22.1.12

IMAGENS DO MEU OLHAR - DA PRAIA DA VIEIRA A S. PEDRO DE MOEL











Fotos (C) Méon



Viver na Beira-Mar

Nunca o mar foi tão ávido 
quanto a minha boca. Era eu 
quem o bebia. Quando o mar 
no horizonte desaparecia e a areia férvida 
não tinha fim sob as passadas, 
e o caos se harmonizava enfim 
com a ordem, eu 
havia convulsamente 
e tão serena bebido o mar. 

Fiama Hasse Pais Brandão, in "Três Rostos - Ecos"

20.1.12

SEIVA





Serra de Montejunto - Foto (C) Méon

Ó seiva aspergindo as partículas do fogo
O lume em toda a casa e na paisagem

Daniel Faria, POESIA, 
Ed Quasi, V.N Famalicão,
2003

18.1.12

FILHOS E PAIS



A quem é visitante casual deste LUGAR NO TEMPO e mal me conhece, peço desculpa pelo tom demasiado subjetivo destes postais.  A cedência à subjetividade compreende-se se não for exagerada, um blogue não é o site de uma empresa, é um lugar de encontro.
Dito isto, aqui deixo as palavras que recolhi há pouco no espaço facebook do João: 
«Obrigado amigos! Nada disto seria possível sem vocês! Quem me conhece sabe o quão desprezo hierarquias e o quanto relativizo estas coisas. Adorei discutir a ciência com um júri constituído por pessoas que admiro. Adorei estar com os meus amigos e familiares. E é apenas isso que interessa! Hoje sou exactamente o mesmo que era ontem! Continuo a sentir-me pequenino e ignorante. Continuarei a procurar satisfazer a minha curiosidade e sempre que possível tentarei partilhar o meu fascínio com vocês. Mandaram-me imigrar mas o meu país é o mundo...»
Não resisti a escrever nos comentários:
«Quando escrevi ( em comentário anterior), "meu filho, meu pai", fiz minhas as palavras de David Mourão-Ferreira, quando um dia se abraçou ao filho, que ele (David) admirava muito. É preciso ser pai de alguém como o João para entender este aparente paradoxo.
A rela
ção parental como que se inverte. O pai, que já foi invejado/ admirado pelo filho no seu processo de crescimento e autonomia, passa a ser o admirador. O pai que já foi instrutor passa a ser instruído. O pai "que tinha sempre razão face aos desmandos irracionais do jovem", passa a ser discípulo da racionalidade do jovem que amadureceu.
É um fenómeno fabuloso!»
Acrescento ainda:

As relações pais/filhos alteraram-se com as modificações civilizacionais das últimas décadas -  assunto complexo que não cabe nesta escrita rápida.  Só refiro um aspeto: a rapidez com que as coisas acontecem leva muitas vezes a uma deterioração das relações parentais que acaba na indiferença. Cava-se um fosso entre gerações, os mais velhos imobilizados num saber que já pouco vale e os mais novos deslumbrados com a ilusão da conquista do mundo que lhes é dada pelo domínio das novas tecnologias.
Este fosso é sinal de incultura de ambas as partes e resulta de uma visão redutora da vida.
Transposto para o mundo económico, é responsável pela incapacidade de os mais velhos, donos das empresas, compreenderem e aceitarem os mais novos, portadores de ritmos e conhecimentos que eles não dominam.

Aos mais velhos pede-se cada vez mais que mantenham a mente aberta e aceitem a inovação; e aos mais novos que ajudem os cotas a adaptarem-se à vertigem da mudança.
Isto tenho aprendido com o meu filho, depois de o ter ensinado a crescer sem medo.

16.1.12

GRATO À VIDA


E a ti, meu filho João, pelo teu empenho no trabalho.
O resultado foi o Doutoramento em Geologia, hoje, na Universidade Clássica de Lisboa.

Não esqueço todo o teu percurso, em que desempenharam papel importante os escuteiros, o Espeleo-Clube de Torres Vedras, os professores que tiveste no ensino básico e secundário e, acima de tudo, os professores orientadores Pedro Terrinha e Filipe Rosas.
O meu público e sentido reconhecimento.
Tu, João, fazes parte da nova geração que alimenta a nossa esperança num país diferente, melhor...
Posted by Picasa

13.1.12

PERPLEXIDADES...




Uma recentíssima sondagem aponta para uma nova maioria absoluta do PSD em caso de eleições.
Quer dizer: a continuada fraude governativa que tantos vêm denunciando incansavelmente não afeta a maioria dos portugueses que, pelos vistos, está contentinha.

