22.9.11

JANELA, MALUDA E O'NEIL

Maluda, Janela 38 (Elevador da Bica) de 1997

PERSIANA PARA JANELA DE MALUDA
Alexandre O'Neil

Esta janela já não tem enredos,
ninguém por ela espreita, ninguém espera
vê-la semicerrar, semiabrir
o olhoblíquo verde do ciúme;

nem por ela passarão as trajectórias
do suicida e do escalador.
Romeu morreu e a doce expectação
de Julieta é comprimido sono.

Sequer uns braços nus de janeleira,
hasteAda brancura, nela podem
demorar o gozo dum voyeur,
que esta janela já não serve para...

Esta janela é uma finta, é uma jogada
no xadrez de quem a pinta e assina.



Alexandre O'Neil, POESIAS COMPLETAS 1951/1983,
Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2ª ed. Lx 1984






2 comentários:

Isamar disse...

Quantas saudades do poeta e da pintora. Sintonia perfeita entre o poema e a janela.

Bem-hajas!

Abraço fraterno

Branca disse...

Dois grandes valores, tantos que aos poucos se vão perdendo, de uma época áurea da criação nacional.

Fica o seu talento, a sua obra que há-de ser sempre reconhecida, mesmo que temporáriamente esquecida.

Beijos