30.9.09

PORQUE NO TE CALASTE, HOMBRE?


Ontem estava a ouvir o Presidente e a pensar nas pessoas comuns que não têm tempo nem dinheiro para ler jornais ou paciência para noticiários da televisão. Mas que votam e têm um sentido muito pragmático destas coisas. Que pensariam elas desta cena: um Presidente da República a dar corda a intrigalhices, numa postura ridiculamente solene, a dizer que vem partilhar com os portugueses os seus estados de alma?

Acho que foi muito triste a figura que Cavaco fez, numa altura em que já devia estar a pensar na sua responsabilidade na formação do novo governo. Ele vai ter de ser a ponte entre os líderes partidários, mantendo o nível, garantindo seriedade e rapidez no processo.
Em vez disso vem alimentar o pior da nossa política, feita à base de"factos políticos" inventados nas redacções dos jornais, eles próprios acossados pela queda vertiginosa de vendas.


Só algo de muito grave e concreto poderia justificar uma declaração tão solene do Presidente. Era o que eu esperava. Que tinha sido encontrado um sistema de escutas; ou que o assessor tinha feito algo muito grave que era necessário explicar publicamente; ou que... sei lá, algo de palpável, de real. Mas não. O senhor estava ali para "partilhar" estados de alma!
No fim cada partido interpretou o que lhe apeteceu. Desde o PSD que disse que o Presidente "tinha confirmado as suspeitas" ( e não factos!), até ao PS que achou que tinha sido vítima de uma ataque directo, passando pelos outros partidos que se declararam ainda mais confusos, exigindo do Presidente que viesse dar mais explicações...

Por último: eu esperava - por exemplo - que Cavaco viesse dizer que os computadores da Presidência tinham sido alvo de grave violação e que o proceso já fora enviado para a Justiça. Mas, que disse Cavaco? Que ontem (isto é: no dia em que vinha falar ao país!) é que os informáticos o tinham informado de "algumas debilidades" no sistema informático da Presidência. Debilidades? Mas qual a surpresa? Todos os sistemas têm debilidades, que o diga o Pentágono, ou os grandes Bancos, ou os poderosos browseres que todos usamos e são alvos constantes de hackers. Dizer o que disse Cavaco é uma pura frivolidade. Mas perigosa como gasolina numa fogueira.

Realmente!... E estivemos nós ali especados, receando pela saúde das nossas instituiições...

[Pode ler AQUI toda a comunicação do Presidente ao País]

29.9.09

MAFALDA FAZ QUARENTA E CINCO ANOS






Mafalda, a personagem de banda desenhada que o argentino Quino idealizou para um anúncio a electrodomésticos, celebra hoje 45 anos no papel de uma das mais improváveis e divertidas comentadoras políticas da actualidade.
De traços simples, cabelo negro farto e muito opinativa, Mafalda surgiu pela primeira vez a 29 de Setembro de 1964 nas páginas do semanário argentino Primera Plana. Quino, então com 32 anos, nunca adivinharia o sucesso daquelas tiras humorísticas, que se prolongaram por nove anos. Joaquin Lavado (Quino) imaginou Mafalda para um anúncio publicitário a uma marca de electrodomésticos, no qual lhe pediram que desenhasse a história de uma família típica da classe média. A banda desenhada não chegou a ser publicada, mas Quino recuperou a personagem Mafalda quando o convidaram para publicar no Primera Plana, na altura um jornal que procurava fazer uma reflexão crítica da actualidade argentina e internacional. À primeira vista, Mafalda podia ser uma menina de seis anos, reguila, desafiadora e descarada, mas depressa se percebeu que da sua boca, dos balões que Quino preenchia, saíam comentários mordazes e pertinentes sobre a ordem do mundo, a luta de classes, o capitalismo e o comunismo, mas também, de forma mais subtil, sobre a situação política e social argentina. Era a Mafalda, a contestatária e insatisfeita, "uma heroína zangada que recusa o mundo tal como ele é", descreveu Umberto Eco em 1969, num prefácio a um dos álbuns que Quino dedicou à personagem. A par da atitude de adulto mas com o desarmante discurso de uma criança, Mafalda tinha essa mesma condição de menina, que detestava sopa, adorava os Beatles, não compreendia a guerra no Vietname e tinha monólogos preocupados em frente a um globo terrestre.