Falo com este e com aquele e a conversa é sempre a mesma: "foi a herança de Sócrates que obrigou Passos Coelho a fazer o contrário do que prometera... Ele não fazia ideia do estado em que as coisas estavam..."
Fico banzado com isto e contraponho: "Um candidato a Primeiro-Ministro não sabia em que estado estavam as coisas? A governação não é uma conta sigilosa na Suiça! A Troika, quando para cá veio em Junho, trazia os números todos e fez um programa de governo em 15 dias. Passos Coelho sabia bem o estado do país! Mas fingiu que não ( "Acabar com o subsídio de Natal é um disparate" - dizia ele). Enganou, sabendo que enganava. Ou então, o que é pior: se não sabia, era incompetente para o cargo! "

As pessoas não gostam de ser enganadas. Por isso deve haver outras razões para estes resultados da sondagem . Alguém me sabe ajudar a entender?...

Antonio Zambujo & Bulgarian Voices Angelite - Chamatea




Maravilhosa conjugação de vozes e timbres.
Apreciem...

9.1.12

NATÁLIA CORREIA E A FRAUDE SOCIAL-DEMOCRATA




É uma evidência, já dita por muita gente, e que por sê-lo deixa de ser apercebida:  a nossa vida política está inquinada desde há décadas por distorções fraudulentas que são uma das causas do seu atual descrédito. O Partido Socialista( PS) nunca foi socialista mas sim social-democrata. E o Partido Social Democrata (PSD) nunca apontou à social-democracia, sendo uma misturada sem ideologia precisa, onde quase sempre predominou a reação aos valores do 25 de Abril.

Voltei a sentir isto quando há pouco reli algumas páginas da biografia de Natália Correia - que foi deputada pelo PSD - e dei com estas palavras, intuição profética do que estamos a viver:

«Entristecia-a olhar à sua volta e verificar que se estava a cair na medio­cridade, que o povo português estava a viver contra a sua própria vontade: "muito subserviente da eficácia e da racionalidade europeia (...) devia dar-se maior valor às pequenas e médias empresas e realmente deixarmo-nos de ambições que nos alcem aos grandes padrões europeus."

Segundo ela, o Povo português deixara de ser povo para se transformar em massa e as massas são passivas. Esta atitude mata o sonho. E o introdutor desta fase apocalíptica que dá tudo por liquidado, os valores, a História, era, segundo ela, o neo-liberalismo.»

in: A Senhora da rosa – Biografia de Natália Correia, Maria Amélia Campos, Parceria A. M. Pereira, Lisboa, 2006

Que diria Natália Correia do que se passa hoje com um Governo oriundo do PSD e que adotou um programa neo-liberal que nada tem a ver com as siglas do Partido que o sustenta?
Nunca um Governo foi tão longe na trapaça, sinónimo de fraude, engano, falcatrua, embuste, logro,  velhacaria. E pergunto-me o que é feito de tantos verdadeiros sociais-democratas que havia lá pelo PSD e que ainda não há muito debitavam doutrina nas páginas do Expresso... nas redes sociais da net ou... nas páginas do jornal cá da terra, o nosso Badaladas.

6.1.12

TETAS E ENTRETENIMENTO



António Guerreiro, no último Expresso de 2011, escreveu uma crónica que não cabe em adjetivos.  Grande conteúdo em curto texto. Pequeno cálice com vintage...
O título é meu. A crónica não o tem, aparece na rubrica do autor, Ao Pé da Letra.
Com a devida vénia:




TETAS E ENTRETENIMENTO

 Se seguirmos a lição de Simmel, dando importância sociológica ao que ele chamava "manifestações de superfí­cie", a publicidade surge-nos com a eloquência patética de um sintoma: o da infantilização generalizada a que nos sujeita a sociedade capitalista na sua fase tardia. O consumidor construí­do pela publicidade é um indivíduo em estado de regressão a um narcisismo primário, em que triunfa o princípio do prazer. Dir-se-á que esse é desde sempre o princípio de toda a publicida­de e nada de novo se vislumbra. Mas não é verdade: nunca a tendência regressiva e o convite à ausência de todos os limites atingiram o grau superlativo que têm hoje, acompanha­dos, aliás, por outras manifestações de superfície, como é o caso da prolifera­ção da atividade artística.
 Como a entrada no mercado de trabalho é cada vez mais tardia ou está mesmo bloqueada, as atividades 'diletantes', que requerem o lazer, aumentam. Assim, a sociedade infantilizada pelos mecanismos da publicidade, do consu­mo e do discurso político que segue a lógica da despolitização é um imenso ateliê de ofícios artísticos. Em suma: um parque infantil. Tanta atividade artística faz-nos temer aquilo que Nietzsche exprimiu nestes termos: "Se acreditarmos que a cultura tem uma utilidade, acabamos por confundir o que é útil com a cultura" (um aviso aos que rejubilaram com a 'descober­ta', feita por alguns economistas, de que a cultura é de um grande interes­se económico).
 Está assim garantido o projeto do tittytainment — um mot-valise formado por tits, seios, no calão americano, e entertainment —, concebi­do em 1995 pelos poderosos deste mundo, reunidos em São Francisco, e destinado a apaziguar uma população de supranumerários, cada vez mais numerosa. Tetas e entretenimento, alimentação suficiente e divertimento: eis o que fazer a 80 por cento de população infantilizada e excedentária.
António Guerreiro, EXPRESSO, Ao Pé da Letra
30 dezembro 2011

