22.1.10

O SIM E O NÃO


"Pessimismo e Optimismo", Giacomo Balla, 1923


O Venerando,AQUI    /   O Cantigueiro Samuel, AQUI   /   Juvenal, AQUI  /   Cid Simões, AQUI

Nas palavras que vou lendo encontro a indignação, a denúncia, a revolta. Um apelo à sublevação interior na forma de consciencialização e a crença de que isso significará passagem à acção transformadora.
Admiro o optimismo destes "crentes", a persistência na ideia de luta. Pelos interstícios, é certo, assoma aqui e ali a impaciência face aos "lorpas" que se deixam manobrar, aos "fracos" que abandonaram a primeira linha.
Mas admiro, de facto, a generosidade destas palavras que nos fazem crer que todo o homem é bom, só uma minoria é corrupta e exploradora da maioria. O que me leva a ter saudades do tempo em que, também eu, tinha essa fé inocente na bondade do ser humano, no bom selvagem que todos somos quando saímos à luz após os nove meses de paraíso.

O que me fez mudar?
O estudo da História. Longe de me confortar com a ideia de que a Humanidade caminha do escuro para a luz, esse estudo mostrou-me que, quase sempre, o homem é lobo do homem. Só uma minoria se eleva acima da lei da selva e compreende que a Humanidade pode ser outra coisa.
É certo que houve progressos, mas eles apenas chegaram a uma minoria da Humanidade.
Ao ler e reler Raul Brandão ( "A história é dor, a verdadeira história é a dos gritos"...etc), sinto que o mais profundo do meu sentir a História está aqui bem expresso. Vem ao encontro do que penso e sinto.

Optimismo, apesar de tudo?
Sim! Por imperioso dever cívico. Porque o pessimismo não melhora as coisas.
Cerrar os dentes e calar o negrume das palavras de desistência. Porque...« é preciso acreditar que SIM, apesar de sabermos que  NÃO..."

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Já depois de ter publicado este post, peguei casualmente num livrinho com textos dispersos de Fernando Pessoa, intitulado "Sobre a República". Logo numa das páginas iniciais encontro isto:

« Toda a tristeza é reaccionária; todo o pessimismo é retrógrado - porque, como sentimentos, pertencem sempre à corrente social que é desintegrante na vida das sociedaddes.»

Tudo dito!

2 comentários:

Unknown disse...

Méon,

um post interessante este.Sobretudo porque se o discurso se reparte entre o sim e o não...a pintura escolhida pertence a um dos nomes mais representativos da vanguarda FUTURISTA!!!!
Claro que daria "pano para mangas" a discussão dos conceitos aqui revisitados, mas para além do Futuro, também o Presente nos chama. Porque a vivência pode ser um sinal de equilíbrio.E nele nos reencontrarmos.

Beijinho.

Venerando António Aspra de Matos disse...

Gostei do que escreveste e, ao contrário do que possas pensar, também penso como tu.
Isso não impede que me mantenha acutilante e atento às injustiças que nos cercam.
Aquilo que escrevo pode não passar de pequenas alfinetadas, mas espero que incomode, mesmo que por vezes me exceda nas palavras.
Continua a escrever e a incomodar-nos.
Um abraço.

Venerando