(Texto da TSF online)
Já agora: a propósito deste aniversário, Venerando de Matos conta-nos uma bonita história verdadeira. AQUI.

27.9.09

VITÓRIA! VITÓRIA!

Vitórias retumbantes! Todos ganharam! Todos têm motivos para celebrar:
- "Passámos os dois dígitos!"
-"Tivemos mais votos em relação às últimas eleições!"
- "Fomos os mais votados de todos!"
- "Ganhámos as europeias, vamos ganhar as autárquicas, fica 2-1 a nosso favor!"
- " Duplicámos os deputados!"

Mas nenhum reconhece a vitória dos outros! Nenhum se mostra particularmente preocupado com os mais de 40% das abstenções. Ninguém fala dos votos nulos - que não terão sido poucos, muitos deles de protesto.

Amanhã têm de se sentar à mesa para negociarem a governabilidade de Portugal. Com que espírito lá estarão?

Uma nova esquerda é necessária, aqui e em todo o mundo, que saiba encontrar caminhos alternativos ao capitalismo mundial que arrasta a humanidade para o desastre ecológico e para o beco económico.
Em Portugal, onde está a semente desta esquerda? No BE? Não gostei do triunfalismo de Louçã e Rosas...
Na CDU/PCP? Cada vez gosto menos da sua estreiteza de vista: só os votos neles são significativos, os outros são insignificantes. Veja-se o modo como "ignoram" o aumento do BE...

De maneira que...

26.9.09

PREPARANDO O DIA DE VOTO

( Domingo - Edward Hopper )


Devoto
Vovente
Lá porei o voto
(Semente?)

Votífero
Do sufrágio
Lá porei o voto
(Naufrágio?)

Se não votar
Deboto
A côr do cidadão!

Há que pôr a mão
No voto!

25.9.09

MUITOS ANOS DEPOIS...

Alpiarça: um pequeno concelho do Ribatejo


Alpiarça, anos 50. Terra de trabalhadores rurais pobres e de latifundiários / lavradores ricos. A maioria dos rapazes que frequentava a Escola Primária, na Rua José Relvas, andava descalça e vestia de cotim, um pano delgado e desconfortável de que se riam os Invernos rigorosos e os Verões escaldantes.

A minha casa não era rica mas tinha uma vantagem: um ordenado fixo. Muito pequeno mas certo, ao contrário da esmagadora maioria daquela pobre gente, sujeita à sazonalidade do trabalho agrícola. Havia fome nas ruas de Alpiarça.

Dos meus colegas de Escola apenas ficou a memória de alguns poucos pois só lá vivi até aos 18 anos. Para mim Alpiarça passou a ser o lugar que se visita uma ou duas vezes por ano.
Um dia destes tive uma surpresa! Um desses longínquos colegas veio ao meu encontro com este texto que aqui deixo e que, a meu pedido, ele autorizou a tornar público. Ele é um testemunho tocante de alguém que soube dar a volta à vida. Depois da tropa em Angola emigrou para França. Lá comeu o pão duro dos emigrantes. Mas triunfou! Hoje vive o merecido desafogo de quem teve a coragem de lutar.

A vida, "tão curta para o tamanho dos nossos sonhos", tem a intensidade que os sentimentos e a sensibilidade lhe derem.
Querido companheiro José Vicente: obrigado por teres vindo até aqui. Um dia destes havemos de nos sentar à mesa, no "Nortenho" da velha rua onde morei, lá perto da barbearia onde os teus anos de rapaz foram gastos em barbas e cabelos de tantos que já não voltam...

