26.4.08

MINHA LUZ


Falemos, pois, de amor: serenamente.

A esfinge, que nós somos, adormece cansada

e a criança de um dia olha-nos, frente a frente.

( Daniel Filipe )

24.4.08

VER E REVER

A Paulinha descobriu isto.
Uma pérola de humor!
Ver e rever!!!
Portugal precisa é de alegres novas oportunidades
Ontem foi o DIA MUNDIAL DO LIVRO.
Nada de "postar"! Estive a ler um livro!
Já agora: "Photomaton & vox" - Herberto Helder.

Uma rapariga, acusada de assalto e já cinco vezers ré por furto e outros delitos, afirmou no tribunal que «se torna por vezes tão solitária que apenas conversa com os vermes nos jardins».
(pág. 93, Assírio & Alvim, 4ª ed.)

22.4.08


Só o fogo e o mar
podem olhar-se sem fim.
Nem sequer o céu com suas nuvens.
Só o teu rosto,
só o mar e o fogo.

As chamas, e as ondas, e os teus olhos. ...
Só o teu rosto interminavelmente.
Como o fogo e o mar.

Como a morte.

Eduardo Carranza

CIÊNCIA


Num mundo cercado por crenças e misticismos ocos, é bom saber que existem áreas de credibilidade segura. Uma delas é a CIÊNCIA.
A grande diferença entre a chamada "civilização ocidental" e o "Islamismo radical" está precisamente aqui. O Islão despreza o método científico - embora não despreze a ciência que lhe garante o armamento...
Claro que, dentro da civilização ocidental, há áreas radicais que também desprezam a ciência. Mas estão mais circunscritas e só têm aceitação entre as franjas mais atrasadas da sociedade.

Digo isto hoje, em que vi esta notícia.
A Ciência é o nosso seguro civilizacional contra a barbárie.


Aqui fica mais uma ligação. Por mor da ciência...




21.4.08

OUTRO CANTO ESTRANHO



Jean Gabin foi um actor francês muito popular nos anos 50/60. Era um duro.
Só há poucos anos descobri esta canção que me fascinou: "revisão de vida" na voz de alguém que está no "Outono da vida"...
Um momento perfeito: « a gente esquece tanta noite de tristeza / mas jamais uma manhã de ternura...»

O CANTO DO UIRAPURU



Este é o complemento natural do post anterior. O canto do uirapuru, gravado na floresta amazónica.
Que o canto do uirapuru acompanhe os dias dos meus amigos

20.4.08

Uirapuru



O Uirapuru é uma pequena ave da Amazónia, venerada pelos índios: quando o ouvem - o que é muito raro - apressam-se a pedir sorte aos deuses. Segundo a lenda, o Uirapuru é um príncipe encantado que foi assassinado por um rival invejoso.
A raridade do seu canto deve-se ao facto de ele só cantar por breves minutos ao nascer e ao pôr do sol, e apenas durante os quinze dias em que faz o ninho.
É sobre esta ave que Nel Amaro e os seus Cantores de Ébano criaram esta canção, estranha e encantatória.

Dedico-a a quem me ofereceu este canto.

19.4.08

MERCADORIAS...


Dizem-me que o Diário de Notícias está em recuperação. Deve estar.
O que será devido, provavelmente, a um administrador talentoso, gestor por objectivos, rigoroso no controlo dos custos, dinâmico, bom pai de família - no próximo domingo, quem sabe, até vai acompanhar a filhinha à primeira comunhão...
Na publicidade, dizem, o Diário de Notícias está a consolidar uma posição muito significativa. Deve estar. Há sempre muitas mercadorias à venda, há que publicitar.

«O senhor administrador vai apresentar bons resultados financeiros no final do ano.
O senhor administrador não é um teórico, é um homem de acção!»

Isto não é uma questão de moral. É, acima de tudo, uma questão humanista. De dignidade humana.
O que é que isso interessa ao senhor administrador?

e pela tarde quando regressavam
as gaivotas traziam sal de mares distantes
nada sabiam dos agapantos,
sinais breves de um amor presente

18.4.08

ATÉ PARECE QUE ELE FREQUENTA AS LIVRARIAS ACTUAIS...

