3.1.15

DOIS POEMAS DE FERNANDO FABIÃO



Conheço lugares 
que não vêm nos mapas
lameiros acesos pelo labor solar
dos camponeses.
Casas, arquitectura de infância
fio de prumo, adobes e sombra
de estrelas.

Conheço lugares
macerados pela melancolia
fragas expostas à linguagem feroz
do abandono
haste de cereal, alvíssima.

Territórios de xisto, manchas de musgo
pólen anunciando a doçura furtiva do mel.

Conheço lugares
escritos pelo pensamento límpido
de Deus.




O ano de 2014 chegava ao fim. Mais uma vez Fernando Fabião vem trazer-me o aconchego das palavras.
Leio devagar o teu poema. Leio muito devagar.
Os teus lugares estão para além do tempo
Como agradecer-te, meu querido poeta?



Tenho cabelos brancos
    cor de prata
    cor de pranto
    cor de cal

Atravesso os dias devagar
levo nos bolsos recados
uma velha canção
um pião que gira em redor do azul

Tenho cabelos brancos
    uma gramática precária
    o olhar pousado no sono do mundo

E não sei nada.



3 comentários:

Albertina Granja disse...

Ambos os poemas são lindos...
As fotos...,que tão bem ilustram as palavras/pensamentos de Fernando Fabião..., não podiam ser melhores...!!!
Feliz 2015
Albertina Granja

Joaquim Moedas Duarte disse...

Olá, Albertina.
Muito belos, os poemas, deste poeta quase desconhecido, natural de Torres Vedras e residente em Mafra.
As fotos são da net, naturalmente.

Para si, desejo igualmente um bom 2015.

Alfredo Rangel disse...

Fantástico...
Extraordinária magia que acabo de conhecer.