Ao navegar na internet sobre tudo que diga respeito a Alpiarça minha querida terra, encontrei o teu blooger sobre Alpiarça. Fiquei contente em ver a tua foto , e a carreira que fizeste no professorado. Amei muito sobre o som dos nossos sinos da igreja, em que dizias que ainda hoje ouves esse som, pelo que li com saudades.
Pois é...... Eu também estive emigrado fora da nossa terra 35 anos, nesse tempo muitas vezes lembrava-me da nossa terra sempre com o fundo do som dos nossos sinos. Que saudades, doía cá dentro. Não tenho vergonha de dizer que muitas vezes chorei, e mais em França tinha uma vida tanto famliar como material feliz, mas faltava-me os sons, os cheiros, os amigos,o ambiente de Alpiarça.
Ao ponto assim que me reformei em França, o meu primeiro objectivo foi regressar a Alpiarça, onde comprei um lar bem perto dos sinos da igreja. Verdade deixei em França a maior parte da minha vida, minhas filhas e meus netos, eu sei que eles lá são felizes , mesmo estão felizes por saber que tanto eu como minha esposa somos felizes aqui em Alpiarça, jà hà três anos. Claro, agora vou visitá-los duas vezes por ano em França.
Bem, agora quem sou eu? Vou explicar, eu andei na escola com o Quim Zé Nascimento, assim João Mateiro, o Quim Kà Romão e eu sou Zé por alcunha o Migarola, que depois foi aprender o oficio de barbeiro, numa barbearia que ficava em frente à loja do Gabriel Fidalgo, ao lado da estação dos Correios. Não sei se te lembras de mim mas eu ainda parece-me ver o teu pai excelente pessoa o Sr. Duarte, homem de muito repeito, com uma grande mansidão no falar para toda a gente, assim como tua Mãe e irmã, e claro lembro-me de ti, bom rapaz.
Pronto, o motivo principal de te escrever porque tocou-me prefundamente foi os sons dos nossos sinos como dizias, e também senti isso là fora, e assim desabafei contigo,e ao mesmo tempo, tive prazer em entrar em contacto com o meu amigo Joaquim Duarte.Um braço de José Vicente

23.9.09

IMAGENS DO MEU OLHAR


Jardim de Belém, hoje, com um sol de Verão no início do Outono.
O Diogo e o Pedro brilharam nos olhos de um avô deslumbrado...

19.9.09


Não se trata de uma velhota que decide escrever memórias quando entrou na fase da solidão. Pelo contrário. A nossa colega professora, Isabel Pereira Rosa, nascida em 1954 no concelho do Cadaval, entendeu dar testemunho da sua vida profissional enquanto está em boas condições de o fazer. Aproveitou a aposentação induzida pelo governo Sócrates - que atingiu muitos outros professores com a sua política agressiva e injusta - e escreveu memórias com a convicção de que poderiam interessar a algúem: "talvez a colegas, a alguns ex-alunos, amigos, familiares, e a quem, menos informado sobre o que se tem passado, de facto, na educação, queira ficar mais esclarecido."
Interessam, sim senhor, colega Isabel! Para que não se perca a memória. E também como incentivo para aqueles que continuam a exercer corajosamente a dura tarefa de ser professor.
Que melhor local para o lançamento do livro?
Pois foi na Biblioteca Municipal do Cadaval, acabadinha de inaugurar meia hora antes!
Agora vamos ler...

16.9.09

AINDA ACTUAL


[ Edição recente da Ed. Tinta da China, com um bom prefácio de Eduardo Lourenço]

UM TEXTO FUNDADOR DA NOSSA MODERNIDADE

A nova estátua de Antero de Quental, inaugurada há dias em Santa Cruz (concelho de Torres Vedras), além de recordar o Verão de 1870 que ele ali passou em companhia de Jaime Batalha Reis, vem lembrar-nos a obra de um autor que abalou até aos alicerces o velho edifício mental português e abriu perspectivas de modernidade que ainda hoje estão longe de completamente realizadas.

