30.11.12

INVERNIAS





O Inverno associa-se, na minha memória, às imagens do velho livro da primeira classe. Numa terra onde não nevava, este manto branco arrepiava-me. Ainda hoje, o neto a falar com o avô, ao frio da manhã gelada, é a imagem simbólica da invernia e do frio.
Mas há pouco, ao chegar à varanda, deparei-me com outra imagem, esta bem real: na manhã fria, debaixo de chuva, sobre a lama, um homem abria um buraco no passeio, para reparar um cano roto.
Herói anónimo, este homem. Obrigado, irmão! 

28.11.12

Concerto de encerramento - 40º Aniversário do Choral Poliphonico de Coimbra



Uma canção popular que Zeca Afonso recuperou e que passou a fazer parte das nossas cantorias de convívio.
Hoje, nas vozes do Choral Poliphónico de Coimbra ganha uma dimensão surpreendente.
Momento muito bonito.

18.11.12

"ALGUMA COISA LIMPA NUA GRAVE"




       Foto(C)J. Moedas Duarte


HORIZONTE IMEDIATO

Todos os dias me apoio em qualquer coisa
ando, como, esqueço
 alguma coisa aprendo
e desaprendo
alguma coisa limpa nua grave

surge
ao lado passa
eu não sou este desejo
que às vezes arde
alto sobre o chão

António Ramos Rosa
Horizonte Imediato,
Publicações Dom Quixote,
Lisboa, 1974

10.11.12

ESTAMOS JUNTOS!













Há 13 anos foste para Cabo Verde, ilha da Boa Vista, como professora cooperante, leccionar Língua Portuguesa. O contrato de dois anos prolongou-se por mais quatro e acabaste por te fixar nessa terra que agora já é tua. Sei que a amas com generosidade e fazes da tua profissão docente um destino que persegues com alegria. Deste à luz dois meninos maravilhosos que têm no sangue o país da saudade misturado com o da morabeza. 
Os teus alunos crescem com a tua ajuda, aprendendo a olhar o mundo com as fronteiras alargadas pela consciência de fazerem parte de uma comunidade de 200 milhões de falantes da mesma língua.
Hoje, ao receber as fotos que me enviaste, tive ainda mais orgulho em estar tão perto de ti, partilhando os teus sonhos. Com escassos meios e muito amor pela tua missão, com um grupo de pessoas que juntaste à tua volta, criaste um pequeno espaço cultural sobre o teu país de origem, Portugal. Na singeleza das fotocópias, na simplicidade do pão e vinho sobre a mesa, na sugestão de pôr os meninos a pintarem a bandeira verde/rubra, enquanto ouviam música dos grandes cantores portugueses, ergueste uma maravilhosa evocação ao país que tiveste de deixar porque nele não tinhas trabalho. Sem lamentações, com a coragem de quem vive para se cumprir como Ser Humano e ajudar quem está perto a sê-lo também.
Comovidamente, amorosamente, aqui deponho a minha pequena homenagem a tantos professores portugueses que labutam por esse mundo fora, ensinando a nossa Língua e divulgando a nossa cultura. 
E a ti, minha filha, professora na Boa Vista de Cabo Verde há 13 anos, um terno e saudoso beijo, com as palavras com que me consolaste no dia da tua partida: "Não fiques triste, estamos juntos"!

Porque - Francisco Fanhais



De vez em quando gosto de ouvir. Um poema de Sophia de M. B. Andersen na voz de Francisco Fanhais. Um poema que é denúncia e elogio. Que aponta um caminho ético.

 ( Imagem retirada da net, identificada )


Data

Tempo de solidão e de incerteza
Tempo de medo e tempo de traição
Tempo de injustiça e de vileza
Tempo de negação

Tempo de covardia e tempo de ira
Tempo de mascarada e de mentira
Tempo de escravidão

Tempo dos coniventes sem cadastro
Tempo de silêncio e de mordaça
Tempo onde o sangue não tem rasto
Tempo da ameaça


Sophia de Mello B. Andersen


Um abraço solidário ao Cid Simões que me vai enviando estes poemas de desassossego e alerta.



9.11.12

ÀS VEZES ARREPENDO-ME...


... Sim, arrependo-me de deixar aqui as manchas gordurosas do nosso quotidiano político.
O pântano  mal cheiroso em que vivemos causa vómitos e produz anemia mental.
Não me rendo nem quero entrar no cinismo indiferente dos que metem tudo no mesmo saco. Há gente canalha no meu país, sim. E oportunistas, videirinhos, sendeiros que aproveitam os portões abertos da corrupção e do compadrio partidário. Mas também há muita gente sã, de espinha direita e vida honesta, gente solidária, que dá as mãos e enfrenta a adversidade com coragem e confiança num futuro melhor.