Boa e Má Literatura

O que acontece na literatura não é diferente do que acontece na vida: para onde quer que se volte, depara-se imediatamente com a incorrigível plebe da humanidade, que se encontra por toda a parte em legiões, preenchendo todos os espaços e sujando tudo, como as moscas no verão.Eis a razão do número incalculável de livros maus, essa erva daninha da literatura que tudo invade, que tira o alimento do trigo e o sufoca. De facto, eles arrancam tempo, dinheiro e atenção do público - coisas que, por direito, pertencem aos bons livros e aos seus nobres fins - e são escritos com a única intenção de proporcionar algum lucro ou emprego. Portanto, não são apenas inúteis, mas também positivamente prejudiciais. Nove décimos de toda a nossa literatura actual não possui outro objectivo senão o de extrair alguns táleres do bolso do público: para isso, autores, editores e recenseadores conjuraram firmemente.
Um golpe astuto e maldoso, porém notável, é o que teve êxito junto aos literatos, aos escrevinhadores que buscam o pão de cada dia e aos polígrafos de pouca conta, contra o bom gosto e a verdadeira educação da época, uma vez que eles conseguiram dominar todo o mundo elegante, para adestrá-lo a ler a tempo, ou seja, fazendo com que todos leiam sempre a mesma coisa, isto é, a última novidade, de modo que no seu círculo de relações eles possam ter matéria de conversação: a esse fim servem os maus romances e as produções semelhantes de penas algum dia renomadas, como as de Spindler, Bulwer, Eugênio Sue e outros, que eram lidos no passado. Mas o que pode ser mais miserável do que o destino de tal público das belas-letras, que se vê obrigado a ler perpetuamente as escrevinhações mais recentes de cabeças tão comuns, cabeças que escrevem apenas por dinheiro, e por isso as suas produções encontram-se sempre em grande quantidade, enquanto das obras dos espíritos raros e superiores de todos os tempos e países, esse público conhece somente o nome! De modo particular, a imprensa quotidiana das belas-letras é um meio engenhado com astúcia para roubar do público que se interessa por estética o tempo que ele deveria dedicar às produções autênticas do género, em prol da própria educação, e para fazer com que esse tempo seja dedicado às obras malfeitas das cabeças banais.Como as pessoas lêem sempre apenas as novidades em vez das melhores obras de todos os tempos, os escritores permanecem no âmbito restrito das idéias circulantes, e a época afunda-se cada vez mais na sua própria mediocridade. Por isso, no que concerne à nossa leitura, a arte de não ler é de máxima importância. Ela consiste no facto de não se assumir a responsabilidade por aquilo a que todo o instante ocupa imediatamente a maioria do público, como panfletos políticos e literários, romances, poesias e similares, que são rumorosos justamente naquele determinado momento, e chegam até a atingir várias edições no seu primeiro e último ano de vida. É preferível então pensar que quem escreve para loucos encontra sempre um grande público, e que o escasso tempo destinado à leitura deve ser exclusivamente dedicado às obras dos maiores espíritos de todos os tempos e de todos os povos, que sobressaem em relação ao restante da humanidade e que são assim designados pela voz da glória. Apenas estes instruem e ensinam realmente.Nunca se chegará a ler um número muito reduzido de obras más nem obras boas com muita frequência. Livros maus são um veneno intelectual: estragam o espírito. A condição para ler obras boas é não ler obras más, pois a vida é breve, e o tempo e as forças são limitados.

Arthur Schopenhauer, in 'Da Leitura e dos Livros'


Quem foi o senhor que escreveu isto?

Arthur Schopenhauer (Danzig, 22 de Fevereiro 1788Frankfurt, 21 de Setembro 1860) foi um filósofo alemão do século XIX da corrente irracionalista. Sua obra principal é O mundo como vontade e representação, embora o seu livro Parerga e Paraliponema (1851) seja o mais conhecido. Schopenhauer foi o filósofo que introduziu o Budismo e o pensamento indiano na metafísica alemã. Ficou conhecido por seu pessimismo e entendia o Budismo como uma confirmação dessa visão. Schopenhauer também combateu fortemente a filosofia hegeliana e influenciou fortemente o pensamento de Friedrich Nietzsche.

(Wikipédia)




17.4.08

SEM PALAVRAS...

Às vezes... apetece esta música!
Sei! Claro! ...família do toni carreira...Blá...blá...lamechas...e blá blá blá!
...Eu hoje gostei de ouvir!!!
DIA BOM !

16.4.08

DE ACORDO?