A obra de Antero é multifacetada, desdobrando-se por textos de intenção filosófica (de que se destacam as Tendências Gerais da Filosofia na segunda metade do século XIX); de intenção poética (Sonetos e Odes Modernas); e de cariz social. Neste último grupo destaca-se aquele que, no dizer de Eduardo Lourenço, é um dos grandes textos fundadores da modernidade portuguesa: as Causas da Decadência dos Povos Peninsulares. Com ele, Antero participou nas chamadas Conferências do Casino, em 1871, que fizeram estremecer o velho e adormecido Portugal, ainda dominante apesar de politicamente constitucional. Ao lado de Antero estavam homens como Eça de Queirós, Oliveira Martins ou Batalha Reis, empenhados, todos eles, em rasgar horizontes e abater os estreitos limites da mentalidade portuguesa, emparedada entre mais de 80% de analfabetos e uma religião católica mal entendida e usurpada em proveito próprio por aristocratas e burgueses.
Logo pelo título Antero alarga o seu campo de análise à Península Ibérica, não a confundindo com essa forçada construção política chamada “Espanha” – de que Portugal, mais periférico, conseguira separar-se - fruto dos interesses dinásticos das monarquias que ignoravam a identidade e autonomia de povos tão diversos como os Bascos, os Galegos ou os Catalães.


Dois excertos do texto de Antero de Quental:

«Meus Senhores:

A decadência dos povos da Península nos três últimos séculos é um dos factos mais incontestáveis, mais evidentes da nossa história: pode até dizer-se que essa decadência, seguindo-se quase sem transição a um período de força gloriosa e de rica originalidade, é o único grande facto evidente e incontestável que nessa história aparece aos olhos do historiador filósofo. Como peninsular, sinto profundamente ter de afirmar, numa assembleia de peninsulares, esta desalentadora evidência. Mas, se não reconhecermos e confessarmos francamente os nossos erros passados, como poderemos aspirar a uma emenda sincera e definitiva? O pecador humilha-se diante do seu Deus, num sentido acto de contrição, e só assim é perdoado. Façamos nós também, diante do espírito de verdade, o acto de contrição pelos nossos pecados históricos, porque só assim nos poderemos emendar e regenerar.

(…) é nesses novos fenómenos que se devem buscar e encontrar as causas da decadência da Península. (…) são três e de três espécies: um moral, outro político, outro económico. O primeiro é a transformação do catolicismo, pelo concílio de Trento. O segundo, o estabelecimento do absolutismo, pela ruína das liberdades locais. O terceiro, o desenvolvimento das conquistas longínquas. Estes fenómenos assim agrupados, compreendendo os três grandes aspectos da vida social, o pensamento, a política e o trabalho, indicam-nos claramente que uma profunda e universal revolução se operou, durante o século XVI, nas sociedades peninsulares. Essa revolução foi funesta, funestíssima. Se fosse necessária uma contraprova, bastava considerarmos um facto contemporâneo muito simples: esses três fenómenos eram exactamente o oposto dos três factos capitais, que se davam nas nações que lá fora cresciam, se moralizavam, se faziam inteligentes, ricas, poderosas, e tomavam a dianteira da civilização. Aqueles três factos civilizadores foram a liberdade moral, conquistada pela Reforma ou pela filosofia; a elevação da classe média, instrumento do progresso nas sociedades modernas, e directora dos reis, até ao dia em que os destronou; a indústria, finalmente, verdadeiro fundamento do mundo actual, que veio dar às nações uma concepção nova do Direito, substituindo a força pelo trabalho, e a guerra de conquista pelo comércio.»

14.9.09

ANTERO: VOZ IMENSA QUE NOS CHEGA DO PASSADO





Estátua de Antero de Quental na praia de Santa Cruz - Torres Vedras

(...)

É imensa a vida,
Homens! não disputeis um raio escasso
Que vem daquele sol; a ténue nota,
Que vos chega daquelas harmonias;
a penumbra, que escapa àquelas sombras;
O tremor, que vos vem desses horrores.
Sol e sombras, horror e harmonias
De quem é isto, se não é do homem?!