Sim, queria este espaço sempre limpo dos excrementos humanos largados pelos tais que fazem da idolatria ao deus Capital o seu modo de vida. Mas nem sempre consigo.
Hoje alonguei a vista para o Tejo da minha infância e senti que me afastava para muito longe do pântano.
Esta foto, que tirei há dias na Ponte D. Luís, em Santarém, ajuda-me a entrar na noite e no dia de amanhã com uma aurora nos olhos.

6.11.12

Freitas do Amaral . Portugal segue "Grécia com 1 ano de atraso" e terá mais resgates | iOnline

Freitas do Amaral . Portugal segue "Grécia com 1 ano de atraso" e terá mais resgates | iOnlin


Mais um perigoso esquerdista!
Quem ontem ouviu o ministro Aguiar Branco no Prós e Contras teve a sensação de estar a ver a encenação da anedota do tipo que responde a quem o informava pelo telemóvel de que havia um perigoso condutor em contra-mão na auto-estrada: "Um condutor em contra-mão? Vão todos! Vão todos!"
... E o polícia de trânsito continua nos jardins de Belém a atirar aos
pássaros!

4.11.12

ÚLTIMA PÁGINA






Imponente como final de sinfonia, a última página de PALMEIRAS BRAVAS, de William Faulkner:

«Pois não era só memória. Memória era só a metade disso, não era bastante. Mas deve estar algures, pensou. Há o desperdício. Não só eu. Pelo menos, eu acho que não penso só em mim. Espero não pensar apenas em mim. Seja qualquer pessoa, pensando, recor­dando, o corpo, as ancas largas e as mãos que gostavam de fazer porcarias e coisas. Parecia tão pouco, não era pedir muito, não era querer muito. Adiante do velho rastejar em direcção ao túmulo, o velho apegar-se, velho e enrugado, murcho, derrotado, ape­gar-se nem mesmo à derrota mas apenas a um velho hábito; aceitando mesmo a derrota para ser-se autorizado ao apego ao hábito — os pulmões ofegantes, as tripas incómo­das, incapazes de prazer. Mas, afinal, a me­mória era capaz de viver nas velhas entra­nhas ofegantes; e agora, de facto, estava ao alcance da sua mão, incontroverso e claro, sereno, a palmeira estralejando e murmu­rando seca e brava e tenuemente e dentro da noite, mas podia encarar. Podia, não. Hei-de. Quero. De modo que é afinal a velha carne, não importa quão velha. Porque, se a memória existe fora da carne, não será memória, porque não saberá o que lembra, de modo que, quando ela se tornou nada, então metade da memória tornou-se nada, e, se eu me tornar nada, então todo o recor­dar deixará de ser. — É... pensou ele, entre a dor e o nada, eu escolho a dor.»

FAULKNER, William - Palmeiras Bravas, col. livro de bolso, Portugália Editora, s/d

Foto(C)J Moedas Duarte

3.11.12

Passos Relvas Dias Loureiro - JN

Passos Relvas Dias Loureiro - JN

IMAGENS DO MEU OLHAR - Ir à terra de José Relvas


31 de Outubro, 83º aniversário da morte de José Relvas. Vou a Alpiarça e percorro alguns dos espaços que o lembram.

De caminho, passo pelo Tejo.


Junto à Ribeira de Santarém



A Ribeira de Santarém, vista da Ponte D. Luís



Já em Alpiarça...




A casa onde vivi até aos 18 anos...


A casa da família Durão Neves



A casa da "Sopa dos Pobres"



As duas portas da esquerda eram do consultório do Dr. Mário Zúniga, médico de extrema bondade e generosidade que acorria a casa dos doentes montado numa velha bicicleta, a qualquer hora do dia ou da noite. Tinha residência no primeiro andar do prédio contíguo ao consultório.



À direita era a loja de pronto a vestir do "Batata". À esquerda, a casa do Sr. Nunes, com belos azulejos no friso superior. Por trás divisam-se as torres da Igreja Matriz.







Pormenores dos azulejos

Tem imponência e equilíbrio a Matriz de Alpiarça
Na torre do lado direito mora uma família de cegonhas...
















A igreja é do final do séc XIX mas o cruzeiro é do séc XVI





















Janelas de Alpiarça



Às 10H30 foi a romagem ao cemitério, com uma pequena homenagem ao grande republicano.



Jazigo onde repousam José Relvas, 
a mulher D. Eugénia e os três filhos



Monumento a José Relvas, no jardim público de Alpiarça, 
 autoria de João Limpinho, 1982














Em homenagem a José Relvas, que foi grande melómano - apreciador e executante, o serão foi dedicado à música.

Leonor Leitão-Cadete, compositora, pianista e professora, que durante alguns anos dinamizou a prática musical em Alpiarça, deu um memorável concerto.

C



Em fundo, imagens da Casa dos Patudos.
Destaque para o quadro de José Malhoa que retrata José Relvas com o seu violino.



Mesmo aqueles que já a conhecem, encontram sempre novos motivos de interesse.
Foi recentemente restaurada e aberto ao público o segundo andar onde se encontram os aposentos de José Relvas.


Fotos(C)J. Moedas Duarte