

Luis F. Cristóvão disse...

Olá amigos,

como sabem ontem estive presente na actividade do comboio de leituras e não pude participar desta discussão. apesar de chegar tarde, não quero deixar de adicionar algumas reflexões próprias a esta questão, já que o projecto "Selecção Nacional" tem importâncias, origens e consequências diferentes no meu trajecto artístico e no do Rogério.

Ao ser convidado para escrever os textos deste projecto, participei desde o início na sua concepção, acompanhando leituras, ensaios e ideias para as suas várias representações (filme/fotografia/peça). Sendo para mim um novo desafio a escrita de um texto teatral, não me consigo separar em momento algum do facto de ser um texto e de, para mim, o jogo ser feito no papel. E é desse modo que a "Selecção Nacional" se conjuga perfeitamente com, por exemplo, o meu último livro, "A Cabeça de Fernando Pessoa". Em ambos os casos me aproprio de discurso alheio, seja de autores, seja do discurso quotidiano, e o subverto a favor dos meus argumentos dentro da obra de arte que estou a executar.
Acredito que a obra de arte deve provocar, deve desestabilizar, deve ser um tanto incómoda à ordem habitual das coisas. E é nesse sentido que se cruzam Soares, Hitler, Cunhal e Salazar, é nesse sentido que se apelida de "mentirosa" a Rainha Santa, "bêbeda" a Amália, "assassina" a Rosa Mota. Em cada momento do texto se espera criar uma reacção do espectador, tendo sido a mais visível aquela em que alguns espectadores levantaram de facto os braços quando no texto se dizia "levantem os braços, plateia".
É difícil para mim imaginar uma moral na arte. por isso também apelidei este trabalho de "exposição radical do fascismo", uma exposição violenta do que foram utilizações moralistas de formas de arte, de discurso político, de leituras históricas, no sentido de provocar no espectador esse incómodo de ter que pensar tudo de novo à luz desta nova utilização da informação.
Passamos a vida inteira a tentar encontrar formas de colocar protecções em tudo aquilo que fazemos. É-nos mais favorável encontrar lugares onde passemos incólumes. Mas se não posso andar na rua a provocar as pessoas, a tentar fazê-las pensar pelos seus próprios meios, pelo menos quando as pessoas se dispõem a entrar numa sala ou a abrir um livro para se encontrarem com um texto meu, exerço esse meu direito artístico de as tentar deslocar do seu conforto diário.
Não é sem um sorriso que vejo comparada esta peça com o discurso do Estado Novo. Um discurso que eu abomino e ao qual devoto o meu mais profundo desprezo. Mas, estando aqui a tratar de ficção, sendo eu um ficcionista, alguma coisa terei feito bem para que isso seja confundido.

Um abraço.

Unknown disse...

Entro neste debate pela porta do lado, uma vez que não vi a peça que lhe deu origem.

O que não quer dizer que não possa ter alguma opinião sobre as ficções baseadas na realidade, mas o que me faz dar aqui a minha opinião, é esta frase do Rogério Nuno Costa, que destaco...

"a arte, hoje, tem que lidar com a sua própria inutilidade, sem dramatismos idiotas nem promessas de um mundo melhor. não é uma qestão de demissão, é a constatação de uma realidade que, ainda que pareça que não, é fértil do ponto de vista do pensamento e da reflexão."

Parece-me bem que, nesta época pós-pós-pós o que se quiser, (há quem lhe chame também neo-barroco), a arte tornou-se mais um produto passível de ser vendido e comprado. Vivemos na era dos sentidos, do espectáculo, da diversão, do virtual... A arte hoje em dia, é uma forma de espectáculo, de diversão. Um meio para nos "sacudir" os sentidos, as ideias! Cumpre com a sua função? Bom, às vezes até cumpre, às vezes, até sacode algumas ideias...

Muda o mundo? Sempre mudou. E o inverso também é verdadeiro, ou seja, o mundo sempre mudou a arte. Podemos não dar por isso neste momento, mas já que se fala em história, é certo e sabido por anterior experiência, que esta só se deixa mostrar na sua plenitude, após o "arrefecimento" dos acontecimentos que a causaram.

Dito isto, penso que será, no mínimo, superficial a afirmação de que a arte não serve para nada.

Tal como acontece com um casal quando entra na rotina matrimonial, a nossa relação com a arte pode-nos parecer agora vazia, uma vez que a temos permanentemente à disposição, nas mais diversas formas e suportes. Manifestações artísticas, maiores ou menores, (ou simplesmente exercícios de estética com fins publicitários), entram-nos pelos olhos dentro a toda a hora.

Nesta época do espectáculo, tudo é espectáculo! Até o que seria suposto ser um "chato" discurso político (veja-se o exemplo Obama) torna-se num ápice, num espectáculo apreciado por legiões de fãs em todo o mundo.

Nesta época pós-pós, onde tudo é globalizado, reproduzido, embalado, e teatralizado, a arte, principalmente as artes visuais e performativas, têm grande presença nas sociedades. Transformam-nas? Certamente! Se é para melhor ou pior, aí é que já nada se pode dizer... Fica apenas a dúvida, até porque, a arte é o que é, e a classificá-la, seria somente como um conjunto particular de manifestações do sentir humano, e não como uma ideologia político/social ou de qualquer outro tipo.

Mas partir dessa dúvida para a afirmação de que a arte de nada serve, além de redutor, acaba por ser excesso de cinismo. Talvez com algum valor artístico, mas mesmo assim, cinismo.

Porque, quem assim fala, sabe bem que vive da arte. E não me refiro ao termo "vive" apenas de forma material, mas mesmo, e essencialmente, de forma emocional. E o mesmo se passa com a humanidade, que, não só vive da arte, como já não vive sem ela.

Tal como o hipotético casal que já não reconhece a profundidade da sua relação, também aqueles que mais lidam com a arte hoje em dia, não lhe reconhecem mais que que autofágicos motivos para continuarem a produzir e para dela continuarem a usufruir.

Mas, experimentem (se conseguirem) afastar-se de toda e qualquer manifestação artística. Aí sim, sentirão a utilidade da arte...

Comer demasiado daquilo que nos agrada, dá sempre nisto... :-)

Anónimo disse...

Como um novato, eu estou sempre em busca de artigos que podem me ajudar. Obrigado Wow! Obrigado! Eu sempre quis escrever no meu site algo como isso. Posso tomar parte do seu post no meu blog?

Joaquim Moedas Duarte disse...

Um comentário ao Anónimo que aqui passou hoje: Pode usar o que entender, com duas condições (óbvias, desculpe a insistência...):
1- Identificar-se, dar uma pista de contacto, por exemplo o link do seu blogue;
2- Referir a origem do que levar.

É o básico nestas coisas, já se sabe, mas como perguntou... eu respondi.
Venha sempre e deixe o nome, SFF.

Obrigado