Estamos de acordo com o acordo ortográfico?
Por mim, desde que li o Eça numa edição de 1905, fiquei vacinado. Tinha mais erros ortográficos do que um ditado do Parracho, o desgraçado papa-reguadas da minha Quarta Classe. Percebi que a edição era anterior às modificações de 1911. Escrever mãi ou mãe? pharmácia ou farmácia? chrónicas ou crónicas?
Ou, citando Carlos Reis (ver link para texto completo no final):
No Português que hoje escrevemos (repito: no de agora, não ainda no que virá depois do Acordo!), grafo “erva”, “herbário” e “ervanário”, ou seja, avanço e recuo, em palavras da mesma família etimológica, em relação ao uso ou ao desuso do “h” inicial; e o mesmo “h” desapareceu já em “desumano” (tendo persistido em “humano”), sem ofensa da etimologia, num acto de simplificação que aceitamos sem pestanejar. Mais: no Português actual, mantemos a consoante surda em “acto”, mas já a dispensámos em “contrato” e em “aflito” (antes, “aflicto”); perdemo-la em “prático”, mas conservamo-la em “eléctrico” ou em “ecléctico”. Escrevemos “pronto” (e já não “prompto”), mas parece que alguns resistem em passar a escrever “perentório” em vez de “peremptório”, usando ainda aquele “p” (que ninguém pronuncia) bem à vista. E abundam as homografias, tratando o contexto de desfazer eventuais confusões: escrevo “gelo” (substantivo) e “gelo” (do verbo gelar), sem necessidade de acento gráfico para sabermos onde está o “e” aberto e onde está o fechado; e “consolo” (substantivo) e “consolo” (“eu consolo”, do verbo “consolar”) e “colher” (de chá ou outra) e “colher” (verbo); e “acordo” (ortográfico, pois então) e “acordo”, como verbo (por exemplo: “acordo para as vantagens do acordo ortográfico”). E há o famoso hífen: insistimos nele nas formas monossilábicas “hei-de” e “há-de”, mas não fazemos questão nele em “havia de”.
Já aprendi a desconfiar de todas as ortodoxias pois cada época tem a sua.
Acho que a ortografia é uma questão eminentemente pragmática. Fazer dela um museu de etimologia parece-me desajustado. E gritar pelo purismo da língua em nome de 10 milhões de falantes, esquecendo os outros 240, acho irrealista.
Tentei perceber melhor o que estava em causa e encontrei os dois textos básicos das posições em confronto, da autoria de dois professores universitários de reconhecido mérito.
Partilho-os neste espaço, basta clicar:

Texto de Carlos Reis (a favor do acordo)
Texto de Vasco Graça Moura (contra)

14.4.08

Quando em meu desvelado pensamento
O teu formoso gesto se afigura,
Não sei que afecto sinto, ou que ternura,
Que a toda esta alma dá contentamento.

Ali fico num largo esquecimento,
Contemplando na minha conjectura
Do teu sereno rosto a graça pura,
De teus olhos o doce movimento.

Porém logo a inconstante fantasia
Me acorda o entendimento arrebatado,
E desfaz todo o bem, que me fingia,

Sendo tal este gosto imaginado,
Que de Amor outra glória eu não queria
Mais que trazer-te sempre em meu cuidado.

Filinto Elísio
[Filinto Elísio nasceu em Lisboa, em 1734, de origens humildes. Foi ordenado padre, em 1754, e influenciado pelo arcadismo, e pelo iluminismo. As suas ideias liberais levaram a que a sua própria mãe o denunciasse à Inquisição, levando-o a exilar-se em Paris, em 1778. Aí conheceu o poeta Alphonse de Lamartine
A vida em Paris foi difícil, e teve que traduzir obras francesas para subsistir. As suas poesias foram publicadas, aínda em sua vida, em Paris, entre
1817 e 1819. Só depois da sua morte, as suas obras seriam publicadas em Lisboa, entre 1836 e 1840. ( Wikipédia)]

Imagem(C) Klint


11.4.08


Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca
não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.

Morre lentamente,
quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.


Martha Medeiros

IMAGENS DO MEU OLHAR - Sirmione






Lago de Garda, o maior da Itália, algures entre Milão e Verona.
Um castelo com fossos de água à volta, uma ponte levadiça... O castelo que desenhamos na infância. Estava lá, existe! de sentinela à vila de Sirmione, uma pequena península no Lago.

PORQUE...

... hoje é o primeiro dia
do resto das nossas vidas!

10.4.08

Imagens do meu olhar...



Milão! Cidade dos Domingos afáveis, o gótico truinfante do Duomo,
a Via Dante com seus vendedores, propangandistas de Partidos, senhoras sem idade numa elegância intemporal, homens grisalhos de olhar doce, jovens serenos, estátuas humanas estendendo a mão...

Um concerto de Domingo à tarde no mítico Scala, com bilhetes entre os 5 e os 12 € !
Um praça de renascentista dignidade que nos envolve no silêncio brando das colunas de mármore.

9.4.08

VOLTEI !



Pronto, já aqui estou!
É muito bom partir para longe. E é muito bom regressar.
Pelo meio ficaram dias que pareceram anos, de tão grandes que foram. Pelas distâncias percorridas, as coisas vistas, as pessoas conhecidas.
Muito a partilhar neste espaço.

Por exemplo: Florença! Cidade sonhada, lugar mítico. A velha ponte, única no mundo! Olhando-a de longe, fotografando-a de vários ângulos, percorrendo-a, lembrava o poema de António Gedeão, dedicado a Galileu. Era difícil acreditar que eu estava mesmo ali!


POEMA PARA GALILEU


Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios.)
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.

Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria…
Eu sei… eu sei…
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileo Galilei!
(…)