Não disputeis, curvado o corpo todo,
As migalhas da mesa do banquete:
Erguei-vos! e tomai lugar á mesa...
Que há lugar no banquete para todos:
Que a vida não é átomo tenuíssimo,
Que um feliz apanhou, no ar, voando,
E guardou para si, e os outros, pobres,
Deserdados, invejam - é o ar todo,
Que respiramos; e esse, inda mais livre,
Que nos respira a alma - a terra firma.
Onde pomos os pés, e o céu profundo
Aonde o olhar erguemos - é o imenso,
Que se infiltra do átomo ao colosso;
Que se ocultou aqui, e além se mostra;
Que traz a luz dourada, e leva a treva;
Que dá raiva às paixões, e unge os seios
Com o bálsamo do amor; que ao vício, ao crime,
Agita, impele, anima, e que à virtude
Lá dá consolações - que beija as frontes
De povo e rei, de nobre e de mendigo;
E embala a flor, e eleva as grandes vagas;
Que tem lugar no seio, para todos;
Que está no rir, e está também nas lágrimas,
E está na bacanal como na prece!...

Antero de Quental, in 'Odes Modernas - Vida'

ANTERO DE QUENTAL SUICIDOU-SE NUM BANCO DE JARDIM EM 11 DE SETEMBRO DE 1891

(...)

Assim a vida passa vagarosa:
O presente sempre a aspirar ao futuro:
O futuro, uma sombra mentirosa.

(Antero de Quental)

11.9.09

PERPLEXIDADES DO HOMEM COMUM

1.
Obama cai estrondosamente nas sondagens. Porquê? Ao que parece, não consegue fazer passar a mensagem de que as suas propostas para a saúde são benéficas. Muitos americanos estão de tal modo viciados nos mecanismos liberais que qualquer cheirinho a política social é conotada com perigoso esquerdismo. 50 milhões não têm acesso à saúde? Problema deles... é porque não percebem as sagradas leis do mercado!


2.
O senhor A esforça-se por ser um cidadão informado: lê as colunas de opinião de jornais e revistas de referência, segue atentamente os debates, até lê alguns livros de economia e política.
O senhor B não quer saber da política para nada, acha que são todos uns ladrões, gosta é de bola na TV e uns copos com os amigos para discutir as tácticas dos treinadores.
Dia 27 lá vão os dois votar. O voto do senhor A tem exactamente o mesmo valor do voto do senhor B.

3.
Leio o programa do partido X e parece-me cheio de boas intenções. Leio o do partido Y e acho que é equilibrado. E pego no do partido Z e subscrevo quase tudo - porque há lá coisas que só os economistas tentam perceber... e mesmo assim... Vou ao programa do partido V e também concordo. Mesmo assim falta-me ler os programas de mais não sei quantos partidos.
Olho para o lado e não vejo ninguém a ler programas nenhuns. Mas quase toda a gente tem uma opinião... que ( para usar uma classificação de Fernando Pessoa ) se baseia no hábito, na intuição e na inteligência.


4.
Mas é melhor que se baseie apenas no hábito ou na intuição. Porque a inteligência só serve para complicar. Volto a Fernando Pessoa:
« Acresce que, como não há ciência social, não pode haver cultura sociológica. Se houvesse, como haveria, sobre os pontos mais simples e essenciais da vida social, divergência de opiniões entre homens da mesma cultura? Em que é que a cultura em geral, e a cultura sociológica em particular, orientam socialmente, se o prof. A, da Universidade de X, é conservador, o prof. B, da Universidade de Y é liberal, e o prof. C, da Universidade de Z, é comunista? De que lhes serve a cultura se entre si divergem num congresso do mesmo modo que três operários numa taberna?» (In "O Interregno", Edit. Nova Ática, Lx, 2007)

5.
Texto provocatório! E não (nos) será provocatório ouvir o candidato MFL dizer que ela é que fala verdade; e a seguir ouvir o candidato FL falar da sua "verdade dos números"; e JS proclamar a verdade dos seus pontos de vista; e JS com a sua verdade; e PP com a sua...?
Aqui o senhor B encolhe os ombros e vai beber mais uns copos diante da TV. E o senhor A tenta arrumar a papelada e as ideias na cabeça. Mas desespera.

