27.5.10

João L. Costa, "O velho, o rapaz e o burro"




UM VELHO

No meio do café barulhento, debruçado
sobre a mesa, um velho está sentado;
com um jornal à sua frente, sem companhia

E no desdém de sua velhice mísera de agora
pensa quão pouco aproveitou os anos de outrora
em que tinha fluência, e beleza, e energia.


Percebe que envelheceu muito; sente, conhece.
E contudo o tempo em que era jovem lhe parece
ontem. Como o tempo passa, como o tempo passa!


E pensa em como a Prudência o enganou;
e como - que loucura! - sempre lhe acreditou
quando dizia; "Amanhã. Há tempo." - Que trapaça!


Lembra ímpetos que segurou; felicidade,
quanta sacrificou. Cada oportunidade
perdida de seu saber insensato graceja.


Mas de tanto refletir e recordar
o velho tonteou. E agora dorme a sonhar
no café recostado sobre a mesa.
     
Konstantinus Kavafis
(1897)







1 comentário:

Teresa Diniz disse...

Tão triste perceber que a vida passou e não demos por isso. Gosto muito de Konstantinus Kavafis.