5.1.12

ABERRAÇÕES

Foto (C) Méon
O vendedor explicou-me que os pintos eram coloridos porque assim as senhoras gostam de os comprar para os miúdos. Coisa bonita, de brincar.
Como é que os pintam? E depois de crescidos servem para comer?
Ah! Isso ele não sabia. Vendia os pintos e pronto.
Pronto!

3.1.12

ESTAMOS CONDENADOS? NÃÃÃ0 !

Peço licença ao meu amigo Venerando de Matos para transcrever o seu belo texto tirado daqui.
 Subscrevo-o, sobretudo no que ele tem de insubmissão.
De facto, tudo nos empurra para a aceitação acrítica do que nos impõem, em nome de chavões destituídos de rigor. E vemos como isso resulta quando ouvimos pessoas comuns, nos telejornais, em lamúrias derrotistas, submissas, de quem já interiorizou a ideia de que a crise tem em nós - povo - a sua causa.
NÃO ESTAMOS CONDENADOS! Podemos dizer NÃO ! E agir, quando e onde pudermos, para denunciar esta fraude internacional - de que o Governo português é agente - que nos está a empurrar para o abismo.


«Ainda antes de começar, este ano novo de 2012 já vem com “mau-olhado” de politólogos e economistas.
Quase todos  os comentários vão no sentido de nos anunciarem um 2012 “difícil” e “empobrecedor”.
No fundo, as “pitonisas” do costume, comentadores políticos e de economia, nada mais têm feito nestes últimos tempos do que nos anestesiar com as piores profecias para 2012.
De tanto insistirem na receita do ano miserável que nos prometem, seguindo a velha máxima de Goebbels, segundo a qual “uma mentira várias vezes repetida acaba por se tornar verdadeira”, pensam que a “populaça” aceitará, de ânimo leve  e sem reacção, o triste destino que anunciam para este ano…
Contudo, há que recordar que, ao longo da história, muitos tentaram prever o futuro e quase todos se enganaram, ou então, à custa fazerem sempre as mesmas profecias, tipo Medina Carreira,  lá acertaram uma vez por acaso.
O futuro é aquele que nós quisermos construir, mesmo que se anuncie negro e difícil.
Claro que, para os portugueses, estão na calha um conjunto de medidas que vão contribuir para fazer de 2012 um ano difícil, com mais desemprego, menos salário, mais trabalho não remunerado, leis que vão agravar a situação social, a venda ao desbarato de empresas importantes para o país, e outras medidas que são um atentado ao bem-estar dos cidadãos e à identidade do país.
Mas as crises podem também, como eles dizem, ser uma oportunidade, só que podemos surpreende-los e, em vez de construirmos as “oportunidades” que lhes convêm, começarmos a construir as oportunidades que nos afastem do mundo que eles nos querem impor.


Por exemplo, devemos repensar o nosso consumo, o que terá custos para os responsáveis pela crise que nos impingiram, os sectores financeiros e a economia franco-alemão.
Devemos também exigir o rigoroso esclarecimento sobre o destino dos nossos sacrifícios: para onde vai o dinheiro dos nossos subsídios cortados ou do nosso trabalho não remunerado, dos nossos impostos e do aumento dos preços?...
Devemos exigir ainda que os nossos governantes apresentem um plano credível para o desenvolvimento económico do país e que assumam a coragem de romper de vez com acordos europeus que sejam desfavoráveis a esse desenvolvimento, favorecendo apenas a economia francesa e alemã.
E já agora, que tenham a coragem de enfrentar os poderes instalados, os verdadeiros poderes instalados,o dos bancos e das empresas do PSI 20, que em 2011 fugiram com 11 mil milhões de euros para paraísos fiscais, para não pagarem os impostos devidos, ou condenando abertamente a falta de ética empresrial de um Jerónimo Martins, que recorre a várias manigâncias para poder continuar a ser um dos homens mais ricos do país, como agora se soube.
Por último, devemos exigir aos nossos economistas, sempre tão “brilhantes” a exigir sacrifícios, que desenhem um rigoroso plano B como alternativa à nossa presença no euro.


Enfim, isto e muito mais podemos fazer e exigir neste ano de 2012 para lhe alterar o destino.
Um Bom Ano para todos.»