7.6.12

AUSÊNCIA?

Tenho andado ausente daqui.
As estatística diárias informam-me que, apesar de tudo, há um grupo de fiéis visitantes a quem devo, pois, uma breve explicação. Sim, este espaço é uma partilha, um encontro. Como não vou palrar para o café, entretenho-me por aqui e gosto de saber que há quem passe e se detenha um pouco.

Mas então, porquê a ausência?
Desalento, descrença, revolta, indignação - tudo se mistura. Tenho por aqui muitas "imagens do meu olhar" que gostaria de vos mostrar mas não me sinto com coragem para isso. Que interessa o meu olhar quando outras realidades, inquietantes e brutais, se agigantam em meu/nosso redor?

Revolta, sim! Indignação, cada vez mais! Que outra coisa posso sentir quando vejo o chefe do Governo de Portugal a brindar com champanhe ao "êxito" deste primeiro ano de "reformas estruturais", e o ouço elogiar a paciência e a mansidão deste extraordinário povo que suporta com estoicismo estas medidas tão necessárias - diz ele - e que nos levarão ao grande futuro que ele nos promete?

A crónica de hoje de José Gil na VISÃO diz muito do que sinto. Transcrevo algumas passagens:


«O ambiente pantanoso em que nos mergulharam os mais recentes «casos» («Relvas», «secretas») não nasceu por acaso. Para onde vamos? Para onde estamos a ir? Ninguém poderá dizê-lo, com certeza firme. Além da instabilidade política e financeira da Europa, há uma razão só nossa para isso: o esbatimento acelerado da dimensão política da governação portuguesa.» 
(...)
O único eixo aparentemente coerente é a política de austeridade. Com uma só di­visa, «mais e mais austeridade sempre que se puder e aonde se puder», que age como um «significante» despótico, sugando tudo e todos, os próprios ministérios, a luz, a água, o ar, a vida, as capacidades cria­tivas, o trabalho, a cultura e a arte. Estreita os horizontes, recalca as energias, afoga o pensamento e torna o país mais estúpido. 
(...)
Nestas condições, que consistência podem ter as reformas estruturais? Nenhuma. No entanto, destas, esperava-se a mudança. Que ideia coerente as une a todas para que nos dêem uma visão do futuro? Nenhuma. Que se vai fazer na justiça que permita o investimento, que ajude a economia, que diminua o desemprego, que favoreça a educação, que melhore o SNS e traga um mínimo de ética intocável à vida do Estado (e o mesmo para cada um desses domínios)? Nada que se veja.
Por tudo isto, um sentimento domina os espíritos: abandono e impotência. Não há um fosso entre o Governo e a população porque o Governo desvaneceu-se politicamente. Foi o preço que pagou pela obediência submissa e solícita aos ditames da troika. Esta governa, mas por interposta pessoa - e é uma instância longínqua e indefinida, não serve de «interlocutor» ao povo português.
Entregue a si mesmo, este sente-se, material e imaterialmente, espoliado. O pântano político atual em que vagueamos, semiperdidos, nasceu da falta de uma vontade democrática forte, de uma liderança imune a todo o tipo de complacências que afirme, na Europa, a soberania política e a nobreza do país. Para onde vamos? O horizonte é desolador. Os bons exemplos que nos apresentam nem são exemplos (generalizáveis) nem compõem uma massa crítica. E que não se diga que isto é pessimismo, porque essa é a palavra dos que só têm discurso (dito «positivo») e que, com ela, escondem a falta de ideias.»




1 comentário:

lis disse...

Oi Méon
Não sou tão assídua como gostaria,mas gosto muito de vir aqui no seu espaço ler suas postagens e costumo ficar horas a ver não só a do momento como as demais.
É um espaço precioso e o tempo que me ocupo aqui também, aprendo, me delicio com suas escolhas , suas fotos das cidades que pelo seu olhar vou visitando.
Obrigada, e nao nos deixe nem desanime .
Fico triste pela crise econômica que assola seu País, venho lendo e acompanhando.Precisam prosseguir, também já tivemos por aqui tempo difíceis.Felizmente tudo tem seguido num ritmo controlado ,apesar das diferenças brutais e da corrupção que é uma doença cronica.
Conseguimos uma Presidente preocupada com a classe média e se nada está bom , também nao temos recessão de salários e alimentos.
Espero que tudo tome rumos certos e voltem a ser uma Pátria abençoada.
um abraço Méon