6.
Ouvi há pouco a opinião intuitiva da senhora que limpa semanalmente as escadas do prédio:
"Olhe, senhor M., eu só preciso de ver quem é que cada um deles defende, com quem é que eles andam... "
E como é que sabe com quem eles andam?
" Não sou parva, eu bem os vejo na televisão..."

7.
Onde é que eu entro nas sondagens?

9.9.09

O QUE DIZ OBAMA

O discurso aos alunos, no início do ano escolar, vale a pena ser lido e dado aos alunos. Em vez de "testes diagnósticos" da treta - que o são muitas vezes... - ponha-se este texto nas mãos dos alunos. E que eles digam o que acham...

http://www.ionline.pt/conteudo/22105-leia-e-guarde-esta-licao

É apenas uma sugestão...

8.9.09

7.9.09

INSUPORTÁVEL !



Por mim não calo a indignação. Interrogado sobre a utilização de meios do Estado para uma actividade partidária na Madeira - em que participou a senhora M F Leite - Alberto J Jardim respondeu com todas as letras: "Fuck them"! ( "Que se fodam" ).
Este homem é Conselheiro de Estado! A senhora Manuela quer ser primeira-ministra!
E atrevem-se a tratar-nos assim?
(Ver AQUI também)
APENAS POSSO GRITAR A MINHA REPULSA E INDIGNAÇÃO !

EXACTAMENTE !

" A cultura não existe para enfeitar a vida, mas sim para a transformar - para que o homem possa construir e construir-se em consciência, em verdade e liberdade e em justiça"
Sophia de Mello Breyner Andersen

5.9.09

HOMENAGEM A FRANCISCO LEMOS


Francisco Lemos dedicou toda a sua vida às artes decorativas, com especial incidência na cerâmica. Nascido no Bombarral, fez tropa em Angola e aí ficou alguns anos. No regresso a Portugal, enveredou pela carreira de professor, em que se notabilizou pelo entusiasmo e criação de actividades diversas com os seus alunos. Nas horas em que devia descansar dessa actividade manteve um atelier - Argilemos - onde realizou uma obra vasta que abrangeu peças soltas, baixos relevos e painéis de grandes dimensões.
Morreu de cancro aos 52 anos, em 10 de Agosto de 1994.
Foi hoje inaugurada uma exposição de algumas das suas peças na Galeria Municipal Paços do Concelho, em Torres Vedras, que estará patente ao público até 28 de Novembro de 2009.

Conheci Francisco Lemos na Escola Preparatória P. Francisco Soares, em 1976. Lembro o empenho dele na participação em actividades inter-disciplinares. Inesquecível a produção de um filme em Super8, em colaboração com a professora de Língua Portuguesa, Maria Manuela Gonçalves. O filme baseava-se no texto de Alves Redol "Constantino, Guardador de Vacas e de Sonhos" e os actores eram alunos da escola.
Mais tarde, já nas novas instalações da Escola, aproveitou as horas de apoio à Biblioteca para criar um clube de Xadrês, actividade que mobilizou um número significativo de alunos. Simultaneamente fazia o restauro dos livros que se encontravam mais deteriorados.
Transcrevo as palavras de Carlos Miguel no Catálogo da exposição:
"Passados quinze anos sobre a partida de Lemos, é bom voltar a estar com ele, de o ter à nossa volta. Obrigado Lemos!"



(Fotos do Catálogo da Exposição)

DECLARAÇÃO

Eu, na plena posse das minhas dificuldades em perceber o país em que vivo, declaro que não me responsabilizo pelos comportamentos dos meus primos, sobretudo os que forem conhecidos através de cartas anónimas.
Assinatura (reconhecida pelos meios legais)

3.9.09

OBRIGADO, FERNANDO FABIÃO


JANELAS

há janelas que dão para o lado
da alma
e tornam o mundo transitável

recolhidas, por culpa do vento
e morosas naquilo que anunciam:

uma vida selada
pelo sopro do amor.

