28.5.12

A ARCA SEM FUNDO DO SENHOR FERNANDO



Perto de 30 000 papéis, dizem os estudiosos de Fernando Pessoa. Há anos que lá mexem e remexem, e aquilo parece não ter fundo.
Um estudioso brasileiro - José Paulo Cavalcanti Filho -  apaixonou-se por Pessoa e andou 8 anos a esgaravatar. Mas não se ficou pela arca, quis saber mais. Por exemplo, quem era o tal Esteves da Tabacaria? E que tabacaria era essa? Que farmácia "A. Caeiro" existia na Almirante Reis que Pessoa refere ter visto de relance numa ocasião em que por lá passou? E Ofélia, terá Pessoa chegado aos finalmentes sexuais com ela? A que horas certas terá nascido o Poeta, 15H15? 15H20? -  pediu  o parecer "científico" do famoso astrólogo Paulo Cardoso, que o deu e certificou: foi às 15H22!
E as cartas que escreveu para Mário de Sá-Carneiro em Paris, onde estão? Terão sido enterradas com ele?  Cavalcanti foi a Paris, revolveu os últimos testemunhos possíveis, teve esperança de uma possível inumação mas ficou a saber que de Sá-Carneiro já nada resta, nem a memória de onde estão os ossos.
O livro está cheio destas minudências que alimentam um certo espírito mórbido de leitores curiosos como eu.
É claro que os académicos e os grandes conhecedores da obra do Poeta não levam isto à paciência. Até os percebo, sobretudo quando denunciam alarvidades como essa de Cavalcanti defender que Pessoa teve, pelo menos, 207 heterónimos!




É uma questão sempre polémica: onde passa a fronteira entre a vida e a obra?
Cavalcanti defende que em Pessoa não há fronteira. Uma confunde-se com a outra.
Parece-me que a coisa é mais simples. Se tivermos como critério a ação e a repercussão social, o homem teve uma vida apagada, sem grandeza, egoísta, pequenina. Pessoa não tinha vontade, força de vontade - como ele mesmo reconhecia. Era abúlico, desorganizado, incapaz de uma ação persistente. A arca é a imagem dele: papéis a monte, mal alinhavados, muitos sem qualquer referência de data ou circunstância. Fez projetos, escreveu-os, mas não realizou nenhum. Teve ideias geniais mas foi incapaz de as concretizar. Os seus escritos teóricos são incompletos, começam bem mas ficam-se pelo esboço, à espera de melhores dias. Tudo isto se sabe há muito, já foi estudado e escrito, a começar pela biografia de Gaspar Simões.

O que parece novo no livro de Cavalcanti é a forma de abordagem. Assumidamente subjetiva, apaixonada, jogando com as palavras do próprio Fernando Pessoa para ir delineando um possível percurso biográfico. Há que ter isso em conta e descontar alguns delírios na formulação de hipóteses ousadas, é certo, como essa de ir à procura de provas da homossexualidade de Pessoa e concluir que ela existiu mas sem consumação carnal. Ora bem!
Como diz Teresa Rita Lopes: «Se deixassem este livro ser apenas aquilo que é, obra de um apaixonado colecionador de estórias, não aceitaria o pedido do Público para o criticar»

Os ecos da polémica troca de argumentos entre Cavalcanti e a pessoana Teresa Rita Lopes podem ser encontrados aqui:http://blog.umfernandopessoa.com/2012/05/critica-de-fernando-pessoa-uma-quase.html


27.5.12

TEMPO DE TEATRO



A História é uma fonte inesgotável. Mestra da vida? Quase nunca, os "homens em sociedade" não aprendem com os erros do passado.
Individualmente, sim, a História pode ser Mestra: faculta os dados necessários para compreendermos o "homem em sociedade".

A questão da subjetividade da História já é outra história. Há uma História oficial, a versão dos vencedores; e há uma História-outra, que só se revela muitos anos depois.

Questões que me levam hoje ao Teatro da Comuna, ver A CONTROVÉRSIA DE VALLADOLID": "Num convento de Valladolid, em 1550, debate-se uma questão fundamental: os índios do Novo Mundo são homens como os outros?"(Escrito às 12H00)

*   *   *   *   *
Escrito às 21H10:

Gostei da peça e da encenação.
O texto é de uma grande vivacidade: o padre Bartolomeu de las Casas ( Carlos Paulo, mais uma grande interpretação) defende a humanidade dos índios, contra Juan de Sepúlveda(Virgílio Castelo, convincente) que proclama a inferioridade deles. Um cardeal-juiz vai ouvindo e interrogando os dois contendores, centrando a discussão sobre a possibilidade de os índios terem ou não alma, serem ou não semelhantes a nós. Ouvimos com horror como foi possível defender a escravatura e a submissão de milhões de homens sob o beneplácito de uma Igreja submetida aos interesses dos poderosos. E aquilo que parece um problema de uma época recuada, chega até nós como metáfora de um presente ainda marcado pela intolerância e falta de respeito pela diferença.
Encenação sóbria e eficaz. Não há recurso a invenções experimentalistas de onde sai engrandecido um texto muito bem construído


21.5.12

IMAGENS DO MEU OLHAR - Trilho de dinossauros

Ontem dei uma volta pelos arredores. passeio organizado pelo Académico de Torres Vedras.. Objetivo: observar as pegadas de dinossauro descobertas há uns anos numa parede rochosa situada numa das colinas a sueste do Bairro Arenes. Manhã chuvosa com algumas abertas. A aproximação fez-se pelo lado mais distante, a ideia era andar alguns quilómetros antes de chegar ao objetivo.

Moinho do Aleixo em diálogo com outros moinhos. 
Em primeiro plano a lage de pedra com as pegadas de dinossauro.



Da Várzea subimos ao Moinho do Aleixo ( situado no cume do monte fronteiro ao Hospital).
Descemos às termas dos Cucos, atravessámos a estrada  e subimos a íngreme e densamente arborizada encosta sobranceira à Quinta das Fontainhas. Preciosa a ajuda do guia Dário Santos, mão segura na transposição de alguns troços complicados devido à inclinação e ao piso escorregadio.
E lá estava o trilho dos dinossauros!






O regresso foi mais fácil e rápido. Encosta suave até ao Bairro Arenes.
Na descida fui registando imagens da cidade.



Em primeiro plano a SOERAD, nova unidade privada de saúde. 
Mais longe, o castelo e a igreja de Santa Maria.


17.5.12

OPÇÕES

(MOINHOS DE GAVINHOS - PENACOVA)

"Há os que se queixam do vento. 

Os que esperam que ele mude.

E os que procuram ajustar as velas."
(autor desconhecido)

16.5.12

O CHAFARIZ ESTÁ A FICAR BONITO









O velho Chafariz dos Canos estará pronto muito em breve, questão de duas ou três semanas.
Andámos por lá, subimos aos andaimes e tirámos alguns bonecos. Ouvimos as explicações de Alexandre Sá Viana, o Técnico Superior de Conservação e Restauro. Atenção: não se trata de restaurar, refazer, substituir. Trata-se de limpar, tirar materiais desadequados (cimentos, por exemplo...) e dar um tratamento para consolidação e conservação.
Por outro lado, deve saber-se que os merlões na parte superior nunca foram em pedra mas sim alvenaria, por isso eram caiados.




                                                                       *  *  *

Mesmo em frente do Chafariz abriu uma pequena e simpática loja de gostosuras. Chama-se "DELÍCIAS DO CHAFARIZ" e pertence à Rita Correia, uma jovem corajosa que se debate com a fase terrível em que as obras ali defronte afugentam os fregueses.
Ela merece o nosso apoio. É só lá irmos e trazermos algumas das coisas muito boas que lá tem.
Olhemos e entremos:






Felicidades, Rita! Pode ser que essa loja venha a ser ainda mais qualquer coisa, a bem da divulgação da nossa História...

10.5.12

RUÍNAS





Um amigo diz-me que gosta de ruínas, são mais bonitas do que muitos prédios novos que há por aí.
Às vezes dou-lhe razão mas preciso de as pintar de sépia ou agarrar um pequeno pormenor.
Uma hera a crescer por ali talvez lhes desse o ar misterioso das ruínas dos velhos contos ingleses...

Estas, podemos vê-las no nosso Centro Histórico.

8.5.12

OUTRAS PALAVRAS


POEMA POUCO ORIGINAL DO MEDO

O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis

Vai ter olhos onde ninguém os veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos

O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com certeza a deles

Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados

Ah o medo vai ter tudo
tudo

(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)

*

O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos

Sim
a ratos


Alexandre O’Neill










Olá Manuel António Pina, Prémio Camões 2011!



Leio:



Amor como em Casa


Regresso devagar ao teu

sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que

não é nada comigo. Distraído percorro

o caminho familiar da saudade,

pequeninas coisas me prendem,

uma tarde num café, um livro. Devagar

te amo e às vezes depressa,

meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,

regresso devagar a tua casa,

compro um livro, entro no

amor como em casa.






Manuel António Pina, in "Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde"

7.5.12

IMAGENS DO MEU OLHAR - Maxial, a aldeia que já foi concelho


Vindo de Torres Vedras em direção ao Cadaval, a cerca de 8 km, encontramos o Maxial, sede de freguesia que já foi município no séc. XVII.
Bem visíveis, na parte superior do casario, o velho freixo e a fachada da Igreja.
(Fotos © J. Moedas Duarte)




 Igreja de Nª Srª da Piedade
 O bairro das andorinhas





Um freixo centenário





 Villa Iria, dos anos 20 do séc. XX, envelhece tristemente numa das ruas do Maxial. 



Memória de outros tempos...

Já foi capela de quinta...


 Em redor do Maxial erguem-se colinas muito verdes, a lembrar a serra-mãe que se ergue um pouco mais a norte - Montejunto.

*





Nos arredores da sede de freguesia, rodeada de colinas, a capela de S. Mateus, lugar de romaria em 21 de setembro

*















A fabulosa riqueza paisagística desta zona é o seu melhor ativo turístico. Ao chegar à Ermegeira, um pouco antes do Maxial, meta o viajante pela estrada da Loubagueira e vá subindo até à Ereira,  apreciando as vistas. 
Na Loubagueira, do lado esquerdo da estrada, encontra estas casas amarelas e um caminho de terra batida. Entre por aí, o piso é bom, e vai dar à capela de S. Mateus. Ah!
Não tem nada que agradecer...