(Fernando Fabião)


Fotos © Méon - Capela de Nª Srª dos Milagres, Dois Portos, Torres Vedras

1.9.09

ISTO DIGO EU... (5)



A propósito do post anterior, um leitor anónimo deixou este comentário ( só não publico os que considero ofensivos ou mal-educados...) :


"O problema dos rachados, meu caro ex-camarada, não é o de se afastarem do partido, mas o de se entregarem a outros, onde têm melhor pasto para a sua ambição e vaidade."


Acho muito elucidativo porque revela a mentalidade tipicamente intolerante e anti-democrática da maioria dos militantes comunistas. Intolerante porque, se aceita o meu afastamento do PCP, já não aceitará o facto de eu eventualmente me "entregar a outros". Isso fará de mim um "rachado", termo acintoso e, até, ofensivo.
Anti-democrático porque não admite o pluralismo partidário, porque considera que só o PCP tem a verdade e os outros são apenas veículos de ambição e vaidade.


O que daqui resulta é que o PCP se torna religião - muitos vivem a militância como tal -, com dogmas, hierarquia, catecismo, rituais, hinos, literatura beata e ex-comunhões. Um "rachado" é um ex-comungado. E tal como na Idade Média a vida de um ex-comungado se tornava num inferno - com proibições, enxovalhos e descriminações de toda a ordem até à destruição total - nos anos 20 e 30 os dissidentes comunistas da URSS eram eliminados depois de processos em tudo semelhantes aos medievais. Se hoje a Igreja já não faz o mesmo é porque entretanto houve uma longa luta dos povos pela libertação, que culminou na Revolução Francesa. Do lado comunista foi a implosão da URSS nos anos 80 que levou à secundarização dos PC's nas sociedades ocidentais e à impossibilidade de eliminar fisicamente os "infiéis". Mas, tanto de um lado como doutro, é ainda muito forte a mentalidade persecutória. Pudessem eles...


Fui educado numa família profundamente cristã/católica, frequentei o Seminário dos Olivais e afastei-me da prática religiosa porque me tornei agnóstico. Tendo crescido numa terra de fortes tradições de luta anti-fascista, foi natural a minha adesão ao PCP na idade adulta. Nele militei, tentando imitar a generosidade de quase todos quantos conheci naquele partido, gente convicta, abnegada. Mas acabei por sair em 1985, aquando da candidatura de Maria de Lurdes Pintasilgo à Presidência da República, que o PCP hostilizou. Comecei a sentir-me mal com a incapacidade do PCP para lidar com os outros partidos que: ou são de direita ou são de radicais que fazem o jogo da direita. Os partidos aceitáveis são os que se assumem como satélites do PCP. Caso dos Verdes a cujo nascimento assisti e que foi "cozinhado" dentro do PCP...


Provavelmente já alguém fez um estudo comparativo entre o extremismo católico e o seu congénere comunista. Gostava de o ler. Para confrontar com a minha experiência de vida.
Guardo para outro dia mais alguns dizeres sobre estas questões.Nomeadamente sobre a contradição entre a bondade individual da grande maioria dos militantes católicos e comunistas e o poder sinistro das organizações a que pertencem.
Por hoje deixo apenas uma frase que retirei de um catecismo católico e que define o que é o pior pecado que o Homem pode cometer, o chamado "pecado contra o Espírito Santo":


"Negar a verdade conhecida como tal, quando o pecador de tal modo se entrega conscientemente à mentira a ponto de acabar acreditando na mentira como verdade, e, por isso, recusa até a evidência da verdade."


Nos processos estalinianos os condenados tinham exactamente este comportamento: negavam a verdade do Partido, entregavam-se à mentira de outras posições partidárias, acreditando nelas e negando a evidência de que só o Partido tinha posições políticas correctas. E antes que levassem outros a acreditar nas suas mentiras, eram condenados à morte e eliminados. Aos milhares. Em nome da verdade.
Era o que me aconteceria provavelmente, para castigar a minha ambição e a minha vaidade...

Isto digo eu... não sei...

When the deal goes down

O meu amigo L T lembrou-me este tema do Bob Dylan.
A ouvir na penumbra...